Festinha de aniversário

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Severino Francisco

No domingo, fizemos uma festinha de aniversário dos 7 anos da Aurora, minha neta, uma espécie de reencarnação da Emília, boneca irreverente do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato. Calma, não houve aglomeração, só participou a parte da família que já mora na casa. Festinha é uma maneira de dizer, pois Aurora transforma qualquer pequeno evento cotidiano em superprodução.

Ela tem aulas de ginástica artística há 3 anos e acompanha a preparação de espetáculos. Não sei se será uma encenadora, mas posso garantir que tem a obsessão, o perfeccionismo, a megalomania, os caprichos e os chiliques dos grandes diretores.

Concebeu um plano piloto detalhado para o seu aniversário. Quando ela acordasse, a avó deveria brindá-la com uma rosa vermelha; o irmão de 3 anos, Judá, a acompanharia de mãos dadas pelo corredor; o tio se esconderia detrás de uma pilastra e dispararia uma chuva de confetes em sua cabeça.

Depois de cantar parabéns, ela entraria na sala, sob o ritmo de um tambor, tocado pelo irmão, subiria em um banco, transformado em palco, e interpretaria uma canção. E assim se fez. Os brinquedos também foram escondidos na sala de acordo com as indicações de um mapa do tesouro.

Sempre que um neto faz aniversário, o outro também ganha presentes. Mas, adivinhem do que eles mais gostaram? Das balinhas e dos adesivos de tatuagem que as vendedoras colocaram de brinde no pacote.

Houve um pequeno contratempo: Aurora foi picada por uma abelha. Doeu muito, o dedo inchou, ela chorou em uma performance capaz de concorrer ao Oscar na categoria ferroada de inseto. No entanto, como toda artista, ela sabe que o show não pode parar e, mesmo ferretoada, se apresentou para a plateia. Em suma, a festa foi um sucesso.

Eles se divertiram bastante e, com isso, nos divertiram. Aurora ralou o joelho ao brincar na cama elástica. Perguntei o que aconteceu, e ela respondeu: “Estava brincando quando, acidentalmente, machuquei o joelho”.

O bom é que são muito alegres. De cada pequena circunstância cotidiana, eles fazem uma festa: almoçar, tomar sorvete, tomar banho, telefonar para a tia ou receber os avós que voltam das compras. Tem nos ajudado a atravessar esse período difícil.

Na verdade, eles são a festa. Para mim, representam todas as crianças. Depois que nasceram, me imbuí da ideia de que é preciso lutar por um mundo melhor para as próximas gerações. Temos de preservar as florestas, proteger os mananciais, reduzir as desigualdades sociais e investir em educação e cultura.

No fim da tarde, o Judá ouviu os barulhos dos bichos da mata. Uma cigarra desfiava o canto rascante como se fosse o alarido metálico de uma sirene a soar no meio do cerrado. Podia ser sinal de chuva.

De repente, Judá prestou atenção nos sons, olhou para o alto da abóbada brasiliana, fez um autofalante com as mãos em concha e berrou para o firmamento: “Está me ouvindo? Está me ouvindo? Ei, tem alguém aí?” Ontem, enquanto escrevia a crônica, a chuva cantou na copa das árvores da mata e no telhado.

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