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No Dia da Consciência Negra, a esperança é de que o voto, em 2022, faça a diferença
Carlos Moura, fundador e duas vezes presidente da Fundação Palmares (1988-1990/2000-2003), disse que sente um misto de “tristeza e revolta”. “Mas, nesses sentimentos, existe a esperança de que não nos dobrarão. Hoje é um dia de alegria. O Movimento negro está vivo”, ressaltou
Foto de Carlos Moura: Notícia Preta
A Fundação Cultural Palmares nasceu em 22 de agosto de 1988. Foi a primeira instituição pública “voltada para a promoção e preservação dos valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira”. Os rumos mudaram, com a chegada do atual presidente, Sérgio Camargo, indicado por Jair Bolsonaro. Ele passou por vários questionamentos judiciais do movimento negro brasileiro, chegou a ser afastado do cargo, mas continua até hoje, desafiando a autoridade cultural de personalidades negras. As provocação não diminuem nem no Dia da Consciência Negra.
No Dia de Zumbi, ele acordou e, pelas redes sociais, antes de dar bom-dia, incitou: “Nossa consciência é humana”, frase acompanhada de declaração polêmica do ator Morgan Freeman: “o dia em que pararmos de nos preocupar com a consciência humana, o racismo desaparece”. A prática é rotineira. Em fevereiro, ao retornar à presidência, após o afastamento pela Justiça, Camargo exonerou por telefone todos negros em cargo de diretoria, com o argumento de que precisava “montar uma nova equipe de extrema direita”. Após, o desrespeito às tradições aumentou.
Camargo subiu o tom e disse que “a escravidão foi benéfica”, defendeu a extinção do movimento negro e do feriado da Consciência Negra, falou que “a negrada aqui reclama porque é desinformada pela esquerda”, escreveu que “merece estátua, medalha e retrato em cédula o primeiro branco meter um preto militante na cadeia por crime de racismo”, disse ser favorável que “alguns pretos fossem levados à força para a África” e recentemente publicou no Diário Oficial da União (DOU) um decreto alterando os nomes de personalidades negras homenageadas pela fundação Palmares.
Em resposta à cantora e compositora Lecy Brandão, que reagiu às suas ofensas e o chamou de “imbecil”, Camargo, usou o termo denegrir, considerado racista. “A lista da Fundação Palmares (de personalidades) prestará homenagens póstumas a partir de 1 de dezembro. Xingamentos denigrem o legado do artista e reduzem as chances de sua inclusão no futuro”, escreveu pelo tweeter. Formado em jornalismo, Camargo, ainda assim, considera “dever moral de todo direitista desacreditar artistas e jornalistas”, conforme publicou o Yahoo Notícias.
Ele passará
Entre as estratégias de esvaziamento da Fundação está a total ausência de investimentos. Denúncias de integrantes do movimento negro apontam que Camargo, em 2020 até setembro, aplicou apenas 47,52% do orçamento, o menor percentual desde 2012. Ontem, Dia da Consciencia Negra, mais de 50 lideranças entraram com representação contra ele o Ministério Público, na Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, por improbidade administrativa. No documento, ressaltam que Camargo “vem desafiando os limites da ordem jurídica e o real compromisso do Estado Brasileiro com a promoção da igualdade social”.
Carlos Moura, fundador e primeiro presidente da Fundação (1988-1990/2000-2003), disse que sente um misto de “tristeza e revolta”. “Mas, nesses sentimentos, existe a esperança de que não nos dobrarão. Hoje é um dia de alegria. O Movimento negro está vivo”, ressaltou. A saída para a mudança nos estragos que estão sendo perpetrados por Camargo, destacou, é o voto. “Creio no poder do exercício da cidadania. Já estamos nos preparando para a virada, em 2022. A mudança começa agora, pela via democrática”, reforçou Moura.
Ele entende, por outro lado, que a chegada de Camargo no cargo não é um fato isolado. “Se deve às atitudes de quem o nomeou. Vivemos em um estado de desrespeito aos direitos humanos e à prática da liberdade, onde um grupo social se considera melhor e os demais não têm passado nem futuro. O titular da Fundação infelizmente não está sozinho. Muitos negros introjetaram esse comportamento. O trabalho para superação do racismo e do preconceito perdeu a dinâmica, do ponto de vista do Estado”, afirmou Carlos Moura.
