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Policiais federais estão otimistas com criação de Ministério da Segurança Pública
Representantes dos policiais federais receberam com otimismo o anúncio da criação do Ministério Extraordinário da Segurança Pública, pelo presidente Michel Temer neste sábado (17)
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Antônio Boudens, acredita que a formação da pasta vai favorecer a discussão sobre as causas da crise que atinge o setor. “O modelo de segurança pública brasileiro não tem paralelo em nenhum lugar do mundo, é comprovadamente ineficiente e claramente negligenciado pelo governo”.
A criação do Ministério vinha sendo discutida no governo e ganhou força com necessidade de resposta à mais recente onda de violência no Rio de Janeiro. Segundo um esboço feito pelo Palácio do Planalto, a pasta englobará a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e a Secretaria Nacional de Segurança Pública.
Para Boudens, um Ministério especifico, voltado apenas para a Segurança Pública, pode dar celeridade a uma eventual reforma do setor. No entanto, alerta que há um consenso na carreira de que sua constituição deve incluir uma Política Nacional de Segurança Pública e, obrigatoriamente, passar por uma discussão profunda entre as representações dos órgãos envolvidos.
Uma onda de greves toma conta da Esplanada. A demora do Senado em aprovar aumento salarial de uma parcela de servidores e a recusa do Palácio do Planalto a enviar projetos de lei para corrigir os vencimentos de nove carreiras que assinaram acordos no apagar das luzes da antiga gestão criaram um barril de pólvora. Era exatamente o que o presidente interino, Michel Temer, queria evitar ao ir pessoalmente ao Congresso, no início do mês e dar aval aos reajustes. Porém, com a reação negativa do mercado à expansão dos gastos públicos, o processo empacou.
Os auditores-fiscais da Receita Federal, uma das carreiras que não tiveram projeto encaminhado, decidiram cruzar os braços dois dias por semana a partir de quinta-feira. “Foi aprovada paralisação total às terças e quintas. Nos outros dias, faremos operação padrão (fiscalização mais rigorosa na liberação de cargas e bagagens nas aduanas)”, contou Cláudio Damasceno, presidente do sindicato nacional da categoria, o Sindifisco. Segundo ele, o movimento será mantido até que o governo cumpra os acordos salariais. Nos cálculos da entidade, o prejuízo à sociedade é de R$ 1,5 bilhão por dia de paralisação.
O ímpeto grevista ganhou impulso depois de o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, ter informado, em reunião com representantes dos auditores, na quarta-feira da semana passada, que não há prazo determinado para o envio do projeto de reajuste da categoria ao Legislativo, devido a “dificuldades técnicas e jurídicas” em relação à concessão de bônus de eficiência aos profissionais.
Damasceno reclama, no entanto, que, no dia seguinte, foi editada uma medida provisória instituindo um bônus especial de desempenho para os médicos peritos do INSS. “Os auditores não aceitam esse rebaixamento. A atitude do governo uniu o Fisco na busca pela sua valorização. Há até mesmo a adesão de auditores-administradores de todo o país”, ressaltou o presidente do Sindifisco. A Receita corre o risco de parar totalmente. Os analistas tributários também estão mobilizados e, nas terças e quintas, só usam os computadores para discutir questões internas.
Às vésperas do recesso parlamentar, o envio de um projeto de lei se tornou inócuo. Para que o dinheiro do reajuste entre nos contracheques em agosto, conforme prometido em março, o Palácio do Planalto tem como única saída editar uma medida provisória, que passa a valer no dia da publicação. De acordo com Pedro Delarue, diretor de Comunicação do Sindifisco, não está descartada a ampliação da greve para até uma semana seguida. “Hoje (ontem), o pessoal dos aeroportos de Viracopos (SP) e Foz do Iguaçu (PR) se anteciparam e pararam”, disse. No dia 14, devem aderir os servidores que atuam nos portos de Santos (SP), Manaus e Paranaguá (PR), e nos terminais aéreos de Cumbica (SP), Guarulhos (SP) e Galeão (SJ), além da unidade de Uruguaiana (RS) — maior porto seco da América Latina.
Protesto
Os técnicos do Banco Central entraram em greve, por 48 horas, desde ontem. Hoje, receberam o apoio dos analistas e fizeram um ato conjunto de protesto em frente às sedes do órgão, às 9h30, em todo o país. Em Brasília, eles seguiram até o Senado para tentar barrar emendas ao Projeto de Lei da Câmara (PLC) 36/2016, que, além do reajuste salarial, modifica o critério de acesso ao cargo de técnico, de nível médio para nível superior — item considerado o mais importante para a modernização da carreira. A previsão é de que o PLC seja votado, hoje, na Comissão de Assunto Econômicos (CAE).
