Severino Francisco
É claro que a greve dos professores provoca transtornos, mas é preciso avaliar o acontece. Só a existência de uma greve dos professores já é um sinal de desinteligência. Tudo deveria ser feito para evitar que a situação atingisse esse estágio extremo. Os governantes deveriam ser os primeiros a se preocuparem com a remuneração digna dos profissionais da educação. E a sociedade civil deveria ser a segunda em apoiar as demandas por melhores condições de trabalho.
Como dizia Darcy Ribeiro, só se fazem mestres com mestres. Todos sabem que nenhuma transformação será possível sem educação. Os planos de educação que não priorizem o professor estão fadados ao mais retumbante fracasso, como sempre ocorreu. No entanto, evidentemente, eles continuam desvalorizados pelas excelências. São raríssimos os políticos que apoiam aos professores e, por tabela, à educação. Enquanto isso, os jornais noticiaram que vários senadores da república estão solidários a golpistas.
O orçamento previsto para o Fundo Constitucional do DF é de 22, 97 bilhões. Desse montante, a segurança fica com R$ 10,2 bilhões, a saúde, com R$ 7,1 bilhões e a educação com R$ 5,6 bilhões. Só nesta divisão é possível constatar a disparidade de tratamento. Defendo que todas as profissões sejam bem remuneradas.
Mas atribuir o dobro a segurança o dobro do que se despende com educação é revelador do desprestígio de uma área que deveria ser considerada prioridade absoluta. De fato, é prioridade apenas para as cobranças, todavia não para a remuneração. Uma amiga observou que, na França, os professores recebem o equivalente ao que ganharia um funcionário graduado da Câmara dos Deputados ou do Senado.
Com certeza, se fossem reconhecidos, os professores não fariam greve. O governo do DF se jacta de pagar um dos melhores salários para os professores no país. E é verdade. Mas a afirmação precisa ser relativizada. Das 20 profissões com formação de curso superior, a de professor ocupa o desonroso 19 lugar em remuneração, na vice-lanterna do ranking. Não existe um plano de carreira que o estimule a aprimorar a formação. Quem faz mestrado ganha pouco mais R$ 200 no salário.
É um desestímulo à formação continuada, único caminho para forjar um professor melhor, mais competente, mais atualizado em pedagogias capazes de enfrentar os desafios das mudanças vertiginosas do mundo regido pelas tecnologias da informação. Como se não bastasse, diferentemente de uma série de outros servidores públicos, os professores não dispõem de plano de saúde.
Quer dizer, são condições extremamente desfavoráveis ao exercício da profissão. Nós precisamos que as melhores pessoas, as mais inteligentes, as mais talentosas, as mais qualificadas ocupem o espaço da educação. É interessante, não falta dinheiro para construir viadutos, para financiar empresas de ônibus que oferecem um péssimo serviço público ou para pagar a área de segurança. Mas e os docentes? Se quisermos um país melhor precisamos dar dignidade profissional aos professores.