A morte do ciclista

Publicado em Crônicas

Severino Francisco

Na última quarta-feira de cinzas, recebemos, com choque, a notícia de que um ciclista de 76 anos morreu depois de uma batida entre a bicicleta motorizada e um carro, na pista de acesso ao novo viaduto do Jardim Botânico. Os agentes do Corpo de Bombeiros tentaram reanimar ao ciclista, mas ele não resistiu. O acidente ocorreu na pista no sentido Jardim Botânico-Plano Piloto.

Conversei com um taxista e ele me confirmou que aquela pista é muito perigosa para pedestres e para motoristas. Essa morte talvez pudesse ser evitada. Segundo ele, a mulher motorista do carro ficou desesperada ao perceber que havia atropelado o ciclista.

Em muitos pontos da cidade, os pedestres transitam em situação de vulnerabilidade. Os que, segundo a lei, deveriam ser mais protegidos, são os que se encontram menos amparados e correm mais riscos.

Existem muitos lugares que apresentam todos os sinais de uma tragédia anunciada. Vejam o caso das passagens subterrâneas do Eixão. Diariamente, milhares de trabalhadores, de pedestres e de ciclistas se expõem ao risco no Eixão. E não há para onde fugir; se optarem pelas passagens enfrentarão um caminho de calçadas quebradas, acúmulo de lixo, sujeira e perigo de ser assaltado. Se atravessam pelo Eixão, a possibilidade de um atropelamento é real.

As passagens pedem uma ação conjunta que inclua reformas na estrutura, iluminação, limpeza, projeto de integração arte-arquitetura e medidas de segurança. Existe, ainda, a sugestão para que a área se dinamizada pela instalação de quiosques e pelo comércio. Seriam necessárias rondas contínuas da polícia para proteger os passantes.

Mas voltemos ao caso do atropelamento do ciclista. Peço licença para reproduzir trecho de crônica que escrevi sobre o recém-inaugurado viaduto do Jardim Botânico, publicada em 27 de novembro do ano passado: “E é importante atentar para outro aspecto: os pedestres. A faixa dedicada a eles no sentido Jardim Botânico- Plano Piloto fica em um ponto de alta velocidade, com perigo para os que atravessam a pé e para os motoristas. Neste pequeno período, depois da inauguração, flagrei dois acidentes com carros que ficaram engavetados, antes da faixa, possivelmente por freadas bruscas.”

E, na sequência, observei: “No sentido Plano Piloto-Jardim Botânico, a situação é ainda mais estranha. A faixa termina em um local que não é sequer uma calçada, é um lugar algum próximo ao acostamento. Para alcançar a calçada, é preciso caminhar alguns passos. Isso mostra a falta de cuidado com o pedestre. E, neste contexto, é preocupante o anúncio da criação de novos bairros na região, sem estudo de impacto do trânsito e sem planejamento para resolver os problemas de mobilidade.”

Ao ser questionado sobre o acidente, o Detran informou que vai analisar se o local do acidente precisa de mais sinalização. Não, não precisa de mais. Precisa de sinalização, pois não existe. E não é só isso. Brasília já foi exemplo para o restante do país no trânsito. Os brasilienses tinham orgulho de parar na faixa.

No entanto, atualmente, vemos a todo momento carros passando voados no sinal vermelho, sob grave risco de provocar acidente. O que evidencia a necessidade de campanhas educativas permanentes e de fiscalização.

Transformar a cidade-parque em cidade-viaduto não resolverá todos os problemas de trânsito. É preciso proteger o pedestre e o ciclista das pistas que provocam uma avalanche de carros. A vida é o nosso bem mais precioso.

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