Severino Francisco
Há dois anos, fui de carro com minha mulher para fazer umas compras na Asa Norte. Tudo estava tranquilo, mas, de repente, caiu um temporal tão intenso que, mesmo com limpador de para-brisa ligado, era difícil enxergar qualquer coisa a poucos metros de distância. Em um átimo, nos sentimos acuados pela tempestade.
Felizmente, aos poucos, tudo foi serenando e seguimos viagem de volta à casa. No entanto, a sensação de desamparo se reaviva com as notícias de temporais que assolam o cerrado. Em muitas cidades do Brasil, a chuva é sinônimo de drama, mas durante muito tempo, não era no Plano Piloto.
No entanto, nas últimas décadas, o Plano Piloto também perdeu esse privilégio. Os engenheiros apontam as causas: sistema de escoamento deficiente, ausência de reparos nas tesourinhas, acúmulo de lixo nas bocas de lobo e adensamento das construções com vedação do solo, o que dificulta o escoamento da água. A inundação de garagens na Asa Norte tornou-se uma cena recorrente no período das chuvas.
Na quinta-feira, tivemos mais um dia dramático na 202 Norte e cercanias, quando desabou um temporal. Eu passava por lá, naquele momento, mas vindo do Setor de Clubes e, quando entramos na L2 Norte, pude ver o outro lado da pista completamente alagado e intransitável. Os carros permaneciam parados ou subiam nos canteiros para desviar do rio de lama que tomou conta da pista.
O caderno Cidades mostrou uma imagem área impressionante da 202 Norte Comercial. A quadra estava quase que irreconhecível, com os carros ilhadas e os lojistas sitiados. Uma delas afirmou que basta cair uma chuva forte para que a área seja transformada nas “Cataratas da 202 Norte.”
O transtorno começou com obras de magnitude realizadas sem os cuidados ambientais. Sim, estou falando do Estádio Mané Garrincha e do Noroeste, bairro vendido como ecológico, mas que provocou muitos desequilíbrios precisamente pela falta de planejamento urbanístico. As excelências atropelam as regras e encontram instituições dóceis a seus caprichos. O resultando está na 202 e na 402 Norte e nas quadras finais da Asa Norte quando chove intensamente.
A Terracap afirma que o problema do início da Asa Norte será resolvido com as obras de captação e canalização da água das chuvas, previstas para serem finalizadas no fim do ano. Vamos ver. Por enquanto, quando chover forte, a situação permanecerá dramática. Os cientistas avisaram que as tempestades e temporais ocorreram com mais frequência e violência com as mudanças climáticas. E isso já está acontecendo.
Enquanto isso, os viadutos merecem cuidados prioritários, quando se sabe que não resolveram desafios de mobilidade em nenhum lugar do mundo. Basta ver a situação caótica de São Paulo e do Rio de Janeiro.
A solução de alguns problemas depende da administração de nosso quintal brasiliense. E outra parte envolve políticas ambientais mais amplas. Existe algo a fazer além de rezar? É preciso votar em governantes que tenham compromissos com o meio ambiente. Acho que deveríamos prestar mais atenção, a natureza está nos mandando sinais.
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