Severino Francisco
Com algumas décadas de atraso, assisti ao excelente documentário Três Antonios e um Jobim, de Rodolfo Brandão. O filme resulta de um simples encontro de quatro grandes brasileiros em uma mesa: Antonio Candido, Antonio Callado, Antonio Houaiss e Antonio Carlos Jobim. Eles falam um pouco de tudo: amor, mulheres, política, educação, Brasília.
É uma conversa pra lá de Marrakeshi, mas rica em intuições, reflexões e sabedoria. Terminam em uma mesa batucando o samba Com que roupa eu vou, de Noel Rosa, sob a regência do maestro Tom Jobim .
Vale a pena ver o documentário inteiro, mas fiquei particularmente tocado por um comentário de Antonio Candido sobre as utopias: “Tenho a impressão de que a era das utopias se encerrou. Hoje, nós não temos mais os grandes homens. São as utopias que criam os grandes homens. Elas nos ajudam a ser melhores do que somos”.
Em face da solidão e do deserto de grandes homens, Antonio Candido indaga: “Como viver sem utopias?”. Realmente, é uma questão dramática. Mas, antes de tudo, quem seriam os grandes homens? Os homens animados por ideais, projetos ou sonhos coletivos. As pessoas imbuídas dos valores da generosidade, do desprendimento, da retidão moral, da solidariedade, da justiça, da compaixão e do humanismo.
A ausência de grandes homens foi especialmente dramática durante a pandemia. Desprezavam, zombavam e escarneciam da vida e da morte. Evitemos mirar a classe política atual, pois, com honrosas exceções, só encontraremos seres liliputianos, menores, minúsculos, movidos pelos mais baixos interesses. As redes sociais transformaram a escolha das excelências em um concurso para saber quem é o pior.
Para além da política, o cenário também não é alentador. Com o culto ao narcisismo, ao hedonismo, à tecnologia e ao eu mínimo, a sociedade pós-moderna não favorece o florescimento de seres nobres. Com todas as contradições e equívocos, a década de 1960 talvez tenha sido o último período de utopia.
Aquele turbilhão forjou personagens brilhantes. Eu me sentia humilhado pela inteligência, a ilustração e as chispas da geração anterior à minha, a geração de Glauber Rocha, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Darcy Ribeiro, Betinho, Clarice Lispector e Henfil, entre outros. E, ao mesmo tempo, me sentia provocado por referências tão altas.
É por isso que Antonio Candido propôs a questão dramática e irrespondível: “Como viver sem utopias?”. Não se trata apenas de nostalgia. Sim, as utopias, os ideais, a vida heroica, os sonhos coletivos e o desejo de transcendência nos ajudam a ser melhores do que somos.
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