O município de Caldas, em Minas Gerais, poderá ter um depósito de longo prazo para armazenar Torta II (material radioativo), semelhante ao de Goiânia, onde foram depositadas toneladas de materiais contaminados por césio-137, devido ao acidente ocorrido há 34 anos. O depósito de Caldas também teria estruturas de concreto enterradas, próximas à superfície, como em Goiânia
Foto: INB
A denúncia do Blog da Jornalista Tania Malheiros destaca que a informação foi dada nesta quarta-feira (20/10) pelo superintendente de desenvolvimento da Diretoria de Recursos Minerais da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Diógenes Salgado Alves, durante audiência pública na Câmara dos Vereadores da cidade, que discutia a solução para o destino de cerca de 12 mil toneladas de Torta II, material radioativo, estocadas em Caldas. Lá, a INB manteve mina de urânio esgotada há anos, mas o local passou a receber Torta II de outras unidades paulistas.
“Atualmente a solução proposta para remediar a situação é o armazenamento de toda a Torta II em novos galpões. Nessa proposta todos os tambores e bombonas deverão ser reembalados. O que está a granel deverá também ser acondicionado em tambores. Mas continuará sendo uma solução intermediária”, afirmou o superintendente. Durante a audiência, ele também informou planos para contratação se serviços em 2022, e ações em 2023.
As ações em curso para o armazenamento da Torta II, segundo ele, são: remediação da situação de 1.100 tambores e 400 bombonas, com prazo de abril de 2022, a troca das coberturas dos silos; contratação do projeto executivo do novo Ponto de controle, estudos para a identificação de local preferencial para a alternativa de armazenamento de longo prazo. E mais: reembalar os tambores metálicos deteriorados até dezembro de 2023, por exemplo.
Terrenos –
O mais recente caso envolvendo o material radioativo de Caldas voltou à tona no dia 27 de agosto, divulgado pelo blog de Tania Malheiros. No dia seguinte, a INB confirmou estar dialogando com o Ministério Público Federal de São Paulo e de Pouso Alegre, a transferência de mais Torta II para a sua unidade em Caldas. O material radioativo sairia de sua Usina de Interlagos (USIN) e de Botuxim, em Itu. A intenção, segundo fontes, é a venda dos dois terrenos em locais valiosos. A notícia desagradou à população e os parlamentares de Caldas. A partir daí têm sido frequentes as ações públicas para impedir que a cidade receba a Torta II paulista.
Antpen luta na Justiça
Os rejeitos radioativos fazem parte do estoque acumulado durante mais de 20 anos da Nuclemon, no Brooklin (SP), empresa da INB, que manuseou torta II e outros materiais nucleares, desde a década de 70. A longa história gerou prejuízos materiais e humanos incalculáveis, como a contaminação de trabalhadores da empresa, que durante décadas, sem saber, manusearam elementos radioativos. Até hoje o caso da Nuclemon gera revolta aos ex-funcionários da empresa, fechada em 1992.
Abandonados pelo poder público, as vítimas e familiares – pois muitos já morreram-, em 2006, fundaram a ANTPEN (Associação Nacional dos Trabalhadores da Produção de Energia Nuclear), para lugar pela causa. São dezenas de pedidos de indenização na Justiça Paulista. Até hoje, o máximo que as vítimas conseguiram foi o pagamento de um plano de saúde.
Na Justiça, a INB indica Caldas para receber mais material radioativo, alegando que o lugar é excelente para este objetivo. Indica também o município de Buena, em São Francisco de Itabapoana (RJ).
Assim como o governo vendeu o terreno da Nuclemon no Brooklin por R$ 12.279,00 o metro quadrado; segundo fontes, a intenção da empresa é esvaziar e fazer o mesmo com o terreno da USIN avaliado hoje em cerca de R$ 3.469,55 por metro quadrado.
Segundo o cronograma inicial de transferência da INB, conforme documentos do Ministério Público Federal – Procuradoria da República de São Paulo – a Torta II seria transportada para o local neste primeiro semestre de 2021 e primeiro semestre de 2022 e, ainda, no primeiro bimestre de 2023. O transporte efetivo desse material está previsto para o primeiro semestre de 2025. As promessas de buscar soluções para o problema ficaram consignadas em ata na audiência pública realizada ontem. FOTOS: Unidade Industrial, galpão e tambores.