Machado de Assis mediúnico

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Crédito: Reprodução. Machado de Assis, imagem reconstituída pela Universidade Zumbi dos Palmares.

Bomba!!! Esta coluna conseguiu uma entrevista mediúnica exclusiva com Machado de Assis. É uma homenagem à leitora Dáhlia, fã do bruxo do Cosme Velho. Fala, Machado.

O senhor constituiu uma obra que colocou o Brasil no mapa do mundo. Como conseguiu fazer isso em um ambiente tão adverso à cultura?

Só se faz bem o que se faz com amor.

Então falemos do amor. O casamento acaba com o amor?

O casamento é a melhor ou a pior coisa do mundo; pura questão de temperamento.

O senhor acha que os jovens podem ser novamente uma esperança de transformação no mundo?

Há em cada adolescente um mundo encoberto, um almirante e um sol de outubro.

A política é um mal necessário?

Enfim, contados os males e os bens da política, os bens ainda são superiores. Há os ingratos, mas os ingratos demitem-se, prendem-se, perseguem-se…

Como o senhor vê os ataques que o governo tem desfechado contra a imprensa?

Isto de ver um governo e um partido de radical, arrolhando a imprensa, não é coisa nova, mas há de ser sempre coisa ridícula.

Que defeito o senhor apontaria nos brasileiros?

Um de nossos defeitos mais gerais, entre nós, é achar sério o que é ridículo, e ridículo o que é sério, pois o tato para acertar nestas coisas é também uma virtude do povo.

Esse tipo de defeito não é uma tragédia nacional?

Defeitos não fazem mal, quando há vontade de os corrigir.

O senhor era um homem que gostava de ser reconhecido. Isso não é uma vaidade fútil?

Eu não sou um homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e ao corpo. As melhores digestões de minha vida são os jantares em que sou brindado.

Como o senhor vê as denúncias de ladroagem que nos assolam?

Não é a ocasião que faz o ladrão, o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: “A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito”.

Como o senhor reage quando alguém faz algo que o magoa?

Quando estimo alguém, perdoo; quando não estimo, esqueço. Perdoar e esquecer, é raro, mas é possível; está nas suas mãos.

Estamos vivendo uma era em que a mentira é a língua oficial dos governantes. O que o senhor diria às excelências que mentem descaradamente?

Eu sei que vossa excelência preferia uma delicada mentira; mas eu não conheço nada de mais delicado do que a verdade.

O senhor é considerado um escritor alienado das questões sociais. Isso é verdade?

Veja o que escrevi em 1877.Venha, venha o voto feminino; eu o desejo, não somente porque é ideia de publicistas notáveis, mas porque é um elemento estético nas eleições, onde não há estética.

Mas o que disse em relação ao tema dramático da escravidão?

A Abolição é a aurora da liberdade; emancipado o preto, resta emancipar o branco.

Como o senhor resumiria a arte de viver?

A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal.

Severino

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