Celular na escola

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Severino Francisco

É muito acertada a decisão de vedar o uso de celulares nas escolas. Felizmente, transcendeu as divergências de esquerda e direita no Congresso Nacional. Não se trata de mera opinião. Podemos constatar em nossos filhos, netos e amigos o efeito nocivo das maquininhas no processo de aprendizagem e de vivência. As crianças não brincam mais nos pátios das escolas. Saem e ficam grudadas nos celulares.

Não é nocivo só para as crianças, mas também para os adolescentes, os jovens e os adultos. Nos tempos em que era professor de uma faculdade particular, me deparei com o problema. Na verdade, a própria faculdade estabeleceu uma proibição muito clara de utilizar os celulares em sala de aula. É algo que perturba, dispersa a atenção e afeta o sistema cognitivo.

A Suécia propôs um ambicioso projeto de digitalização do ensino há 15 anos, mas teve de recuar, ante o fracasso completo da experiência. Ela foi suspensa depois de as notas das avaliações de leitura caírem vertiginosamente.

As próprias autoridades educacionais reconheceram que, se insistissem no erro, os resultados seriam negativos: “Estamos em risco de criar gerações de analfabetos funcionais”, alertou a ministra da Educação da Suécia. E os efeitos nocivos não se limitaram aos alunos, mas, sim, a toda a comunidade escolar.

Sem exercitar a concentração dos livros físicos, os alunos perderam o hábito da leitura. O acesso dos professores aos livros foi dificultado. E, da parte das mães, pais e responsáveis, também houve prejuízo de aprendizagem, pois eles não conseguiram ajudar aos filhos.

A ideia de que o simples acesso a computadores, tablets, iphones, aplicativos e plataformas garante a qualidade do ensino é falaciosa. Nada contra a tecnologia, mas é preciso a mediação crítica e pedagógica. Os pesquisadores do tema recomendam um modelo híbrido, com livros físicos e recursos tecnológicos de maneira complementar.

Além disso, as pesquisas realizadas em vários pontos do mundo sempre revelam que o livro físico é o meio que proporciona mais aprendizado. Segundo Jorge Luís Borges, de todas as invenções humanas, o livro é o único que é uma extensão da imaginação.

Não se trata de demonizar o aparelhinho, que foi tão útil e nos salvou durante o período de isolamento da pandemia do corona vírus, recentemente. No entanto, o problema é o uso que se faz dessas geringonças, fascinantes, que realizam todos os desejos a um clique, mas nem sempre são favoráveis ao aprendizado.

Na verdade, seria muito importante uma educação para a mídia, que oferecesse uma reflexão de como a internet funciona, o que é o algoritmo, como induz, manipula e propaga notícias falsas, ações de bulling, valores racistas e preconceitos de todas as espécies. E, também, que ensinasse a pesquisar em fontes confiáveis e a garimpar preciosidades culturais ou científicas.

Com isso, evitaríamos formar pessoas que acreditam que a terra é plana, existe chip na vacina, livro físico é coisa de comunista, Paulo Freyre é o responsável pela crise na educação, as urnas eletrônicas não são confiáveis e que as vítimas dos golpes são os culpados.

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