Amanda Nunes e Ronda Housey/Crédito: Christian Petersen/Getty Images/AFP
Severino Francisco
Prezadas leitoras, prezados leitores
que apreciam a arte dos gladiadores
e gostam de um toque de adrenalina
queiram sentar-se em suas poltronas
pois vou desfiar uma fina trama
com muitos lances de melodrama,
comédia, transe familiar, suspense,
pancadas, tapas, beijos e nonsense.
Andréia ficou desesperada
porque o filho apelidado Jajá
se meteu a ser lutador de MMA.
Empertigado, 1,90m e muita bossa,
aos 20 anos, Jajá era casca-grossa
com uma saúde de vaca premiada
capaz de topar qualquer parada
sem poder reclamar da sorte
morava com a mãe na Asa Norte.
Tudo corria em um curso regular;
Jajá gostava de se divertir e de estudar,
mas, lá pelas tantas, um belo dia
resolveu entrar em uma academia,
começou a malhar em ritmo pesado
e a assistir pelas ondas da tevê
às lutas dramáticas do UFC.
Só que, para desespero de Andréia,
insinuou-se de veneta uma ideia
que não abandonou mais o pobre Jajá:
“Mamãe, quero ser lutador de MMA!”
Andréia é uma afável mãe mineira
que trabalha fora, cuida da casa,
lava as roupas e ainda faz a feira;
que gosta de arte e assa pão de queijo,
e não deixa os filhos saírem de sua asa
sem um abraço, um afago e um beijo.
“Em carinha que mamãe beijou,
vagabundo nenhum vai tocar,
não seja besta, eles vão te massacrar”,
tentou argumentar a sensata Andréia,
mas Jajá não abdicava da panaceia.
Então, ela resolveu pedir a um amigo
faixa preta e campeão de artes marciais
para que alertasse sobre os perigos reais.
Todavia, Jajá ignorou o amigo de Andréia,
por nada renunciava à obsessiva ideia
de reinar soberano no octógno do MMA
e ouvir Bruce Buffer se esgoelar:
“In this corner, the champion Jaaaaajá!”.
E de sentir a mulherada assediar:
“Autografa a minha perna, Jajá!”
Sem saber o que fazer, Andréia
apelou às elevadas instâncias,
salvação para a delicada circunstância,
se apegando com fé a orações e a cruz
tanto implorou que lhe veio secreta luz.
Ela chamou Jajá, fechou o quarto,
afastou a cama, pegou o sapato
e avisou: “Hoje, o bicho vai pegar.
Tenho umas coisinhas a lhe ensinar.
Repare no guarda-roupa de mogno,
pois será o limite do nosso octógno,
prepare-se porque vou lhe mostrar
o que vai acontecer no MMA.”
Dito isso, ela ficou bastante brava
e, com o perdão da crua palavra,
encheu Jajá de um festival de porradas,
tapas, tabefes, safanões e pancadas.
“Mamãe, o que lhe aconteceu?
Para, parece que você enlouqueceu.
Ai, ai, para, senão vai me machucar”,
gritava e ria, embaixo da bordoada, Jajá.
Calma, não precisa sentir medo,
porque em um estalar de dedos
o que se afigurava uma tragédia
virou uma tremenda comédia
e a chuva de tabefes e pancadas
terminou em beijos e gargalhadas.
Os métodos e os argumentos incisivos
de Andréia exerceram efeitos persuasivos
e o fato é que o temível gladiador Jajá
desistiu de ser lutador de MMA.
Hoje, Andréia vive feliz a propagar:
“Foi Deus quem me iluminou,
em carinha que mamãe beijou,
vagabundo nenhum vai tocar”.