Dulce Pereira (1996-2000), arquiteta e especialista em comunicação social, entende que a atual organização do Estado, a partir do Executivo, é feita para a retirada dos direitos, de valores de identidade do povo negro, do poder em relação ao território. E Palmares faz parte desse conjunto. “O distanciamento do Estado das populações específicas – negros e indígenas – é um processo de desmonte de tudo que foi conquistado a partir dos anos de 1980”. A tentativa de apagar a memória não é nova – com a negação da existência, hoje cientificamente comprovada, da prática do racismo, segundo Dulce.
“Não há surpresa nesse processo, o que há é uma desresponsabilização com mais de 50% da população e com processo de inclusão econômica e social, de espaço e de direitos. Não se pensa em direitos absolutos. Até se permite estratégias ou mecanismos de inclusão na universidade ou de formação e capacitação e de aumento da população negra no setor público, por exemplo. Mas os direitos fundamentais, como a história, esses estão sendo retirados, as instituições são esvaziadas, as lideranças são desqualificadas e deixam de servir de referência”, alertou Dulce Pereira.
Arquiteto e produtor cultural, Zulu Araújo foi presidente da Fundação Palmares de 2007 a 2010. Ele lembra que o momento político afeta a todos. Os negros não são exceção. “Não podemos esquecer que Hélio Bolsonaro foi eleito como deputado. Um negro racista e de direita e um dos mais votados. A regra é o retrocesso. A questão ideológica não perpassa a questão racial. Isso acontece no mundo inteiro, inclusive na África. E para o presidente da Fundação Palmares, a cor da pele não significa nada”, exemplificou.
O futuro, segundo Zulu Araújo, terá que ser baseado em alianças. Não se trata de uma guerra entre negros e brancos. “A questão é entre antirracistas e racistas. Temos que usar nossa Inteligência para fazer aliados. É preciso ficar claro que não queremos supremacia negra e muito menos supremacia branca”. Ele disse que não teme as “medidas irresponsáveis” que estão sendo agora levadas a cabo. “Não tenho receio dessas irresponsabilidades. Toca a zabumba que a terra é nossa. Eles é que não sabem”, reforçou.
Câmara na campanha “21 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher”
Debates virtuais começam nesta sexta (20) e vão até o dia 10 de dezembro. A iniciativa, no Brasil desde 2003, incorpora à campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher” o “Dia da Consciência Negra”, celebrado em 20 de novembro, a partir das 15 horas, em alusão à dupla vulnerabilidade da mulher negra.
A Câmara dos Deputados, por meio da Secretaria da Mulher e da Primeira-Secretaria, participa, a partir desta sexta-feira (20), da campanha “21 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher”. Realizada anualmente em cerca de 150 países, seu objetivo é conscientizar a população a respeito dos diferentes tipos de agressão cometidos contra meninas e mulheres.
“16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher”
A campanha mundial “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres” começou em 1991, quando mulheres de diferentes países, reunidas pelo Centro de Liderança Global de Mulheres (CWGL), iniciaram uma campanha com objetivo de debater e denunciar várias formas de violência contra as mulheres no mundo. Inicia-se no dia 25 de novembro, Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher, uma homenagem às irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa, conhecidas como “Las Mariposas”, assassinadas em 1960 por seu ativismo em oposição ao governo do ditador Rafael Trujillo, que presidiu a República Dominicana de 1930 a 1961, quando foi deposto. Estende-se até o dia 10 de dezembro, data da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Por Alvaro Diaz y Adony Flores – Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=52247329
Programação
Os eventos serão transmitidos pelo e-Democracia, pela TV Câmara e pelo canal da Câmara no YouTube:
20/11
15h – Debate “A saúde da mulher negra na pandemia”
16h30 – Oficina de turbantes com @Olégario.turbantes – a arte de empoderar cabeças
25/11
11h – Lançamento da campanha e Painel I – Debate “Violência contra a mulher na pandemia”
27/11
15h – Debate sobre as “Vítimas do Essure”
30/11
15h – Painel II – Debate sobre “Violência Institucional”
16h – Painel III – Debate sobre “Violência contra vulneráveis”
04/12
15h – Balanço das Eleições e Violência Política de Gênero
06/12
Ação na Internet com o uso das tags #EuMeComprometo e #HomensPeloFimDaViolênciaContraAsMulheres;
10/12
15h – Entrega da Premiação do Concurso sobre Lei Maria da Penha e encerramento dos 21 dias de ativismo
A programação também está disponível no portal da Câmara.
