As mentiras de Taxamp

Publicado em Crônicas

 

Severino Francisco

Eu queria escrever sobre outro tema, no entanto, tomei um táxi, cumprimentei o motorista e a primeira coisa que ele me falou foi: “E essa pressão do Trump sobre o STF, aonde vai parar?” Ele não é petista, não é politizado, mora em Riacho Fundo, mas, sem que fosse provocado, não se esquivou de opinar: “Não sei o que o senhor acha, mas eu acho que está errado ele se meter nas questões do nosso quintal. Ele que cuide dos Estados Unidos”.

À revelia, por arrogância e ignorância, Trump está reacendendo a dignidade adormecida dos verdadeiros patriotas. Goebbels, o ministro da propaganda nazista, dizia que era preciso repetir uma mentira mil vezes até que ela se tornasse uma verdade. É essa a esperança de Trump. Por isso, se for necessário, é preciso que o jornalismo diga que a mentira é mentira mil vezes. É a única maneira de impedir que ela vire verdade.

Então, vamos a um resumo das falácias de Trump. Ao instituir o valor de 50% de taxas para as exportações brasileiras, ele justificou a medida pelo fato de o Brasil, supostamente, levar vantagem no montante de negociações com os EUA. Na verdade, desde 2009, o Brasil comprou mais do que vendeu dos EUA e acumulou até julho de 2025 um deficit de US$ 1,67 bilhão, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). No entanto, Trump insiste na mentira na esperança de que ela se torne verdade.

Trump usou a Lei Magnitsky contra Alexandre Moraes e ameaça estender a punição a outros ministros do STF. Se ele deseja usar a Lei  Magnitsky com pertinência, então aplique nos amigos e aliados que fazem apologia da tortura, repetem gestos nazistas ou praticam o genocídio em larga escala. Posso garantir que o ministro Alexandre Moraes ou qualquer outro do STF jamais incorreram em tais práticas.

A principal consequência de tal apropriação indébita de um instrumento de defesa dos direitos humanos para a perseguição de personagens que o incomodam é a desmoralização da Lei Magnitsky, segundo a opinião insuspeita do criador da legislação, o investidor britânico William Browder. Se estivesse mesmo preocupado com violações aos direitos humanos, Trump deveria aplicar a Lei Magnitsky contra si mesmo, pois ele rasga todos os tratados internacionais para instituir a lei do mais forte, a lei da barbárie. Mas contra a China, ele rosna, mas logo recua.

Como todo fora-da-lei, o que mais teme Trump é que o Brasil se torne exemplo da justiça, de democracia e de liderança das forças emergentes do mundo com os Brics. Se isso acontecer, o Brasil pode ser referência de cumprimento das leis para a impunidade que grassa nos EUA. De repente, os norte-americanos podem achar uma boa ideia enquadrar Trump na lei.

Trump gostaria que a presidência da República do Brasil fosse ocupada por um mandatário-capacho, que batesse continência para a bandeira norte-americana e declarasse: “I love you Trump”. Eis porque os ataques continuarão.

Trump está fazendo estragos na economia mundial. No entanto, com a arrogância, o descaso pelos tratados internacionais, o desrespeito à soberania dos países e a ganância desmedida, Trump se tornou o maior cabo eleitoral das forças progressistas no mundo. Conseguiu virar eleições contra a extrema-direita de uma maneira que nenhum marqueteiro conseguiria. Ele só deixa aos cidadãos decentes a alternativa da dignidade.

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