A bolha sanitária

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Severino Francisco

Em razão de minhas sucessivas recusas em participar de eventos públicos, mesmo os restritos, durante a pandemia, uma amiga afirmou, em tom recriminatório, que eu queria viver dentro de uma bolha sanitária. Achei a definição perfeita. Era isso mesmo que desejava, não só pelo perigo da terrível doença coletiva, mas também pela ameaça da gestão desrazoada dos governantes.

Mas eu sabia que, por mais cuidados eu tomasse, essa bolha, algum dia, poderia se romper. E foi isso que aconteceu: eu peguei covid. Felizmente, tomei três doses da vacina, não consegui a quarta porque fiquei gripado, mas está sendo suficiente para me proteger dos efeitos mais graves. Estou isolado, em repouso, com a janela de frente para uma mata, me sentindo bem e tranquilo.

As excelências acabaram com a pandemia por decreto, mas esqueceram de combinar com o vírus. Uma bagunça total. Você chega a um lugar, tem gente com e sem máscara.Tem gente que tenta se proteger e tem gente que já vive a pós-pandemia. Não deveria ser uma questão opcional, pois a doença é coletiva; não é individual.

O resultado está na nova onda que nos assola. Eu queria pedir a todos os que me acompanham que coloquem como prioridade número 1 tomar as doses de reforço e completar o ciclo vacinal. Porque se a covid lhes pegar, vocês estarão protegidos. Essa doença não é uma gripezinha. Por favor, cuidem-se!

Tomo a liberdade de relembrar trechos de uma crônica que publiquei em março quando as excelências do planeta Marte realizaram a tentativa de encerrar a pandemia por decreto. Comparem o que aconteceu em Marte com o que ocorre aqui na taba.

”Um jornalista de Marte me enviou a cópia do decreto, assinado pelo presidente marciano, que determina o fim da pandemia naquele planeta tão distante. Fala, excelência!”

“A partir desta data, fica decretado, em caráter irrevogável e irrecorrível, o fim da pandemia. No uso de minhas prerrogativas imperiais, delibero que a pandemia cairá para a segunda divisão das doenças e terá o status rebaixado para endemia.

Fica estabelecido, definitivamente, que as pandemias são gripezinhas, que não provocarão a morte de mais do que 2 mil pessoas.

É vedada à pandemia durar mais de duas semanas. Se o vírus não obedecer, a PF marciana entrará em ação e o blindado Fumacê será acionado.

É terminantemente proibido, nos meios de comunicação de Marte, o uso do termo contaminação pelo vírus. A expressão correta é operação especial do vírus.

É terminantemente proibido criminalizar a ação, a omissão, a prevaricação,o peculato, a venalidade, a corrupção ativa, a corrupção passiva, as campanhas negacionistas e outros eventuais e pequenos deslizes dos governantes de Marte durante as endemias.

É terminantemente vedado aos cidadãos de Marte morrerem em razão da operação especial do vírus.

A partir desta data, o uso da máscara está proibido, com agravante para quem recomendar a utilização do equipamento de proteção pelas crianças, sujeitando-se à obrigação de dar explicações no Conselho Tutelar da Infância.

Fica terminantemente proibida a transmissão viral em concessionárias ou empresas de transporte público, sobretudo nos horários de pico.

Os eventuais atos de inépcia, incúria, ignávia, inscísia, sopor, desídia e desaso, cometidos por autoridades, na gestão da crise sanitária, deverão ser condecorados com o título de Grão Mestre da Ordem Nacional do Mérito Científico.”

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