Ariano Suassuna

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14/1/2019. Credito: Reprodução. Ilustração de Jô Oliveira para o livro Ariano Suassuna, de Lucília Garcez.

Severino Francisco

Ariano Suassuna era um personagem em busca de um autor ou de autores que o apresentassem às crianças. Não é mais. Ele encontrou a escritora Lucília Garcez e o ilustrador Jô Oliveira, uma mineira e um pernambucano que se rebrasileirizaram em Brasília. Eles escreveram uma encantadora biografia de Ariano para as crianças (Editora Imeph), mas, que, como toda obra de qualidade pode ser lida por pessoas de qualquer idade.

Ilustração de Jô Oliveira: o real e o mítico entrelaçados na vida de Ariano Suassuna.

A narrativa de Lucília e Jô evolui como um cortejo de maracatu, numa sintonia perfeita entre palavra e imagem. Nos joga, de maneira sensorial, no mundo de Ariano, com sensibilidade e delicadeza: o cotidiano em Taperoá,cidadezinha do sertão da Paraíba; as feiras, as festas populares, os teatrinhos, as cantorias, a chegada do circo. Na precariedade, era possível garimpar um universo cultural riquíssimo. Ariano puxou o fio da tradição medieval transplantada para o nordeste brasileiro.

Como bem diz Flávia Suassuna na apresentação, a biografia revela não apenas os elementos que fizeram Ariano ser Ariano, mas, também, as formas, os sons e as cores. É, ao mesmo tempo, uma biografia e uma fábula.

Ele parece um personagem saído diretamente de um folheto de cordel para a realidade.

Ilustração de Jô Oliveira: o cordão azul atiçou a imaginação de Ariano Suassuna.

Quando era garoto, quis fugir com o circo e só não conseguiu porque levou uma tremenda bronca da mãe. Ficou a frustração de ser palhaço, mas, na fase final da vida, Ariano realizou a vocação plenamente com as suas aulas-espetáculos, em que mistura a erudição de professor de estética com a verve popular de João Grilo paraibano. Ao arrancar o riso das plateias ele ficava com o brilho nos olhos de menino encantado, comemorava cada gargalhada como se fosse um gol.

Capa do livro Ariano Suassuna; de Lucília Garcez, com ilustrações de Jô Oliveira.

Antonio Candido disse que os grandes homens desapareceram, pois eles dependem das utopias. E Ariano é dessa linhagem, é um Quixote paraibano de múltiplos talentos, mas, antes de tudo, poeta. O Quixote é um herói moral, tem um ideal tão alto que as derrotas não o desmerecem; as derrotas o engrandecem.

Ilustração de Jô Oliveira: cordão encarnado na biografia que parece uma fábula.

A biografia escrita por Lucília e ilustrada por Jô nos revela que a história de Ariano se entrelaça de maneira indivisível com a história brasileira e com a história da cultura popular nordestina. Ele é um personagem épico. E, neste momento, nós estamos precisando, dramaticamente, de brasileiros que nos engrandeçam.

Imagino que, onde estiver, ao folhear o livrinho de Lucília e Jô, Ariano deve estar chorando as lágrimas de esguicho de que fala Nelson Rodrigues, lágrimas da mais pura alegria.

Ilustração de Jô Oliveira: Ariano tinha múltiplos talentos, mas era, antes de tudo, poeta
Severino

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