Mediúnica com Sartre

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Arquivo publico do DAESP/Divulgacão. Jean-Paul Sartre: filósofo do liberdade.

Severino Francisco

Em nome da liberdade, se cometem hoje muitas irresponsabilidades. Por isso, esta coluna publica uma entrevista mediúnica exclusiva com o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre, para quem a liberdade é o fundamento da vida humana. Fala, mestre.

O que quer dizer colocar a liberdade no centro de nossa vida?

Você é livre, escolha, quero dizer, invente. Antes de viverdes, a vida não é nada; mas de vós depende dar-lhe um sentido, e o valor não é outra coisa senão esse sentido que escolherdes.

Como assim?

Estamos sós e sem desculpas, é o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si próprio; e no entanto livre, porque uma vez lançado no mundo, é responsável por tudo quanto fizer.

Mas isso não pode levar a uma onda de irresponsabilidade?

Quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua estrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens.

Quais as implicações dos atos individuais sobre o interesse coletivo?

Certamente muitas pessoas acreditam que ao agirem só implicam a si próprias, e quando se lhes diz: e se toda gente fizesse assim?, elas dão de ombros e respondem: nem toda a gente faz assim. Ora, a verdade é que devemos perguntar-nos sempre: o que aconteceria, se toda a gente fizesse o mesmo?

Mas não existem as circunstâncias que favorecem ou tolhem a nossa liberdade?

O essencial é a escolha. A vida de um escravo que se rebela e morre no curso da sublevação é uma vida livre. Nós somos o que fazemos do que os outros fazem de nós.

E se uma pessoa é covarde?

Não há temperamento covarde. O que diz o existencialista é que o covarde se faz covarde, que o herói se faz herói; há sempre uma possibilidade para o covarde de já não ser covarde, como para o herói de deixar de o ser.

Poderia dar um exemplo do que chama de má-fé?

As circunstâncias foram contra mim, eu valia muito mais do que aquilo que fui. É certo que não tive um grande amor, ou uma grande amizade, mas foi porque não encontrei um homem ou uma mulher que fossem dignos disso, não escrevi livros muito bons, mas foi porque não tive tempo livre para o fazer. Não tive filhos a quem me dedicasse, mas foi porque não encontrei o homem com quem pudesse realizar a minha vida.

E o que o senhor diria para essa pessoa?

O homem não é mais que a sua vida.

O que acha do futuro da humanidade? Podemos descambar para o fascismo?

Sendo sabido que estes homens são livres e que decidirão livremente amanhã do que será o homem; amanhã, alguns homens podem decidir estabelecer o fascismo; e os outros podem ser suficientemente covardes e desorganizados para consentirem nisso. Na realidade, as coisas serão tais como o homem tiver decidido que elas sejam.

Em suma, o que é liberdade?

Liberdade é responsabilidade.

O existencialismo não é uma filosofia pessimista?

Não, pelo contrário, é otimista, é uma doutrina da ação e da responsabilidade, mostra que o nosso destino está em nossas mãos.

Severino

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