Severino Francisco
Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos com uma condenação, três processos criminais e 88 acusações na Justiça norte-americana. Em maio do ano passado, ele foi condenado por fraude contábil porque declarou como gasto de campanha o pagamento a ex-atriz pornô Stormy Daniels. A grana tinha como objetivo comprar o silêncio de Stormy para que ela não falasse sobre o suposto caso que tiveram durante a campanha de 2016.
A decisão do júri foi unânime para condenar Trump e a sentença saiu recentemente, mas não resultou em prisão, liberdade condicional ou multa. A 10 dias da posse do segundo mandato da Casa Branca, ele recebeu a pena de “dispensa incondicional” pelo crime. Essa foi a primeira vez que um presidente dos Estados Unidos foi condenado por fraude.
O motivo do abrandamento da pena é o fato de Trump ter vencido a eleição contra a democrata Kamala Harris. E o interessante é que em 2020, ele incitou uma multidão a invadir o Capitólio, sob a alegação de fraude nas urnas, mas, desta vez, considerou legítimo o pleito. A lógica é a seguinte: se eu ganhar, as eleições foram corretas; se eu perder, só pode ter havido fraude.
De fato, a fraude não acontece nas urnas, mas, sim, na selva selvagem das redes sociais. Trump atacou os portoriquenhos com acusações falsas e com a promessa de promover a maior deportação em massa dos Estados Unidos no primeiro dia de governo. Mesmo assim, obteve uma votação expressiva na Flórida, tradicional reduto dos portoriquenhos. É a servidão voluntária jamais imaginada por qualquer ditador.
Uma âncora de tevê ficou deslumbrada com a posse de Trump: “É um momento histórico!”, derreteu-se. No discurso, Trump enfatizou que a prioridade do governo dele era recolocar os Estados Unidos em primeiro lugar. Espalhou a versão de que o país estaria à beira do abismo. E colou.
Ressaltou que era preciso criar um sistema de defesa contra os incêndios em Los Angeles. Ameaçou retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris para conter a crise climática. Para ele, não existe aquecimento global. Recentemente, Trump jogou a culpa pelo alastramento dos incêndios na Flórida na incompetência dos bombeiros.
Prometeu revogar a “censura’ e restaurar a liberdade de expressão nos Estados Unidos. Isso significa dificultar qualquer regulação das redes sociais. Voltou atacar os imigrantes. Parecia discurso de Hitler. Como disse uma comentarista, durante as eleições: “Tudo que ele fala é mentira, mas ele mente com uma convicção, com um entusiasmo, com uma força”. É a vitória do mundo paralelo das redes sociais sobre a realidade. Mas eu acredito que os deuses sempre jogam seus dados.
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