Severino Francisco
Eu pensava no sentido do Natal e procurava uma história que simbolizasse a data marcante. Enquanto isso, uma boa alma me enviou um vídeo com uma cena comovente. Era um vídeo com o encontro de cachorros e candidatos a tutores. O que se passou foi impressionante, ao menos para mim. Havia uma fila de pessoas candidatas a adotarem os cães. De repente, não eram os candidatos que escolhiam os cachorros; eram os cachorros que escolhiam o tutor.
Não tenho cachorros, não porque desgoste, mas, sim, porque me afeiçoo tanto aos bichos, que quando acontece algo com eles não aguento o baque. Fiquei amigo da escritora Hilda Hislt. Ela morava em um sítio próximo a Campinas e amava os cachorros a ponto de recolher todos os cães vadios que encontrava e levar para a chácara. Não por acaso, ela deu a um dos seus livros de ficção o título de Com meus olhos de cão.
Bem, eu procurava uma história para simbolizar o Natal, mas ela veio até mim. A narrativa que se segue é, rigorosamente, verídica, mas preservarei a identidade da personagem com o nome fictício de A. Vamos lá. A. não gostava de Natal, era um período que a deixava desolada. Mas, certo dia, alguém lhe sugeriu que, em vez de desolar-se, ela deveria doar algo aos que mais necessitavam.
Então, ela acatou a ideia e começou fazendo 20 cachorros-quentes para os funcionários mais humildes de um hospital. A iniciativa foi bem recebida, os servidores ficaram agradecidos. Então, as irmãs de A. sugeriram que ela preparasse uma refeição mais reforçada e adequada para a circunstância.
Com isso, ela decidiu ampliar as fronteiras e o alcance da ação. Para tanto, contou com a colaboração das irmãs e conseguiu fazer 200 quentinhas para distribuir com famílias carentes de uma região administrativa do DF. A iniciativa se tornou uma tradição e contribuiu para amenizar tanto a vida das famílias da periferia quanto a da própria autora do benefício. Fazer os outros felizes costuma nos trazer felicidade.
No entanto, neste Natal, ela não poderá realizar a doação tão importante para aquelas famílias. Um incidente mudou todo o enredo da história. Um gato, sem eira nem beira, de dono desconhecido, se atreveu a entrar no quintal e foi atacado pelo cachorro de A. Pobre gatinho, ficou muito ferido e, compadecida, A. usou todo o dinheiro que destinado às doações para o tratamento do gato.
O bichano ficou muito ferido, mas está recebendo um tratamento vip, que só uma pessoa muito imbuída de compaixão poderia dispensar. A escolha foi muito difícil e dramática. No entanto, neste Natal, ela passará cuidando do gato. Nem precisaria dizer que A. é devota de São Francisco de Assis, o santo protetor dos animais. Enquanto eu escrevia a crônica, perguntaram a meu neto, Judá, de 8 anos, o que era o Natal e ele respondeu: “Para mim, o Natal é o símbolo de ser gentil, ninguém pode ser ruim no Natal, todos têm de ficar felizes no Natal”. Feliz Natal para vocês!

