A dignidade dos professores

Publicado em Crônicas

 

Severino Francisco

Com certeza, uma greve dos professores provoca muitos transtornos, principalmente para os mais vulneráveis. Muitas mães precisam deixar as crianças na escola para trabalhar e muitas crianças dependem das refeições na escola para se alimentar. Por isso, uma greve dos professores precisaria ser evitada por todos os meios possíveis. Os governantes deveriam ser os primeiros a se preocuparem com a remuneração digna dos profissionais da educação. E a sociedade civil deveria ser a segunda em apoiar as demandas por melhores condições de trabalho.
Recentemente, governantes e parlamentares enviaram um projeto para aumentar o salário dos agentes penitenciários. Ninguém levantou a restrição de que se tratava de a reivindicação de um movimento de cunho político. Sou a favor da melhoria das condições de trabalho de todos os profissionais. No entanto, os professores mereciam o mesmo empenho.
Não é razoável que os policiais sejam considerados profissionais de direita e, portanto, tenham privilégios em determinado governo. De maneira semelhante, que os professores só possam receber um salário digno em governos de esquerda. Isso é absurdo, pois exercem funções que transcendem as circunstâncias políticas.
Setenta e nove por cento dos professores já pensaram em abandonar a carreira, segundo a pesquisa Perfil e Desafios dos Professores da Educação Básica no Brasil, divulgada em 8 de maio de 2024 pelo Instituto Semesp e publicada na reportagem “Oito em cada dez professores já pensaram em desistir da carreira”, da IstoÉ Dinheiro. As razões alegadas são os baixos salários, a ausência de reconhecimento, a sobrecarga de trabalho e a violência escolar.
Mais da metade dos entrevistados (52,3%) afirmaram terem sido vítimas de agressões verbais, intimidações, assédio moral, injúria racial e ameaças. Os agentes dos ataques são alunos, responsáveis e até colegas de trabalho.

Como dizia Darcy Ribeiro, só se fazem mestres com mestres. Todos sabem que nenhuma transformação será possível sem educação. Os planos de educação que não priorizem o professor estão fadados ao mais retumbante fracasso, como sempre ocorreu. No entanto, evidentemente, eles continuam desvalorizados pelas excelências. São raríssimos os políticos que apoiam aos professores e, por tabela, à educação.

Uma amiga observou que, na França, os professores recebem o equivalente ao que ganharia um funcionário graduado da Câmara dos Deputados ou do Senado. Com certeza, se fossem reconhecidos, os professores não fariam greve. O governo local se jacta de pagar um dos melhores salários para os professores no país. E é verdade.
Mas a afirmação precisa ser balizada por outros parâmetros. Das 20 profissões com formação de curso superior, a de professor ocupa o desonroso 19 lugar em remuneração, na vice-lanterna do ranking. Não existe um plano de carreira que o estimule a aprimorar a formação.
É um desestímulo à formação continuada, único caminho para forjar um professor melhor, mais competente, mais atualizado em pedagogias capazes de enfrentar os desafios das mudanças vertiginosas do mundo regido pelas tecnologias da informação. Existem muitas questões a serem contempladas em relação aos professores. No entanto, a primeira é uma remuneração mais digna.
Nós precisamos que as melhores pessoas, as mais inteligentes, as mais talentosas, as mais qualificadas ocupem o espaço da educação. É interessante, não falta dinheiro para aumentar o salário dos policiais, para melhorar a remuneração de empresas de ônibus que prestam um péssimo serviço público e para construir viadutos e uma série de projetos questionáveis.
Mas não há dinheiro para os professores quando o Fundo Constitucional do DF contempla a área da educação. Não existe possibilidade de um país melhor se não melhorarmos as condições de trabalho dos professores.

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