A utopia das árvores

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Severino Francisco

Ante o impacto dos eventos extremos no Brasil e no mundo, provocados pelas mudanças climáticas, fico à procura de uma reação à altura do drama no qual estamos mergulhados. Pois bem, estava perdido nessas divagações quando me deparei com uma notícia alentadora na BBC. No último dia 14, o Quênia decretou feriado nacional para estimular o plantio de 100 milhões de árvores para combater as mudanças climáticas.

A reportagem informa que, com uma população de cerca de 50 milhões de pessoas, cada queniano é incentivado a plantar ao menos duas mudas para atingir a meta. No plano do governo, seriam plantadas 15 bilhões de árvores em 10 anos. A decretação do feriado foi a maneira de estimular os quenianos a participarem da iniciativa.

Ao absorver dióxido de carbono do ar e ao liberar o oxigênio na atmosfera, as árvores contribuem para combater o aquecimento global. Para que isso ocorresse, o governo ofereceu, gratuitamente, cerca de 150 milhões de mudas em viveiros públicos. Também indicou as áreas públicas em que deveriam ser plantadas.

Mas a campanha incluiu, também, o incentivo para que cada cidadão adquirisse ao menos duas mudas para plantá-las em casa. O presidente do Quênia se empenhou pessoalmente plantando uma muda em Makueni, no leste do país, enquanto ministros se dirigiram a outras regiões ao lado de governadores de província e de outras autoridades.

No momento, o Quênia sofre com chuvas muito intensas provocadas pelo fenômeno El Nino, que causou danos na infraestrutura e levou à morte de dezenas de pessoas. A campanha foi deflagrada e registrada com a ajuda de aplicativos. Foram plantadas mais de 2 milhões de árvores. Nem tudo correu da maneira ideal. Em entrevista à BBC, a ambientalista Teresa Muthoni afirmou que a iniciativa foi uma “ideia muito boa”, mas que não foi organizada de forma a garantir que todos estivessem plantando árvores.

E o que acontece no Brasil? No Rio Grande do Sul, 179 cidades foram atingidas por temporais e 29 mil pessoas estão desabrigadas. Enquanto isso, no Amazonas rios até pouco tempo caudalosos deram lugar a uma paisagem calcinada da qual sobe uma nuvem de fumaça.

E, neste momento, com o que o Senado está preocupado? Com uma PEC de república bananeira para restringir a ação do STF, instituição que bancou a democracia, enquanto as excelências se locupletaram com o orçamento secreto do último governo. Ora, atacar as cortes superiores é o primeiro movimento golpista em qualquer nação com pretensões a autocracias. É assim em Israel, na Turquia, na Polônia ou na Venezuela.

As nossas excelências revelam um nível de alienação ambiental e de irresponsabilidade inomináveis. O governo, o Congresso e a sociedade civil não podem esperar a realização da próxima cúpula do meio ambiente para tomar as providências cabíveis. Fingir que o problema não existe é a pior maneira de enfrentar a encrenca.

A iniciativa do governo do Quênia nos lembra de que é preciso fazer algo, com urgência, para despertar a consciência coletiva e para cobrar medidas das excelências no sentido de enfrentar a mudança climática, antes que seja tarde demais.

Severino

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