Crônica da Cidade: A militarização das escolas

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O GDF quer expandir militarização para 36 escolas este ano, informa a manchete do Correio. Em primeiro lugar, é preciso distinguir duas propostas: a das escolas militares e a da militarização do ensino. As escolas militares são de qualidade indiscutível, e, além disso, cultivam valores positivos, de disciplina, de respeito e abnegação.

Não sou contra as escolas militares. Elas são importantes e necessárias, principalmente para quem as escolhe ou pretende seguir carreira. Admito, inclusive, que em certos locais, dominados pelo tráfico de drogas, a estratégia militarizada pode funcionar do ponto de vista da disciplina. A Unesco alerta, no entanto, que o entorno e o caminho para a escola e a volta representam graves ameaças de violência para os estudantes.

Mas, militarizar as escolas do DF em massa, como pretende o governo, me parece um projeto descabido, pois, afinal, estamos em uma democracia e não em uma ditadura. Não se pode impor um modelo único a toda a sociedade. Se isso é possível, por que não um modelo católico ou evangélico, que mantém excelentes escolas, também com normas de conduta rígidas?

É uma atitude demagógica e desrazoada. Revela uma completa ignorância sobre as questões de educação. Alega-se que a força policial só cuidará da disciplina e das matérias relacionadas à ética e a moral e cívica. No entanto, o caráter ideológico da empreitada se desnudou no primeiro dia de aula em uma escola da Ceilândia, quando foi apagado um mural sobre Mandela, líder pacifista africano de renome mundial: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”, diz a frase de Mandela no muro ao lado do grafite.

A imagem que um país tem dos docentes influi no desempenho de suas tarefas. Como romper com as trevas da ignorância (o nosso país ocupa os primeiros lugares neste ranking) sem a mediação de mestres do saber, que iniciam e encaminham na trilha do conhecimento?

A revista Superinteressante publicou uma pesquisa sobre o desprestígio dos professores. Só um em cada cinco brasileiros recomendaria a carreira de professor a um filho. Em um ranking de 35 países, o Brasil segurou a lanterna das nações que menos valorizam os seus professores, segundo pesquisa da Varkey Foundation, instituição dedicada a melhoria da educação infantil. No contexto dos países da América do Sul, ficamos atrás da Argentina, da Colômbia, do Peru e do Chile.

Quase todos os países que ocupam lugar de destaque no topo do ranking do desenvolvimento se distinguem pelo respeito aos professores: China, Coreia do Sul, Rússia, Canadá e Finlândia. Em entrevista concedida à BBC, Sunny Varkey, o criador da fundação, sustenta: “Podemos, agora, afirmar sem dúvida alguma que respeitar os professores não é importante apenas como obrigação moral, é essencial para os resultados educacionais de um país”.

Espero que a Câmara Legislativa local e o Ministério Público não se acovardem e barrem essa proposta absurda, antidemocrática e inconstitucional. Não prestigia os policiais militares e desmerece os professores.

O que ambos profissionais precisam é de salários e condições de trabalho dignas. Seria bom evitar propostas que soam como um ensaio para uma ditadura. Ninguém pode impor um pensamento único à educação na capital do país. Isso seria motivo de piada e vergonha para Brasília.

Severino

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