Severino Francisco
Tenho levado muitos sustos: de repente, ouço o trinar de canarinhos. Olho para os lados, parece que o fio elétrico ou a árvore estão cantando. Mas, quando miro com mais vagar, percebo um canarinho. O canto deles se impõe mesmo na cidade espacial. É uma festa musical. Tom Jobim dizia que tirava música do canto dos pássaros.
Pensei que era um fenômeno restrito a alguns lugares. Mas, observando melhor, eles estão espalhados por vários pontos da cidade-parque. Nas superquadras, no SIG, nos condomínios e no Eixo Monumental. São bandos e mais bandos. Qual é a razão? Para encontrar a resposta, liguei para Tancredo Maia Filho, meu consultor para aves.
Ele é natural do Acre, cresceu inebriado com as core e os cantos dos pássaros da Amazônia.Quando se mudou para Brasília transferiu a paixão para as aves do Cerrado. Ele é um dos criadores e um dos integrantes mais ativos do grupo Observares, que fotografa os pássaros em nosso território.
Antigamente, havia os gaioleiros e os passarinheiros assumidos. O próprio Tancredo admite que foi gaioleiro um dia. Confessa que criou um curió em gaiola. Mas a mentalidade mudou com o aperto dos esquemas de fiscalização. Quem pretende ter gaiola com pássaros precisa pedir autorização para o Ibama. A reprodução é controlada.
Com isso, o número de pássaros presos nas gaiolas diminuiu, gradativamente. Então, eles começaram a proliferar nas cidades onde existem muitas árvores. A procriação deles é muito rápida.
Em janeiro, Tancredo esteve em Alagoas, passou uma semana fotografando passarinhos. Ficou impressionado com a quantidade de canarinhos. Desde que passaram a ser mais protegidos, os canarinhos se multiplicaram pelo país inteiro. Ele está morando, atualmente, em Olhos d’Água e não viu nenhuma casa com gaiola de pássaro. Para comprovar a afirmação, basta fazer uma pesquisa rápida sobre os pássaros cantantes no YouTube.
Tancredo tem uma amiga moradora da Asa Norte que, ao avistar gaiola nas janelas, consulta se é de uma espécie autorizada. Se não for, logo denuncia para a Policial Ambiental. E, com isso, os passarinhos ficam livres para cantar e voar pela cidade. São bandos de 20, 30 ou 40 canários, que promovem cantorias memoráveis.
Claro que a cidade-parque favorece a presença dos canários. Se existe uma área de gramas, eles encontram muitas sementes para se alimentar. Eles reconhecem, rapidamente, uma área onde não são ameaçados pelo perigo de serem aprisionados.
No Parque da Cidade, são encontrados muitos bandos de canarinhos. Na Esplanada, no início da manhã e no fim da tarde, eles aparecem com seus trinados. Ocuparam Brasília e o Brasil, constata Tancredo. O canário é um animal livre. Não nasceu para gaiola. Nasceu para cantar e para voar. Em meio ao sobressalto de uma cidade cada vez mais hostil, eles nos proporcionam instantes de beleza. É um pequeno privilégio de morar em uma cidade-parque, que temos a obrigação de preservar.
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