Exposição virtual “Saúde Preta Importa” celebra o Dia da Consciência Negra
Mostra estará disponível na página do Centro Cultural Câmara dos Deputados na internet a partir desta sexta (20). A mostra traça um breve panorama da saúde da população negra brasileira, com dados oficiais comparativos sobre várias doenças, como, por exemplo, o número de mortos e infectados por Covid-19.
Em celebração ao Dia Nacional da Consciência Negra, a Câmara dos Deputados apresenta, a partir desta sexta-feira (20), a exposição virtual “Saúde Preta Importa”, que ficará disponível no portal da Casa, na página do Centro Cultural, por prazo indeterminado. A mostra apresenta dados de pesquisas, textos explicativos, fotos, vídeos, gráficos e infográficos, com destaque para os principais problemas que afetam a saúde física e mental dos negros, as conquistas legais e os desafios que ainda persistem, em grande parte, por conta do racismo estrutural da sociedade.
Inspiração
O título da mostra foi inspirado no movimento Black Lives Matter, que reivindica a preservação de vidas negras em todo o mundo. O Black Lives Matter é uma intervenção ideológica e política criada em 2013 em resposta ao assassinato do adolescente Trayvon Martin e que visa protestar contra a brutalidade policial e todo o tipo de violência motivada por questões raciais direcionadas a pessoas negras. O movimento se fortaleceu em maio de 2020, quando o negro estadunidense George Floyd foi estrangulado por um policial em uma abordagem na cidade de Minneapolis, EUA. O ato causou grande comoção, ensejando manifestações em diversos países em clamor pela preservação de vidas negras.
Inclusão racial na liderança das empresas decresce no Brasil
Segundo censo do IBGE 54% da população é negra
Num momento em que os episódios de ódio crescem dia a dia no Brasil, a valorização da diversidade exige ainda mais atenção e dedicação de quem está à frente das decisões, seja nas empresas ou em outros setores da sociedade.
E esse debate fica ainda mais necessário com a proximidade do Dia da Consciência Negra (20/11) – marco de conscientização, engajamento e olhar crítico sobre o tema, que nos exige maior reflexão sobre os avanços e sobre o caminho que o Brasil ainda tem a percorrer no que se refere à valorização da diversidade.
Para Liliane Rocha, empreendedora negra, que vivenciou todas as dificuldades e preconceitos na própria pele e fez disso uma alavanca para fundar a Gestão Kairós – consultoria especializada em Diversidade e Sustentabilidade e lançar o livro “Como ser um líder inclusivo”, há poucos motivos para comemorar.
“Principalmente no que se refere ao mercado e as condições de trabalho para os profissionais negros. Se considerarmos o resultado do perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas brasileiras, publicado pelo Instituto Ethos em 2010 e 2016, os percentuais da presença de profissionais negros na alta liderança decresceu”, explica.
Os dados do Instituto Ethos demonstram que em 2010, os profissionais negros compunham 31,1% dos quadros funcionais, e 5,3% no quadro executivo. Já em 2016, nos quadros funcionais o mesmo público representava 35,7%, e no quadro executivo, 4,7%.
Numa análise dos números é possível concluir que nos últimos anos houve uma pequena evolução da presença de negros nos quadros funcionais, mas por outro lado, tivemos queda no percentual de negros na alta liderança. “A leitura que fazemos dessa realidade apontada pelos números é: o negro ainda é visto como mão de obra barata no Brasil, mesmo sendo 54% da população e que ainda há muito espaço para o negro ocupar dentro das organizações, basta que as empresas passem a praticar realmente a inclusão e valorização da diversidade e comecem a espelhar também dentro de seus quadros funcionais a demografia do país”, espera Liliane Rocha.
