Severino Francisco
Sou um repórter distraído, mas, mesmo assim, em minhas andanças, percebo que aumentou muito a população de aves na cidade. Pássaros visitam, diariamente, as janelas dos prédios. Alguns trinam com tanta delicadeza que poderiam se apresentar no Clube do Choro. Outros grasnam com tal contundência que fariam sucesso no Porão do Rock. Existem até grupos organizados que fazem a observação de pássaros e aves no Distrito Federal. O ambiente favorável atrai aves migratórias de outros países.
E, como me falta conhecimento para ditar cátedra sobre a matéria tão complexa, procurei a consultoria de Tancredo Maia Filho, do grupo Observaves, criado há 12 anos. Tancredo tem mais tempo de observação de aves do que beija-flor de voo. É acriano e cresceu no meio da natureza, dos rios e dos igarapés.
Com 10 anos, fazia coleção ornitológica e observação científica. Classificava os ovos de pássaros por tamanho. Tem 70 anos, é arquiteto de formação e mora em Brasília desde 1963. O Plano-Piloto é um lugar especial para as aves pela generosidade dos espaços, a diversidade das árvores, as flores, os parques e os jardins, explica Tancredo, com olhar de arquiteto: “As aves ocorrem por conta do plano urbanístico do doutor Lucio Costa. A cidade-parque, a cidade-jardim, atrai as aves, com farta oferta de alimentos”.
Levanto a questão do lugar de Brasília no mapa das aves nas cidades brasileiras e Tancredo se arrisca: “Eu diria que nas áreas urbanas, se a gente comparar Rio de Janeiro, Salvador ou Curitiba, Brasília é a cidade que tem o número de aves na área urbana. Claro que o Rio tem muitas aves no Jardim Botânico, mas, em Brasília, você encontra em todos os lugares. Você encontra uma coruja buraqueira na calha da Biblioteca Demonstrativa do INL”.
Tancredo esclarece que os pássaros são uma ordem dentro do conceito mais amplo de aves. Os periquitos e os beija-flores não são pássaros. Os bem-te-vis são pássaros (eles cantam). No Plano Piloto, as aves mais comuns e visíveis são o sabiá-laranjeira, o bem-te-vi, o quero-quero, os picapaus e os periquitos. Espécies ariscas, como é o caso da Curicaca, uma ave selvagem grande, do tamanho de uma galinha, com bico alongado, foram domesticadas e circulam pelos gramados das Asas Norte e Sul.
Por outro lado, a cidade abriga aves migratórias tanto do sul quanto do norte do continente. Quando começa a fazer frio na Argentina, sua alteza imperial, o pássaro Príncipe, migra para o Parque da Cidade. Vem para o mesmo local no Parque da Cidade. Em outubro, chega um migratório da América do Norte. O bacurau norte-americano, apelidado de Gringo por Tancredo, pousa em árvore próxima ao estacionamento do Parque da Cidade.
Existe algo importante na observação de aves, ensina Tancredo. Quanto mais observa, mais aves vai de descobrir. No Parque Olhos D’Água, em um território de 21 hectares, Tancredo registrou 96 aves. Comento que o colega Rubem Braga escreveu que seria triste o destino das crianças brasilienses: nunca veriam uma andorinha: “O nosso querido Rubem Braga bateu com a língua nos dentes”, se diverte Tancredo. “Temos andorinhas nos prédios, nos blocos, nos edifícios dos tribunais, nas escolas, em todo lugar”.
O brasiliense ama, cultiva, abriga e protege os pássaros, confirma Tancredo. “Não vejo ações predatórias. Tem um cidadão com um comedouro que acorda com o barulho de 30 periquitos. O acasalamento dos sabiás é um espetáculo. A consciência ecológica é um traço da população de Brasília”.
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