Severino Francisco
Guilherme Vaz é uma das pessoas mais brilhantes que conheci.Ele criou mais de 60 trilhas sonoras para filmes e foi um dos compositores mais premiados do cinema brasileiro. E não se distinguia apenas pela quantidade, mas, principalmente, pela inventividade.Ele nos deixou em 2018.
Uma conversa com Guilherme era sempre um diálogo polêmico, provocador e imaginativo. Em 2012, quando eu escrevia o livro Da poeira à eletricidade – Uma história da música em Brasília, discuti muito com ele por e-mail.
Era um pensador e um franco-atirador, disparava em todas as direções. Admirava o rock candango da década de 1980 e considerava Renato Russo um dos raros intérpretes do silêncio e do vazio de Brasília.
Eu dizia que Renato era o antistar, torto, gauche, deslocado até do rock. E Guilherme devolvia:”O bacana no Renato Russo é que ele não se tornou ‘um tropicalista de litoral’. Não fez sambinhas para agradar os malandros de litoral, mas permaneceu ‘candango’ elétrico e cantando
‘desafinado’ e de forma desajeitada dançando no palco. Permaneceu punk de cerrado,fiel a Brasília. Esse valor é muito claro nele, não negou a sua origem candanga.”
Incentivei Guilherme a escrever o texto sobre Renato, mas, infelizmente, ele adoeceu e não pôde registrar as ideias sobre o poeta do rock.
E um outro tema frequente de nossas conversas era a mítica viagem de Tom Jobim e Vinicius de Moraes a Brasília em 1961 para compor a Sinfonia da Alvorada. Repassei o que cada um escreveu sobre a nova capital e Guilherme considerou os textos melhores do que o poema sinfônico da dupla: “Sim, mas digo a sonoridade é das matas na sinfonia do Tom. O que é muito bom, mas não é do cerrado, faltam espaços de silêncio. Ali, ainda não temos uma sonoridade do cerrado em tudo que se toca. Temos uma literatura, a de Guimarães Rosa.”
Acabou o espaço. Depois, continuo a evocar a fala provocadora de Guilherme:”Acho que ninguém mais moderno que o noel rosa, o único ‘sambista cadango’que conheço. A modernidade e a limpeza das suas letras,o jogo arquitetônico, o combogó das palavras, a clareza. Ele é o fundador do ‘samba punk’ de Brasília.”
Severino Francisco Entrar em contato com Dalton Trevisan, que nos deixou, recentemente, não era difícil;…
Severino Francisco Finalmente, assisti Ainda estou aqui. As imagens do filme ainda ressoam mixadas à…
Severino Francisco Eu tomei um táxi para resolver um para um problema na Asa…
Severino Francisco Em meio a notícias sobre o alastramento de incêndios florestais na Califórnia, nos…
Severino Francisco Conheci Miriam Aquino em um momento de grandes esperanças para o Brasil e…
Severino Francisco Animado pelo espírito de audácia, Assis Chateaubriand, o cangaceiro modernista e modernizador da…