Severino Francisco
Fiquei estarrecido com a notícia que assisti na tevê: cerca de 600 árvores serão derrubadas para a construção do viaduto Parque Indústrias, situada na interseção da com o Sudoeste e o Parque da Cidade. As imagens mostravam uma imagem sinistra: as árvores a serem abatidas estavam com um sinal preto nas cascas dos troncos.
Moro no Plano Piloto desde 1970 e não me lembro nunca de ter ocorrido o corte de 600 árvores para nenhuma obra na cidade. O GDF alega que a obra vai desafogar o trânsito de 50 mil pessoas que transitam de ônibus e carro pela região. Os semáforos serão removidos para melhorar a mobilidade dos motoristas que transitam no circuito Plano Piloto, Sudoeste, Águas Claras, Taguatinga. Argumenta, também, que o projeto vai criar 300 empregos.
Pela simples observação do funcionamento das cidades sabemos que viadutos aliviam o fluxo do trânsito apenas momentaneamente. Mas, em seguida, o problema dos engarrafamentos volta a infernizar o cotidiano, pois a questão é o número de veículos em circulação.
Se os viadutos solucionassem todos os gargalos urbanos, o trânsito de São Paulo seria uma maravilha. São Paulo é um trailer do que acontecerá com Brasília se não forem adotadas políticas urbanas de desestímulo ao carro e de estímulo ao uso do transporte público. Circulei muito de ônibus pela cidade e sinto-me com certa autoridade de usuário para dar um depoimento sobre o tema.
Nós vimos na pandemia as consequências dos péssimos serviços prestados pelo sistema de transporte público. Numa situação em que as aglomerações favorecem o contágio pelo coronavírus, os ônibus trafegaram sempre apinhados de gente, colocando em risco a vida de milhares de pessoas e propagando a doença coletiva. O transporte público está na lista dos problemas insolúveis e insanáveis de Brasília. No entanto, vamos concentrar o foco na derrubada das árvores.
Um projeto de tamanha magnitude e repercussão não pode ser feito sem transparência. Existem estudos de impacto ambiental? O que dizem esses estudos? O projeto está alinhado com o plano urbanístico de Brasília? Essas dúvidas ficam no ar. Há pouco tempo, uma pessoa comprou o lote que fica ao lado de minha casa, em um condomínio horizontal.
Na linha que delimita os dois terrenos nasceram muitas árvores frutíferas: goiabeiras, pitangueiras, amoreiras, ao longo de mais de 20 anos. Eu e a vizinha queríamos manter as árvores, mas elas cresceram tão aleatoriamente que pertenciam, a um só tempo, ao meu terreno e ao dela. Então, de comum acordo, decidimos cortar algumas que estavam nesta condição.
A vizinha contratou uma equipe para retirar as árvores. Os meus dois netos, Aurora, de 7, Judá, de 3, ficaram com os olhos grudados na porta de vidro acompanhando a operação revoltados. Tentei explicar, mas, para uma criança, abater uma árvore é algo inexplicável. Com os olhos arregalados e a gesticulação nervosa nas mãos, Judá trouxe a notícia: “Os moços estão esmagando as plantas de minha avó”.
Eu disse aos dois que não ficassem tristes, pois plantaríamos no lugar arbustos e flores lindas para encher os olhos deles de beleza. Eles permaneceram silenciosos observando o barulho da motosserra e o transporte dos galhos. A motosserra é um equipamento sinistro, em poucos minutos arrasa com árvores que a natureza levou décadas para criar.
Parece que não ficaram convencidos com a minha argumentação, porque, alguns instantes depois, Aurora pediu, com os olhos marejados: “Vocês podiam me emprestar o celular?”. Para quê, perguntei. E ela respondeu: “Eu preciso ligar para a polícia, quero que eles venham prender esses moços”. Nem contei para ela a notícia da derrubada de 600 árvores no Sudoeste, pois, tenho certeza que ficará abalada e vai querer ligar para o 190.
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