Jean-Paul Belmondo

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Crédito: Cinemateca Brasileira/Divulgação. Jean-Paul Belmondo: malabarismo nos céus de Brasília nos tempos pioneiros da construção da cidade.

Severino Francisco

Quando eu tinha 15 anos e morava em São Paulo, liguei a tevê, aleatoriamente, na Sessão da Tarde, da Rede Globo. Logo, fiquei fascinado por um filme diferente de todos os que eu havia visto até aquele momento. Uma das razões do alumbramento era a beleza despojada da atriz principal, tão distinta das deusas platinadas inacessíveis do cinema holliwoodiano.

Sim, a nossa atriz da Sessão da Tarde também era uma deusa, mas meio baixinha, que parecia ter descido do Olimpo vestida de jeans e blusa branca, vendendo jornais nas ruas, com um charme irresistível, ao alcance dos mortais: “New York Herald Tribune! New York Herald Tribune!!!…”

O protagonista do filme era um marginal, arrastado por gestos gratuitos, ao sabor da aventura. Dava tiros no sol como quem joga pedras na lua. Era também um antigalã e um anti-herói. Sem saber, sem cerimônia, durante o ócio juvenil de uma Sessão da Tarde, eu tinha sido apresentado ao cinema moderno. Os atores eram Jean Seberg e Jean-Paul Belmondo, em Acossado, de Jean-Luc Godard, clássico da Nouvelle Vague. Belmondo morreu na segunda-feira, aos 88 anos.

Crédito: Cinefrance/Divulgação.  Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg em Acossado, filme de estreia de Godard: surpresa na Sessão da Tarde.

Mas, para minha surpresa, muito tempo depois, eu assistiria na internet, com um calafrio na espinha, a sequência do filme O homem do Rio, em que Belmondo faz malabarismos no topo dos prédios de Brasília. Em uma das imagens, ele se equilibra, perigosamente, em uma tábua, sob a vertigem da cidade espacial, com as linhas da plataforma da rodoviária em primeiro plano e a pirâmide do Teatro Nacional ao fundo, quase reduzida à dimensão de uma caixinha de fósforo.

Fiquei intrigado não sei se com a habilidade de Belmondo ou com os truques da montagem. Mas o nosso ilustrado Sérgio Moriconi, cineasta, professor e pesquisador, autor de Cinema brasiliense – Apontamentos para uma história, me deslindou o mistério. O descolado Belmondo não chegava a ser o homem-aranha, mas tinha um passado de atleta: havia sido artista de circo e lutador de boxe.

Crédito: Zuleika de Souza/CB/D.A Press.  Sergio Moriconi viajou até Paris para assistir O homem do Rio na Cinemateca Francesa.

Escalar prédios de Brasília e fazer acrobacias a 50 metros do chão, perto das nuvens, era fichinha para ele. Seria melhor a gente se preocupasse com os atores coadjuvantes que o perseguiam, visivelmente desajeitados em cima dos andaimes.

O enredo mirabolante de O homem do Rio, dirigido por Phillippe Broca, narra as peripécias do personagem Adrien (Jean-Paul Belmondo) e sua namorada Agnès (interpretada pela belíssima Françoise Dorleac, irmã de Catherine Deneuve).

Crédito: Cinemateca Brasileira/Divulgação.  Jean-Paul Belmondo corre em meio a nuvens de poeira de Brasília na trama de suspense do filme O homem do Rio.

Agnès é sequestrada e trazida até Brasília porque ela possuía uma estatueta malteca de valor milionário. O filme é uma espécie de versão francesa das aventuras de James Bond e se tornou uma das principais fontes de inspiração de Steven Spielberg ao conceber o roteiro de Caçadores da arca perdida. Realmente, o que salvou Belmondo nos céus de Brasília foi o passado de atleta.

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