Andanças de Tancredo

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Severino Francisco

Tancredo Maia Filho nasceu em Rio Branco, no Acre, e cresceu no meio da natureza, das matas, das trilhas, dos rios e dos igarapé, inebriado pelas cores e pelo canto dos pássaros. Gostava tanto das aves que, com 10 anos, juntava os ovos de pássaros que encontrava no quintal de casa e os classificava pelo tamanho. Um amigo comentou que essa foi a sua iniciação científica. Mas o contato, ao mesmo tempo, uma conexão com a magia e força transformadora da natureza.

Formado em arquitetura, gestor educacional do MEC, quando se aposentou, Tancredo passou a se dedicar à escrita literária e à xilogravura. Experimentou uma modalidade de xilogravura com folhas e, há 15 anos, passou a integrar o coletivo Observares, que fotografa pássaros no DF.

Transferiu a paixão pelos pássaros do Acre para o Cerrado e ainda viajou muito para conhecer a realidade de outras regiões do país. Tancredo visitou 19 estados e o DF e conheceu cerca de 840 espécies brasileiras. Tem mais horas de observação de pássaros do que beija-flor de voo.

No ano passado, ele se mudou para Olhos d’água, cidadezinha nas imediações de Brasília, e organizou a exposição Andanças, que reúne fotos tiradas no Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Goiás, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e DF. Migrou, mas não deixou de passarinhar. Ele está sempre atento às cores, aos matizes, ao canto e ao voo das aves.

A técnica utilizada para a impressão dos quadros da exposição é a sublimação em azulejo, que coloca em evidência toda a beleza que Tancredo registrou, ao longo de 15 anos de exercício como fotógrafo de aves. Com exceção da Saíra-pintor, que ocorre em Alagoas,por enquanto, os pássaros que ele flagrou em imagens não estão na lista dos ameaçados de extinção.

A exposição abre com fotos de duas espécies relativamente comuns em Olhos d’Água:o  Picapau de topete vermelho e Udu-de- coroa azul. Em seguida, figuram as aves de plumagem preta e vermelha: o Soldadinho, fotografado em Brasília,   o Yarapuru vermelho, em Macapá, e o Benedito de costa amarela, em Tapiraí, no Sul de São Paulo.

Em um terceiro painel, figuram os tucanos, o Araçari-banana, de Tapiraí, o Tucanuçu, em Olhos d’Água, e o Tucano-de-bico preto,  do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. As aves amarelas ganharam espaço: o Fim-fim, de Olhos d’ água, o Iaratauá-grande, de Macapá,  o Gaturamo-bandeira, da serra gaúcha, em Veranópolis . Espécies comuns também mereceram destaque: o Anum- branco, de  Brasília, Bem-te-vi, com fruta amarela no bico, de Brasília, e a Seriema, de Abadiânia.

Os pássaros coloridos ganharam um painel: a Saíra-militar e a Saíra-pintor. A Saíra-pintor está ameaçada de extinção e se encontra em área muito restrita, em Quebrangulo, a terra de Graciliano Ramos. Tem um colono com chácara pequena que fez um comedouro com bananas que atrai gerações da Saíra-pintor.  Os observadores de aves providenciaram uma vaquinha para arrumar a casa. Na varanda, eles tomam café e comem tapioca, enquanto observam e fotografam a Saíra-pintor.

E, finalmente, há  o que Tancredo chama de “momento fofura”:o filhote de marreca-ananaí filhote, do Parque de Águas Claras, o Gavião do Igapó, do Macapá, a Garça-moura, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio Grande do Sul,  o Araçari castanho e uma Ariramba de capoeira, em Rio Branco, no Acre.

Tudo isso acontece no centro cultural da  Padaria do Caetano, em Olhos d’Água, que se tornou uma referência cultural na região. Se você for a Olhos d’Água, visite a exposição de Tancredo, pois ela é uma festa para os olhos. Vamos passarinhar.

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