Severino Francisco
A cena recente da manifestação de mais de 50 mil brasileiros, a maioria de jovens, contra o chamado pacote da destruição ambiental, em frente ao Congresso Nacional, liderada por Caetano Veloso, é simbólica da relação da classe política com o Brasil. Naquele exato instante, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, emitiu ordem para que fosse encaminhado, com urgência urgentíssima, o projeto que libera o garimpo em terras indígenas.
Quer dizer, nós temos um parlamento encerrado na bolha do orçamento secreto, que legisla, tacanhamente, em causa causa , de costas para a inteligência, para a cultura, para a ciência, para a nação brasileira e para o mundo. A maioria da imprensa tratou o caso como se fosse uma “manifestação de ambientalistas”.
Mas, logo em seguida, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, constituída pelas maiores empresas do agronegócio, instituições financeiras, empresas de biotecnologia e de alimentos publicou uma carta em que se posiciona, claramente, contra o PL da mineração nas terras indígenas.
Na sequência, o Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), formado por mais de 120 associados, responsáveis por 85% da produção mineral do Brasil, se manifestou em nota, no mesmo tom de repúdio à mineração em terras indígenas. Não me consta que as duas associações sejam formadas por ambientalistas.
A alegação de que as terras indígenas são estratégicas para a extração de potássio necessário à produção de fertilizantes é falaciosa. Segundo estudo da Universidade Federal de Minas Gerais, citado em carta assinada pelo Instituto Brasileiro de Mineração, somente 11% do potássio se encontra em terras indígenas.
Essa proposta é de uma desinteligência estratégica. O desmatamento afetará o ciclo das chuvas para as plantações do agronegócio, provocará mudanças drásticas no clima, atingirá a economia e suscitará retaliações da União Europeia e dos Estados Unidos para os negócios dos agricultores. Os índios guardam nossas florestas. Putin manda invadir a Rússia; Lira quer invadir os territórios indígenas.
O futuro do mundo, se houver futuro, será o da economia verde. O PL do garimpo em terras indígenas é um passo rumo ao atraso dos tempos predatórios e escravistas da colonização. Por isso, é fundamental a mobilização de mais de 8 mil índios, que estão acampados no Eixo Monumental.
Lula afirmou, equivocadamente, que era preciso pressionar os parlamentares em suas casas. Nada disso, é imperioso se manifestar no espaço público; e o espaço da Esplanada tem uma força cênica para reverberar no Brasil e no mundo.
Os índios se pintam, se vestem de beleza, ritmam a marcha com os chocalhos, dançam, transformam a manifestação em festa, ritual de luta alegre da vida contra a morte. Todos nós deveríamos estar nas ruas, pois o pacote da destruição não é um tema para ambientalistas. É preciso aumentar a pressão para obrigar as excelências a saírem da bolha do orçamento secreto e perceber a realidade do Brasil.
Mais uma vez, os índios estão dando a Brasília e ao Brasil uma lição de cidadania, de consciência, de resistência e de bravura. Lutam pela vida deles e pela nossa porque, com o aquecimento global, vai sobrar para todos.
Para você, para mim, para os deputados que votam a agenda da destruição do meio ambiente, para os filhos e para os netos deles. Quem não for ambientalista não sobreviverá. Parece que estamos vivendo na Suécia, todos os problemas serão resolvidos pelo governo e só nos resta fazer cruzadinha, ouvir música breganeja e assistir ao Big Brother Brasil. Com o espírito de festa, os índios rebrasileiram a Esplanada dos Ministérios e nos obrigam a sair da bolha da alienação.
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