Ato da Terra

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Severino Francisco

Encerrada na bolha do orçamento secreto, a Câmara dos Deputados aproveita qualquer tragédia nacional ou planetária para passar a boiada da destruição do meio ambiente. Arthur Lyra é o grande líder da vanguarda do atraso.

Com as atenções voltadas para a guerra da Rússia contra a Ucrânia, suas excelências aprovaram um amontoado de propostas insanas. Não é um projeto; é um verdadeiro pacote da destruição, que inclui a liberação do uso de mais veneno na comida que comemos, a anistia para a grilagem de terras, a legalização da mineração e da agropecuária em terras indígenas, a extinção do licenciamento ambiental e a flexibilização de outras leis de fiscalização.

Claro, a flexibilização já deu certo em Mariana e Brumadinho, por que não daria em outros setores da vida brasileira? O sonho dos nossos parlamentares é se tornarem inimputáveis e permanecerem fora do alcance da lei e do voto dos cidadãos. Mas eles só conseguem essa desenvoltura para legislar em causa própria da maneira irresponsável em relação ao Brasil por causa da omissão da sociedade civil e das instituições.

Em face da situação dramática, Caetano Veloso resolveu liderar o movimento Ato da Terra, que faz manifestação, na cidade, hoje, para pressionar, principalmente, ao Senado, no sentido que barre o combo da destruição. Não é uma questão que interesse apenas a ambientalistas; interessa a nós, a nossos filhos, a nossos netos, a nossos amigos, à nossa cidade, ao nosso país e ao nosso planeta.

As eleições estão muito próximas. Seria preciso criar um observatório para monitorar as ações e os votos do parlamentares sobre questões do meio ambiente. Elas são cruciais para o nosso presente e para o nosso futuro. Não um futuro distante, mas um futuro das próximas décadas, em que o mundo será regido por uma economia verde.

Até os fundos de investimento estrangeiros estão alinhados com as políticas de preservação e sustentabilidade do meio ambiente. Quem vota em projetos tão aberrantes deveria ser eliminado do parlamento nas próximas eleições.

Com todo respeito a nossos colegas, que tiveram uma postura tão importante em defender a ciência durante a pandemia, a cobertura sobre o tema ambiental está muito burocrática. Ganha menos espaço do que o BBB.

Ouçamos o convite com a voz de Caetano Veloso: “O governo brasileiro pretende aprovar esse ano, antes das eleições, um verdadeiro pacote de destruição de nosso país que vai impactar todo o planeta terra. 2022 não pode ficar marcado como o ano em que destruímos nossas florestas e rios e abandonamos nossos irmãos e irmãs indígenas.

Nós precisamos mais do que nunca ir às ruas e frear esse absurdo. Convido todos vocês, seus amigos e familiares a se juntarem a mim e a muitos outros artistas e lideranças indígenas no grande Ato pela Terra que faremos em Brasília, dia 9 de março, a partir das 15 horas na frente do Congresso Nacional. Nosso canto e nossas vozes serão tão altos que os políticos terão que nos ouvir.”

No último álbum, Caetano cantou Não vou deixar, contra a política de destruição do Brasil. É preciso que a sua voz se una a milhares de outras neste movimento e pressione suas excelências a saírem da bolha do orçamento secreto. Não vamos deixar.

Em A Idade da Terra, de Glauber Rocha, o Krysto Negro, o Kristo Zumbi, encarnado por Antonio Pitanga, berra a plenos pulmões, para ninguém no cerrado, bem atrás do Palácio do Planalto: “Acorda, humanidade, acorda humanidade!!!”

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