Severino Francisco
Líderes da bancada do agronegócio prometem travar a pauta na Câmara dos Deputados em protesto contra a reprovação da tese do Marco Temporal por goleada de 9 a 2 no STF. O chamado Marco Temporal nada mais é do que uma trapaça jurídica para surrupiar as terras indígenas, sob a alegação de que eles só teriam direito os territórios que ocupassem na época da promulgação da Constituição de 1988.
Nada mais falacioso e nada mais capcioso. Historicamente, os indígenas sempre foram escorraçados, expulsos e agredidos da maneira mais brutal. Como é que poderiam se manter em um território estável para assegurar o direito às terras reivindicadas?
Não é à toa que, em 2020, No ano passado, fundos globais de investidores que administram US 3,75 trilhões (cerca de 20 trilhões de reais) enviaram uma carta-aberta a embaixadas brasileiras em oito países, manifestando a preocupação com a escalada do desmatamento nas florestas brasileiras e com os direitos dos povos indígenas.
Na missiva, os gestores disseram: “Estamos preocupados com o impacto financeiro que o desmatamento e a violação dos direitos de povos indígenas podem ter sobre nossos clientes e companhias investidas, por potencialmente elevarem os riscos de reputação, operacional e regulatório.”
Quer dizer, os grandes fundos de investimento revelam uma consciência ambiental e dos direitos dos povos indígenas que a maioria das excelências, do empresariado e do mercado não têm no Brasil.
No domingo, quatro capitais atingiram recordes de temperatura do ano: Rio de Janeiro (39,9° C), Belo Horizonte (37,1°C), São Paulo (36,5 ºC) e Curitiba (33, 1ºC). Em oito capitais, os termômetros bateram acima de 37 °C. Cuiabá despontou no topo do ranking com 40, 6°C.
Enquanto isso, o Rio Grande do Sul foi assolado ciclones que provocaram uma onda de devastação em 10 cidades do estado com mais de 500 desabrigados, 48 mortes e graves prejuízos. Pontes romperam, escolas foram inundadas, casas solaparam, hospitais se tornaram inviáveis. No entanto, se os líderes do agronegócio se recusam a encarar esses dados que ponderem sobre o fato de que o cálculo dos prejuízos para agricultura chegam a R$ 1 bilhão.
Como já disse uma antropóloga, o futuro dos índios se confunde, neste momento da história, com o futuro da humanidade. Não sei em que planeta vive esse segmento porque parece ser acometido de uma alienação ambiental monstruosa. Não consegue ver nem perceber o que está acontecendo no Brasil e no planeta.
Os indígenas estão protegendo as florestas não apenas para o próprio deleite, mas também para as pessoas que vivem nos centros urbanos e para os agricultores. Sem a preservação das nossas matas a vida nas cidades se transformará em um inferno, o ciclo das chuvas será afetado e não haverá água para plantar no campo. Em suma, travar as votações na Câmara dos Deputados para protestar contra a decisão do STF sobre o Marco Temporal é algo de uma desinteligência inominável.
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