Severino Francisco
Estava pensando em um tema para crônica quando ele chegou fulminante pelo zap: a Fundathos lança a campanha colaborativa para a criação do Calendário de Athos Bulcão 2025. Nesse ano, o tema no de parede são as máscaras e, no de mesa, a integração com a arquitetura.
Alguns amigos me dizem que, com as engenhocas virtuais, esse marcador de tempo tornou-se arcaico, basta dar um clique no celular. Que me desculpem os hiperconectados, mas, de minha parte, não consigo me orientar sem o calendário do Athos. Gosto de marcar os compromissos, as datas de consulta ou os acontecimentos. Sem isso, fico perdido no tempo.
A minha memória teve umas 42 gigas, mas, atualmente, funciona só para o gasto, com tico e teco. Vladimir Carvalho tinha uma memória invejável aos 89 anos. Raramente claudicava, era um espetáculo, ele remontava cenas de 50 anos com detalhes inimagináveis. Era um cinememória ambulante.
Além disso ou talvez até antes disso, existe uma outra razão para saudar a chegada de mais um calendário. É sempre um prazer apreciar as múltiplas linguagens e artes de Athos Bulcão, um dos mais talentosos artistas do modernismo brasileiro, com quem nós temos o privilégio de conviver cotidianamente, envolvidos pela beleza de suas obras na integração arte-arquitetura.
As máscaras constituem um dos segmentos dos quais eu mais gosto na vasta e múltipla obra de Athos Bulcão. A ideia de criar máscaras surgiu na França, em 1971, quando Athos visitava o Musée de L’Homme, em Paris, flanando o olhar sobre peças de arqueologia. Fascinou-se pela beleza das peças, as texturas, a coloração nacarada, provocada pela ação do tempo.
E, ao mesmo tempo, ficou pensando que aquilo eram escavações. Imaginou então realizar uma exposição de máscaras com matérias estranhas. A exposição seria intitulada É Tudo Falso, uma brincadeira com a antropologia e com a ilusão da arte. É bom fazer umas coisas com cara de pedra, dizia Athos.
Algumas parecem uma pizza escorrendo; outras evocam figuras carnavalizadas saídas de filmes de Federico Fellini; outras remetem a escavações arqueológicas de matéria de outros planetas. Elas são muito ligadas à escultura egípcia, que Athos considerava superior à escultura grega. As máscaras foram também inspiradas na última sequência do filme 2001 – Uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick. É possível, ainda, conjecturar que elas sejam fetos, trancados dentro de uma caixa-útero.
Na verdade, em si mesmo, o calendário é um momento em que os brasilienses celebram Athos Bulcão. É um projeto colaborativo, totalmente bancado pelos amigos. E todos são amigos do Athos, independentemente que o tenham conhecido, pessoalmente, ou não. É um momento em que Brasília abraça Athos.
Apesar de todos os problemas e sobressaltos, temos o privilégio de nos orientarmos por um calendário floral e também o de marcarmos o tempo com obras de arte de um dos grandes artistas do modernismo brasileiro. Que Athos receba, em breve, o terreno para que seja construída uma casa digna para ele na cidade que ajudou a construir. Vamos participar do calendário, vamos colaborar, vamos abraçar Athos Bulcão.
PS: Quem quiser colaborar com o calendário do Athos pode entrar em contato com: www.catarse.me/athos2025
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