Flamenguistas doentes

Publicado em Crônicas

Severino Francisco

Em 2019, o repórter Fernando Jordão do site do Correio viveu uma aventura nos Andes para assistir à final da Libertadores entre Flamengo e River Plate. Não havia mais voo direto para Lima e ele teve de fazer escala na cidade do México. Afinal, chegou a Lima e a estada não foi feliz, até os 38 minutos do segundo tempo, enquanto o River ganhava de 1×0 do Fla e estava com a mão na taça. Mas eis que Gabriel Barbosa fez dois gols, o Flamengo virou o jogo e levantou a taça Libertadores.

Flamenguista doente, Fernando sofreu com as gozações de Roberto, subeditor do site do Correio, vascaíno fanático que desconta a falta de títulos do próprio time com as derrotas dos adversários. Na redação, quando o Flamengo leva um gol, ele é o primeiro a puxar o coro de palmas dos anti-flamenguistas. Pois bem, enlouquecido pela virada, o tímido ousado Fernando teve uma ideia luminosa: convenceu uns 10 peruanos a ficarem enfileirados e gravou a mensagem fulminante, com todos de semblante seríssimo: “Chupa Roberto! Chupa Roberto!”

É imperdoável que, neste ano, nós nos esquecemos de pedir a algum flamenguista que foi a Lima para gravar o chupa Roberto 2. Mas, se o Flamengo se classificar para a final no próximo ano, nós vamos providenciar a atualização da mensagem ao nosso vascaíno.

Na final de domingo da Libertadores, novamente em Lima, Flamengo e Palmeiras fizeram um jogo tenso, dramático e pegado. Parecia uma partida de futebol de salão. Não havia espaço nem para respirar em campo. Mas eis que o Flamengo arranca um gol na cabeçada de Danilo e a nação rubronegra explode de alegria. Imediatamente, da redação, onde estávamos de plantão, ouvimos o barulho de uma misteriosa sirene.

Eu quis saber de qual era a origem e me disseram que vinha de um prédio do Sudoeste, no qual o funcionário da portaria torce para o Flamengo e aciona o alarme para risco de incêndio quando o time de coração marca um gol. Se isso for verdade, fiquei pensando qual seria a reação dos torcedores do Vasco, do Fluminense, do Botafogo, do Palmeiras e do Corinthians no prédio.

No condomínio horizontal onde moro, Dionésio, o Carioca, funcionário da portaria, é flamenguista doente. O humor dele oscila de acordo com as vitórias e derrotas do Flamengo. Como se sabe, sou corinthiano, com título mundial ou na segunda divisão. Está difícil assistir aos jogos do meu time. Eu fico naquela posição do Ary Barroso quando narrava as partidas do Flamengo e o ataque adversário se aproximava da área, tamanho o sofrimento. “Nem quero ver, nem quero ver”.

Pois bem, felizmente, nem sempre dá a lógica no futebol. Os deuses jogam seus dados. E, com isso, o que parecia impossível aconteceu: o Corinthians eliminou o Flamengo na Copa do Brasil. Infernizei a vida do Dionésio, profetizei que o time dele cairia para a segunda divisão. Poucos dias antes da final da Libertadores, viajei para lançar o livro sobre os irmãos Ferreira em Teresina e, quando a minha esposa passou de carro, ele ficou frustrado ao saber que eu estava no Piauí, pois havia preparado uma surpresa: “Aposto que ele foi a Lima para ver o Mengão ser campeão”.

Ao retornar de Teresina e ao passar pela portaria, o Carioca não disse nada, só estampou um cartaz com o escudo do Flamengo: “Siga o líder”. Estou preparando um cartaz com a insígnia do Corinthians, que mostrarei, sem nenhuma palavra: “Siga o bando de loucos”. Mas, na verdade, o meu time está mais para: “Nem quero ver, nem quero ver”. E, para fechar, aqui vai minha modesta homenagem aos flamenguistas com a versão que fiz do belo hino da nação rubronegra, composto por Lamartine Babo: “Uma vez Flamengo/sempre Corinthians”.

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