Jornalista com voo

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Severino Francisco

Na virada final da década de 1970, eu trabalhava em função administrativa numa assessoria de imprensa e, certo dia, levei um susto ao ler um texto no Correio Braziliense, com a assinatura de TT Catalão. Lia textos de grandes jornalistas que escreviam bem, mas transitavam pela prosa.

Talvez tivessem mais informação, ilustração e conhecimento. Porém, TT tinha algo de mais precioso: era um jornalista com voo, mesmo quando tratava de temas áridos. Por isso, sensibilizava e encantava. Fui muito impactado pela sua liberdade.

Era sopro de modernismo nas páginas do jornal que eu lia. Parece que ele se apropriava das experimentações de Oswald de Andrade, da Poesia Concreta e da Poesia Marginal, com grande liberdade e audácia. Misturava trocadilhos, dança dos sentidos, dribles de humor, veneno de ironia, barroquismos, imagens da cultura de massa, fragmentos da publicidade, frases de efeito, hai-kais e ensaios. No fim, tudo virava TT Catalão.

Pouco tempo depois, TT fez uma convocação no Correio a pessoas interessadas em poesia para um encontro no Espaço Cultural da 508 Sul. Imaginava que ele se recolhia a alguma torre de marfim para bolar aqueles jogos verbais engenhosos. Mas, para a minha surpresa, TT falava como escrevia. Era um poeta da cabeça aos sapatos.

“Somos uma nação sem gravata, como diz TT Catalão, bravo poeta do Planalto Central”, berrava Glauber Rocha no Programa Abertura, da Rede Tupi, em 1979. Glauber conheceu TT nos tempos em que morou em Brasília e trabalhou na redação do Correio, a convite de Oliveira Bastos (editor-chefe) e de Fernando Lemos (editor-executivo). Ele sabia dizer a palavra essencial para cada momento da história.

Há algum tempo, me encontrei com o TT em um evento cultural e disse a ele que precisava fazer uma coletânea de sua produção e editar. Ainda ofereci uma frase para ser colocada na orelha do suposto livro: “Telão Catetê faz trocadalhos do carilho”. TT riu muito, mas dispensou, o livro não o interessava. Ele apreciava mesmo era a fugacidade, a efemeridade e a velocidade do jornal.

Amava Brasília com uma mirada crítica (“a terra da promissão virou território da promissória”). TT viveu uma vida plena de alegria e realizações. Nunca se preocupou com a perenidade de suas invenções.

Não sei porque, mas, passados depois de sua morte, há 4 anos, me lembrei de TT. É talvez seja chegado o momento de garimpar a sua produção dispersa em jornais (“paz quem quer faz”), grafites, faixas do Pacotão (“anestesia geral e irrestrita”), revistas e projetos. Seria um sopro de imaginação e provocação para as novas gerações de jornalistas. E, como diria TT, fica o erudito pelo não dito.

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