Severino Francisco
A paixão de Berê Bahia pelo cinema nasceu na pequena cidade baiana de Jacobina, na Chapada Diamantina. Ela era assídua frequentadora de sessões matinais e matinês. E esse apreço a levou a ler e a colecionar tudo que encontrava sobre cinema. Com isso, sem que se desse conta, surgia a pesquisadora.
Em uma caderneta, ela anotava o que achava dos filmes que via e as argumentações. Glauber Rocha se tornou um alvo de fascinação. Quando ela chegou a Brasília, em 1972, havia arquivado em dois volumes mais de 800 matérias sobre o cineasta baiano. Logo, a ligação com o Festival de Brasília do Cinema Brasília e com o Cine Brasília se tornaram inescapáveis.
Mesmo com as limitações de um problema no pé, que a levou a submeter-se a mais de 10 cirurgias, ela acompanha o festival, presencialmente, desde 1982, prática interrompida somente durante a pandemia, nas edições de 2020, 2021 e 2022. E o Cine Brasília passou a ser a segunda casa. Berê criou com outros cinéfilos o grupo Amigos do Cine Brasília. Essa paixão pelo evento e pela sala se materializou no livro-catálogo 30 anos de Cinema e Festival, que Berê publicou, no ano de 1998, em parceria com Celso Araújo.
Por todas essas razões, Berê ficou muito triste no mês de setembro. Ela submeteu-se a uma cirurgia de câncer e não pôde ir ao Cine Brasília para assistir ao Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. No entanto, da maneira mais imprevisível, em 21 de setembro, Berê viveu um grande dia. Apenas um mês e seis dias depois do procedimento médico, reacendeu a coragem. Na companhia de amizade verdadeira e cúmplice, com auxílio de um andador, enfrentou o desconforto físico e com a cara e a coragem abriu espaço na multidão e se postou em frente ao carro de som por duas horas.
Com lágrimas nos olhos, reviveu momentos de lutas na política desde a ditadura, na campanha pela anistia em 1979, nas Diretas Já em 1983 e nas campanhas presidenciais. Entre derrotas e vitórias, participou de vários momentos históricos da política brasileira. Estava na mesma praça da tentativa de golpe do fatídico 8 de janeiro de 2023, em que foi perpetrada a destruição física das sedes da Praça dos Três Poderes. Ante o absurdo da chamada PEC da Bandidagem, ela não aguentou, indignou-se e buscou forças no fundo do corpo para defender a democracia e a dignidade.
Ver os artistas e o povo recorrerem às canções que foram trilhas sonoras da redemocratização e os cartazes com mensagens bem-humoradas despertaram a confiança e a esperança em um mundo mais humano. A frase do jagunço-filósofo de Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, Riobaldo Tatarana, ecoou nos ouvidos de Berê: “O que a vida quer da gente é coragem”. Ela mandou uma mensagem: “Consciência cidadã acima de tudo e o dever cívico acima de todos”.
Ela perdeu o festival de cinema, mas participou de um momento histórico de defesa da decência e da democracia. Voltou da manifestação renovada, revigorada e reenergizada. No entanto, para a surpresa de Berê, ela recebeu da amiga Ana Liési Thurler um pacote com um bilhete: “Querida Berê, você não pode ir ao Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Agora, o Festival chega até você! Aqui estão todas as matérias sobre a edição de 2025 do nosso festival publicados pelo Correio Braziliense. Abraços e muito afeto”!
Como é bom a gente ter amigos de verdade. Como é bom a gente ser querido. Berê chorou e, de vez em quando, ainda chora as tais lágrimas de esguicho de que falava Nelson Rodrigues. Lágrimas de pura gratidão e de alegria.
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