A especialista, que atua há 14 anos apoiando empresas e instituições a adotarem práticas mais inclusivas em suas estratégias de negócios, está à disposição para falar sobre os avanços e retrocessos da diversidade racial nos quadros corporativos, bem como sobre outros aspectos relacionados ao racismo, direitos da população negra e sobre o Dia da Consciência Negra como marco da luta por mais representatividade.
Liliane Rocha – É CEO e Fundadora da Gestão Kairós – consultoria especializada em Sustentabilidade e Diversidade. Autora do livro “Como ser um líder inclusivo”. Mestre em Políticas Públicas pela FGV, MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade na FGV. Professora de Sustentabilidade e Diversidade na FIA/USP, SENAC e ESPM.
È especializada em Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral, Mestre em Coaching pela Sociedade Brasileira de Coaching, graduada em Relações Públicas na Cásper Líbero.
Últimos dias: Fundo Brasil seleciona projetos de combate ao racismo até 31 de agosto
Cada grupo selecionado receberá até R$ 70 mil. Os selecionados serão divulgados até o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra
As organizações interessadas em apresentar projetos para o edital “Enfrentando o racismo a partir da base: mobilização para defesa de direitos” têm até o dia 31 de agosto para fazer a inscrição.
O Fundo Brasil de Direitos Humanos vai doar R$ 490 mil para iniciativas que combatem o racismo vivenciado pela população negra. O edital é um apoio a organizações com ações voltadas à luta contra a discriminação racial no país.
Os projetos apoiados pela iniciativa, em parceria com a Fundação Open Society, receberão até R$ 70 mil para as atividades em um prazo de até 18 meses. As inscrições podem ser feitas pela internet (a partir do link do edital). Os selecionados serão divulgados até o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.
“Serão apoiadas iniciativas que tenham por objetivo o enfrentamento ao racismo e suas mais diversas decorrências sociais, tais como discriminação, preconceito, criminalização, ausência de perspectivas, violência, feminicídio e genocídio”, afirma Maíra Junqueira, coordenadora executiva adjunta do Fundo Brasil.
Ao apoiar esse tipo de projeto, o Fundo Brasil fortalece organizações e iniciativas que buscam transformar a realidade de desigualdades gritantes, comprovada em recentes pesquisas:
- De todas as pessoas assassinadas no Brasil em 2016, 71,5% eram negras (Atlas da Violência 2018, Ipea)
- De 2006 a 2016, o número de negros vítimas de homicídio aumentou 23%, enquanto o de não-negros diminuiu 6,8% (Atlas da Violência 2018, Ipea)
- Entre 2003 e 2013, o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54% enquanto o índice de feminicídios de brancas caiu 10% (Mapa da Violência 2015, Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais)
- Mais da metade das 622 mil pessoas encarceradas no Brasil são negras (Infopen – Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias)
- Em 2015, brasileiros brancos ganhavam em 2015 o dobro do que os negros (“A distância que nos une – Um retrato das desigualdades brasileiras”, Oxfam)
“Há uma diversidade, radicalidade e uma quantidade muito significativa de iniciativas de resistência ao racismo”, comenta Douglas Belchior, consultor da fundação nos temas Justiça Criminal, Violência de Estado e Encarceramento, que percorreu oito estados brasileiros para mapear os projetos que atuam no enfrentamento ao racismo. Para ele, essas iniciativas ganham ainda mais força a partir de apoios como o oferecido pelo edital, permitindo que organizações e coletivos possam resistir e crescer.
Sobre o Fundo Brasil de Direito Humanos
O Fundo Brasil de Direitos Humanos é uma organização independente, sem fins lucrativos e com a proposta inovadora de criar meios sustentáveis para destinar recursos a organizações sociais que lutam pela defesa dos direitos humanos. A partir do apoio financeiro e técnico oferecido a essas organizações, o Fundo Brasil viabiliza o desenvolvimento de projetos de defesa e promoção de direitos humanos em todas as regiões do país, impactando positivamente no dia a dia de milhares de pessoas. Em atividade desde 2006, o Fundo já apoiou mais de 400 projetos.