Severino Francisco
E, finalmente, foi entregue a Sala Martins Pena, primeira parte da reforma prometida para o Teatro Nacional, fechado durante 10 anos, em razão de problemas estruturais de segurança. Os repórteres que foram dizem que a sala está linda. Ainda não tive a chance de ir, mas irei e registrarei minhas impressões.
Além de ser uma sala de espetáculos, a pirâmide de Niemeyer, com a colaboração luxuosa de Athos Bulcão e Burle Marx, é um dos símbolos de Brasília. Que tenha permanecido tanto tempo fechado é revelador da prioridade da cultura em governos de direita e de esquerda. Quem respeitará uma cidade que trata dessa maneira o patrimônio mais valioso?
Eu bato palmas para a reforma dessa etapa do Teatro Nacional. No entanto, sem querer jogar água no chope, permito-me fazer algumas ponderações. Em primeiro lugar, não considero correto que, a pretexto de preencher os requisitos técnicos de segurança, as poltronas de Sérgio Rodrigues tenham sido substituídas por outras e jogadas em um depósito do Teatro Nacional. Ora, Sérgio Rodrigues, sobrinho de Nelson Rodrigues, é, simplesmente, um dos maiores designers de móveis do século 20.
Claro que é necessário adequar o mobiliário às normas de segurança. No entanto, isso deveria ser feito mantendo o design de Sérgio Rodrigues. Quando trocaram as poltronas do Cine Brasília, eu entrei em contato com o Instituto Sérgio Rodrigues e perguntei se a instituição poderia fabricar outras poltronas, com o mesmo desenho, mas com materiais não inflamáveis. E uma das diretoras respondeu que sim, na verdade, essa era a atitude de respeito ao patrimônio cultural de Brasília.
Mas, deixando o aspecto físico da reforma, vamos nos ater à política de uso da sala. Quem vai administrar? Com quais critérios? A cultura coloca sempre em jogo a questão do valor. A sala Martins Pena foi inaugurada, simbolicamente, em 1961, por Cacilda Becker, na época, a mais importante atriz brasileira. Na verdade, a sala só funcionaria, de fato, em 1966. Assisti a um show memorável de João Gilberto na Sala Villa-Lobos. Com todo respeito, não é questão de gosto pessoal, mas Chitãozinho e Chororó não têm representatividade cultural para reinaugurar a sala Martins Pena. Quem terá coragem de dizer que assistiu a um show de Chitãozinho e Chororó na reestreia da Sala Martins Pena daqui a 10 anos?
A sala Martins Pena leva o nome de um dramaturgo e se destina, preferencialmente, a espetáculos de artes cênicas. O teatro brasiliense está abandonado, as pessoas que fazem teatro dizem que não têm espaço para existirem. O Espaço Cultural da 508 Sul se encontra á deriva há quatro meses. É preciso um edital para que seja escolhida uma organização que faça gestão das salas. Com isso, os grupos teatrais não podem se apresentar. Antes pandemia, eu fui assistir a uma peça dirigida por Hugo Rodas e pedi um bilhete. A funcionária da bilheteria me perguntou: “Para qual peça? Existem quatro em cartaz”. Não percebi mais essa efervescência.
Faltam editais específicos para estimular a produção de teatro. Além disso, a verba dos editais para a cultura ativos tem sido alvo de cortes. A Sala Martins Pena poderia funcionar como uma escola de teatro e se constituir em um centro pulsante de cultura. Faltam concursos para professores de artes cênicas. Reformar os teatros é importante, mas é preciso também cuidar da formação de novos talentos e de novas plateias.
Na década de 1980, eu frequentava muito o Teatro Galpão, pois o movimento de teatro amador era forte, com mais de 100 grupos. O então secretário de cultura do DF, embaixador Vladimir Murtinho, incentiva muito o teatro amador. Não raras vezes, eu estava assistindo a um espetáculo e avistava as silhuetas de um casal procurando lugar no chão para se sentar.
Era Murtinho e a esposa, que chegavam, invariavelmente, atrasados, mas sempre presentes aos eventos. Ele estimulava o teatro amador porque achava que era dali poderia surgir algo experimental e original, não do teatro consagrado: “Capital não pode ser passiva; capital tem de irradiar”, dizia Murtinho.
Severino Francisco Que me desculpe o leitor, mas a crônica hoje será de utilidade…
Severino Francisco Ao comprei um novo carro, uma das exigências era que ele tivesse aparelho…
Severino Francisco Com algumas décadas de atraso, assisti ao excelente documentário Três Antonios e um…
Severino Francisco O professor José Carlos Coutinho é uma das figuras mais elegantes, admiradas e…
Severino Francisco Na madrugada de sexta-feira, acordei com o barulho de uma tempestade que se…
Severino Francisco E aí, comandante, não apareceu mais na feirinha!”, observou o vendedor de abacaxi,…