Boêmio Lindoia

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Severino Francisco

De maneira semelhante a outros colegas diretores, Vladimir Carvalho é um cineasta-escritor. Ele foi repórter do Correio da Manhã, no Rio de Janeiro, e é rápido no gatilho. A sua escrita ressoa um tom rascante de Graciliano Ramos, José Lins do Rego ou José Américo de Almeida, entre outros escribas nordestinos. Ele reuniu uma antologia de artigos no livro Jornal de Cinema.

Lá possível encontrar uma pungente e, algumas vezes, divertida evocação da amizade com Glauber Rocha. No fim dos anos 1980, Glauber trabalhava na redação do Correio Braziliense e filmava A Idade da Terra. Certa noite, Glauber apareceu na casa do amigo paraibano e fez um estranho pedido: “Vladimir, você tem um baseado aí para me arrumar?”

A pergunta provocou o espanto. Vladimir é caretíssimo convicto, não ingere nem bebida alcoólica, a ponto de ganhar dos amigos o apelido de Boêmio Águas de Lindoia. Antes da pandemia, ele apreciava muito frequentar os bares, mas só tomava água mineral. Mesmo sem pedir permissão, entrei para o seleto clube.

Partilho com Vladimir o fato de ser aquariano e, sem querer desmerecer os outros signos, nós nascemos pilhados pela própria natureza, não precisamos de aditivos químicos. No meu caso pessoal, fico em êxtase quando gozo de plena saúde. Então, oriento toda a minha vida nesta direção. Não se trata de uma questão moral.

E foi assim que me tornei praticante de tai chi. Queria algo que me deixasse energizado, mas por uma energia limpa, que não produzisse efeitos deletérios de destruição. Reza um lema oriental que quando você precisa, o mestre aparece. E, de fato, apareceu em minha vida uma mestra de tai chi, Tânia Carmo, que me iniciou nos segredos da terapia e arte marcial.

Mas, voltemos ao caso de Glauber. Vladimir é muito amigo dos amigos, ele telefonou para todos os conhecidos fazendo apelo ao estranho pedido. Ninguém entendeu nada daquela consulta vindo do boêmio Águas de Lindoia. No entanto, finalmente, alguém acedeu à solicitação de Vladimir para Glauber.

Pois bem, evoquei o fato em crônica e um amigo bem humorado se divertiu com a história e prometeu tomar umas latinhas de cerveja em homenagem a Vladimir, a mim e a todos os boêmios águas de Lindoia. No entanto, na semana passada, ele me enviou mensagem relatando que o brinde não teria sido bem sucedido. Teve um problema gástrico, tomou Atroveran e ainda não está bem.

O corpo mandou um recado ao boêmio da Lua. Pelo menos, por enquanto, ele se absteve das latinhas. A mulher e os filhos aprovaram. Confessa que está gostando da pausa. Dorme com mais tranquilidade e está menos ansioso. Ele mesmo está se perguntando: “será que entrei para o Clube Águas de Lindoia e não sei?

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