Se você já foi fotografado por Mila Petrillo, pode anotar: os deuses têm alguma simpatia por você. Ela escolhe sempre o ângulo mais favorável, o aspecto mais relevante, a luz mais reveladora.
O mundo fica mais alegre, agitado e delicado quando Mila chega. Ela é animada por uma afetuosidade barroca, excessiva, indiscreta, que beira o escândalo. Poderia se contentar em ser uma grande personagem, mas é também uma excelente fotógrafa.
Alguém já disse, com muita perspicácia: existe o Sebastião Salgado e a Mila doce. A brincadeira com o fotógrafo internacionalmente famoso pode ser esclarecedora. Enquanto ele optou por uma abordagem crua para denunciar as mazelas sociais, Mila encontrou nos projetos de arte-educação os temas e os personagens ideais para expressar a sua sensibilidade amorosa, terna, maternal e mística.
Carioca, filha de mãe comunista e pai cineasta, Mila registrou, com olhos de artista, durante as décadas de 1980 e 1990, imagens dos principais personagens, peças, shows e espetáculos de Brasília, em uma época de grande efervescência cultural. Alguém deveria publicar um belo livro com esta produção.
Em 2007, ela lançou o livro Arte de transformação, editado por Bené Fonteles (Ed. Sesc São Paulo), revelando o trabalho de 50 organizações não governamentais que desenvolvem experiências inovadoras de arte-educação em vários pontos do país.
São as únicas instituições que retiram as crianças e os adolescentes da rota da violência, do tráfico de drogas e do tráfico de asneiras midiáticas e virtuais.
Em vez de armas, as crianças e os adolescentes portam violões, violinos, flautas, tambores ou movimentos de dança alados. Atualmente, Mila mora na Chapada dos Veadeiros, mas continua fotografando projetos de arte-educação por vários pontos do país.
Mila Petrillo/Projeto Cria, Salvador
Mila é de uma generosidade absurda, insensata e irresponsável. É uma entidade da alegria, da beleza e do otimismo. Tem o poder de imantar pessoas e ambientes com a sua simples presença. Se os fatos não correspondem às suas expectativas, pior para os fatos.
As suas fotos são multimídias, têm algo de cinema, pintura, escultura, música e dança. Ela procura extrair o que há de melhor e de mais belo em cada criança ou adolescente. E essa não é (ou deveria ser) a essência de todo o processo de educação, mais do que qualquer burocracia pedagógica?
Na virada dos anos 1970, Mila morava em Goiânia, era ligada ao movimento hippie e resolveu se mandar com uma amiga rumo ao destino preferido dos adolescentes na época: São Francisco, na Califórnia. Para tanto, juntou cuidadosamente cada centavo que ganhava.
Quando julgou que a grana era suficiente para se lançar à aventura, chamou uma amiga e a duas botaram o pé na estada. Ocorre que Mila é louca por jabuticaba e, ao passar por Hidrolândia, capital da frutinha na região, avistou uma floresta de árvores carregadas da preciosidade.
Ela é de touro e, como se sabe, a gula é um dos pecados capitais dos que nasceram sob esse signo. Não resistiu à tentação, comprou um pé de jabuticaba e se deliciou com a frutinha preta até limpar os galhos. É claro que, com isso, evaporou-se toda a grana reservada para ir até São Francisco, e ela voltou para a casa da família em Goiânia.
Durante muito tempo, quando passava de carro por Hidrolândia, o pai da Mila apontava para os fatídicos pés de jabuticaba e comentava, com um ar grave e cínico: “São Francisco, Califórnia”.
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