“O Banco Central já emitiu três notas técnicas garantindo que a modernização é o melhor caminho, devido ao aumento da complexidade das funções da instituição ao longo dos anos. Isso, inclusive, vai baratear o custo para o governo. Dos 3 mil servidores do BC, apenas 14% são técnicos. Faltam analistas, porque eles são deslocados”, disse Willekens Brasil Nascimento, presidente do Sindicato Nacional dos Técnicos do Banco Central (SinTBacen).
Advogados se mobilizam
Na próxima quinta feira, serão votados no Congresso todos os projetos de reajuste enviados no fim de 2015. Várias entidades representativas de advogados federais estão em alerta. Não querem correr o risco de ver mudanças em pontos exaustivamente discutidos com o Executivo. “É hora de intensificarmos a mobilização, comparecendo em peso ao Senado para a aprovação do projeto”, afirmou Marcelino Rodrigues, presidente da Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais (Anafe) .
Revisões do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez vão gerar nova onda de ações na Justiça
O governo federal publicou nesta sexta-feira (8) a Medida Provisória (MP) 739 que permite a execução das revisões na concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. A intenção da equipe do presidente interino Michel Temer é a de promover um pente-fino na concessão dos benefícios. Agora, os segurados poderão ser convocados a qualquer momento para nova perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Para especialistas, a nova medida é um retrocesso
O advogado de Direito Previdenciário, João Badari, sócio do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados, considera a nova medida “um retrocesso em relação aos direitos sociais e deve gerar ainda mais processos na Justiça”. Pela MP, sempre que possível, a concessão de auxílio-doença, judicial ou administrativa, deverá fixar o prazo estimado para a duração do benefício. E na ausência de fixação do prazo, o benefício será cortado após o prazo de 120 dias, contado da data de concessão ou de reativação.
“Ao atribuir um prazo estimado para a duração dos benefícios por incapacidade, ela irá trazer a milhares de segurados uma consequência gravíssima: voltar a trabalhar ainda sem condições de retorno ou não conseguir arcar com a subsistência de sua família por não estar mais em gozo do benefício. Não podemos fixar uma data de recuperação para cada espécie de incapacidade laboral, a medicina não possui tal exatidão”, explica João Badari.
O especialista defende que o prazo de 120 dias, no caso de omissão de data estipulada pelo perito do INSS, “irá trazer transtornos aos segurados ainda inválidos, especialmente para conseguir data de agendamento de nova perícia, depois de uma extensa greve que aconteceu no ano passado e que aumentou a fila de perícias em todo país”.
Bônus por perícia
A nova MP também criou o Bônus Especial de Desempenho Institucional por Perícia Médica em Benefícios por Incapacidade (BESP-PMBI), com duração de até 24 meses. O bônus será pago ao médico perito do INSS, no valor de R$ 60,00 por perícia médica realizada nas Agências da Previdência Social.
“O bônus se mostra como um incentivo aos peritos da autarquia em realizar o maior número de perícias possíveis. Na minha visão, o objetivo do governo é de cancelar milhares de benefícios por invalidez de seus segurados”, avalia.
João Badari observa que, atualmente, as perícias já são realizadas em curtos períodos, “com muitos segurados tendo seu benefício negado pelo fato do perito não ter tido tempo hábil de analisar de forma concreta e objetiva sua incapacidade e os documentos trazidos pelo mesmo. Estes incentivos trarão ainda mais injustiças aos segurados do INSS, que irão se socorrer do judiciário para buscar justiça e dignidade”.
O advogado diz, ainda, que “a MP irá trazer como resultados o corte e o cancelamento de concessões administrativas e um Judiciário com uma carga ainda maior de ações contra o INSS”.
O presidente interino Michel Temer poderá enfrentar uma onda de protestos e paralisações. Servidores federais que ainda não tiveram seus projetos de reajuste enviados ao Congresso estão insatisfeitos. Os auditores-fiscais da Receita Federal, principal órgão de arrecadação da União, por exemplo, marcaram assembleia geral para a próxima quarta-feira a fim de analisar a conjuntura e debater os rumos da campanha salarial.
“Nada aconteceu até agora. As estratégias de pressão ainda serão definidas. Mas não está descartado um movimento ainda mais forte que o do ano passado, inclusive com indicativo de greve”, assinalou Claudio Damasceno, presidente do Sindicato Nacional da categoria (Sindifisco). O compromisso do Ministério do Planejamento, segundo ele, depois da aprovação do PLN nº 1/2016, que permitiu alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), era encaminhar, em até 15 dias, o projeto de reajuste para o Congresso Nacional.
“Tentamos várias vezes saber o que está acontecendo, mas não recebemos retorno. Vale destacar que os auditores só suspenderam a mobilização porque acreditaram no acordo”, contou. Os analistas tributários da Receita também dão sinais de descontentamento. Ontem, fizeram mais um Dia do SIM (Salário, Indignação e Mapeamento de Processos) — quando apenas expõem no sistema interno detalhes legais das suas funções — e prometem continuar com o procedimento por tempo indeterminado. O Ministério do Planejamento informou apenas que “ainda está avaliando os projetos”.