A mulher e o signo

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Severino Francisco

A poesia de Vinicius de Moraes é caracterizada pelo esmero e animada pela chama da paixão. Com 9 anos, ele aplicou a primeira cantada, com um poema que escreveu para uma menina de 10, porque estava apaixonado. Vinicius sentou a beleza no colo; se casou nove vezes. Existe uma parte menos conhecida de sua vasta obra: os poemas que dedicou a relação entre as mulheres e os signos do zodíaco.

Muitos negam a astrologia como pura mistificação. Tenho uma amiga que esconjura qualquer conexão com os signos, mas ela mesma é a prova mais cabal da pertinência dessa forma de conhecimento e autoconhecimento.

Mas vamos a trechos dos poemas de Vinicius que, embora despretensiosos, são certeiros. Comecemos pela mulher de Áries: “Branca, preta ou amarela/A ariana zela/Tem caráter dominador/Mas pode ser convencida/E aí, então, fica uma flor:/Cordata e nada convencida/Porque o seu denominador é o amor”.

Saltemos para a mulher de touro: “O que é que brilha sem/Ser ouro? – A mulher de Touro. É a companheira perfeita/Quando levanta e quando deita/Mas é mulher exclusivista/Se não tem tudo, faz a pista/Depois, que dona de casa…/E à noite ainda manda brasa.”

Agora, estamos com a volúvel mulher de gêmeos: “A mulher de Gêmeos/Não sabe o que quer/Mas tirante isso/É boa mulher./A mulher de Gêmeos/Não sabe o que diz/mas tirante isso/Faz o homem feliz./A mulher de Gêmeos/ não sabe o que faz/Mas por isso mesmo/É boa demais…”

Em seguida, vamos no deter na misteriosa mulher de Câncer: “Você nunca avance/Em mulher de Câncer./Seu planeta é a Lua/E a Lua, é sabido/Só vive na sua./É muito apegada/E quando pegada/Pega da pesada.”

A próxima parada é a poderosa mulher de Leão: “A mulher de Leão/brilha na escuridão./A mulher de Leão, mesmo sem fome/Pega, mata e come/As mulheres de Leão/Leoas são”. Na sequência, estamos com a mulher de Virgem: “Se Florence Nightingale era Virgem/Não sei… mas o mal é de origem./A mulher de Virgem aceita o amante/Isto é: desde que não a suplante”.

A delicada mulher de Libra é brindada com versos que se equilibram na corda bamba: “A mulher de Libra/Não tem muita fibra/Mas vibra./Quer ver uma libriana contente/Dê-lhe um presente./Se você a paparica/Ela fica”. E eis que chegamos ao território perigoso da mulher de Escorpião: “Mulher de Escorpião/Comigo não.É a Abelha Mestra/É a Viúva Negra/Só vai de vedete/Nunca de extra/É mulher tirana/Agora, de cama diz/que é boa paca”.

A mulher sagitariana é abordada sob duplo aspecto: “As mulheres sagitarianas/São abnegadas e bacanas/Mas não lhe venham com grossuras/Nem injustiças ou censuras/Porque ela custa mas se esquenta/E pode ser violenta”.

A possessividade da mulher de Capricórnio é ressaltada por Vinicius: “A caprina é tão ciumenta/Que até ciúmes ela inventa./Mulher fiel está aí: é cabra/Só que com muita abracadabra”. A libertária aquariana ganhou os seguintes versos: “Se o que se quer é a boa esposa/A aquariana pousa./Se o que se quer é outra coisa/A aquariana ousa./Porém não são possessivas/Nem procuram dominar/Ou são meias e passivas/Ou botam para quebrar”.

E, para fechar, a mulher do signo de Peixes: “É uma mulher tão envolvente/Que na questão do Paraíso/Há quem suspeite seriamente/Que ela era a mulher e a serpente. Muita coisa mudou desde que Vinicius traçou o perfil astrológico das mulheres. Desconfio que, se fosse vivo, o nosso poeta talvez fosse contestado por algumas representantes dos signos, mesmo as alçando à condição de musas.

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