Severino Francisco
O vírus vem de Ferrari, e a vacina, de fusquinha, disse o ex-ministro Mandetta. Permita-me retificar: o vírus vem de Ferrari, e a vacina, de carroça. No meio do colapso do sistema de saúde, na Hora H e no Dia D, não existe imunizante para proteger a população brasileira. As campanhas de negacionismo confundiram tanto o ambiente que turvaram a simples alegria de receber a proteção da vacina.
Por isso, resolvi conversar com alguns personagens ilustres da vida cultural da cidade para falar sobre a experiência. Vladimir Carvalho, o nosso cineasta, recebeu a primeira dose da vacina Astrazenica. Foi uma benção e um bálsamo a sensação de retirar o peso de uma tonelada nas costas. Ele acordou no outro dia com uma disposição desconhecida.
De enxada na mão deu conta de um matagal inteiro que ameaçava a hortinha de sua amada mulher, Lucília Garcez. À noite, teve o sono mais leve e profundo que há meses não experimentava. Vacina já para todos! Viva o SUS!, brada Vladimir, com a flama paraibana.
O diretor, ator e professor de teatro João Antônio ficou, ao mesmo tempo, feliz e aflito. Sentiu um alívio pessoal imenso e uma tristeza do mesmo tamanho por saber que faz parte de uma parcela mínima da população brasileira. “Sou um privilegiado em um país desgovernado”, reconhece João.
Ao receber a primeira dose da vacina, Frederico Holanda, professor emérito da UnB, sentiu uma alegria dupla: pessoal e cívica: “Viva o SUS!!!” Foi a primeira ideia que lhe veio à cabeça. Da mesma forma que o ultraliberalismo da sra. Thatcher não conseguiu destruir o Sistema Nacional de Saúde inglês, a versão tupiniquim do mesmo liberalismo, em nova (velha) roupagem, não vai conseguir destruir o nosso! Viva o SUS!
Já o diretor de teatro Hugo Rodas tomou o imunizante como quem cumpre um dever. Antes, só havia sido vacinado contra a malária. Claro que se sente mais protegido. No entanto, alerta que é preciso aprender a sobreviver, a ser feliz, no isolamento. Se você pode, cuide das plantas, reflita, aproveite o que esse momento dramático oferece, pois, mesmo se a vacinação chegar para todos, ainda viveremos com restrições por mais algum tempo.
O escritor Danilo Gomes também recebeu a vacina, com a mulher, como uma dádiva. Só queria que a graça fosse estendida para todos, sem politização da pandemia. A vacinação é necessária e urgente. Não se brinca com a morte, diz, com senso de realismo mineiro. “Passarinhada cantando e vacina para todos”.
Como se vê, ninguém virou jacaré. Vacina é salvação, é saúde, é vida, é um patrimônio da humanidade. Não sei porque, mas, em meio a tantos atropelos, esses depoimentos me proporcionaram um instante fugaz de alegria. Não resolvem os graves desafios que temos pela frente.
Mas acenam com a promessa de felicidade, com a utopia de vacina para todos, na qual todas as instituições têm de se empenhar em regime de urgência urgentíssima. A vida acima de tudo, a Constituição acima de todos.Viva a vacina!!! Viva o SUS!!!
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