Severino Francisco
É revoltante a manifestação de racismo explícito contra o craque Vinicius Jr., atacante do Real Madri. Parece que alguns ficam incomodados com a alegria do brasileiro em bailar dentro e fora do campo. Durante o programa El Chiringuito, irritado com as comemorações dançantes nos gols, Pedro Bravo, presidente da Associação Espanhola de Empresários de Jogadores, fez um insulto racista, disse para Vini parar de fazer “macaquices” e que se quisesse dançar fosse ao sambódromo.
Já o meio-campista Koke, do Atlético de Madri, ameaçou o atacante brasileiro caso ele comemorasse algum gol com dança. O técnico do Real Madri, Carlo Ancelloti, ficou reticente e desconversou que não havia racismo na Espanha. . Entendo, não deseja se incomodar, mas é muito cinismo. Foi, imediatamente, desmentido pela torcida do Atlético de Madri, que, na entrada do Estádio, gritava “Vinicius macaco”.
Alguns jogadores poderiam ficar desestabilizados com a pressão, mas Vini não se intimidou, se agigantou e jogou muito. O Real venceu o Atlético por 2×1 e ele comemorou o gol de Rodrygo com uma dança em que entraram os companheiros de time franceses Aurélien Tchouaméni e Ferland Mendy, todos negros.
Vini deu a melhor resposta, ao publicar um vídeo em que disse: ‘”Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos haverá guerra”‘. Eu tenho essa frase tatuada no meu corpo. Tenho esse pensamento permanentemente em minha cabeça. Dizem que a felicidade incomoda. A felicidade de um negro brasileiro vitorioso na Europa incomoda muito mais. Mas minha vontade de ganhar, meu sorriso e o brilho dos meus olhos são muito maiores do que isso.”
Além disso, lembrou que as danças não são dele. São de Ronaldinho, Neymar, Paquetá, Griezmen, João Felix, Matheus Cunha… “São de artistas do funk e sambistas brasileiros, cantores de reggaeton e negros americanos. São danças para celebrar a diversidade cultural do mundo. Aceite, respeite, eu não vou parar.”
Talvez esteja mal acostumado, pois tive o privilégio de viver a experiência em que torcer para o Corinthians era uma dupla alegria, pelo futebol e pela democracia, com a geração de Sócrates, Casagrande e Vladimir. Por isso, me parece que os atletas brasileiros têm parcela de responsabilidade ao não se posicionarem quando surgem casos de racismo e ao apoiarem políticos racistas.
Glauber Rocha dizia que os jogadores de futebol no Brasil tinha uma bola de capotão número 5 na cabeça, se desse um furão, só saía vento. Vivem dentro de uma bolha de alienação. E, depois, não adianta protestar quando os políticos aprovam leis que ferem os direitos trabalhistas dos jogadores. No caso recente, Pelé e Neymar se manifestaram e obrigaram o Real Madri a assumir a defesa de Vinicius Jr.
Os europeus querem descriminalizar o racismo e criminalizar a dança. Por mais absurdo que pareça, não seria tão difícil inibir manifestações de racismo, no Brasil e na Europa. Bastava que as ligas organizadoras dos torneios aplicassem duras sanções aos clubes de torcedores racistas.
Se os clubes perdessem pontos ou mandos de campo, eles se tornariam mais responsáveis e educariam os torcedores. Mas, para isso, os jogadores, os protagonistas do espetáculo, precisam sair da bolha de alienação e assumir uma posição muito clara de repulsa ao racismo.