BARRACO NO ITAMARATY

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O Itamaraty entrou na campanha salarial de 2015 dividido. Filiados ao Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores (Sinditamaraty) e à Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB) discordaram diante de 31 diferentes categorias que discutiam a proposta do governo de reajuste de 21,3%, em quatro anos, na tarde de terça-feira. Segundo a presidente do Sinditamaraty, Sandra Nepomuceno, as divergências são “normais” e levam ao entendimento. “O que foi aviltante foi a presença de alguém que representa o patrão na mesa de negociação dos empregados”, indignou-se.

O bate-boca, que durou mais de meia-hora, conforme sindicalistas que não quiseram se identificar, causou embaraço ao secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça. “Embora a ADB negue, eu tenho a gravação provando que Mendonça falou na frente de todos ter recebido uma ligação do MRE, ou seja, do governo. Por isso, permitiu o acesso de Adriano Pucci (representante da ADB e chefe da Coordenação-Geral de Modernização do Itamaraty — CMOR). Esse senhor não precisava lavar roupa suja na reunião, foi constrangedor“, reforçou Sandra. Em nota, o Sinditamaraty informou que é o único autorizado a negociar pelos empregados.

O sindicato assinalou que a interferência de “membros dos órgãos públicos designados para falar em nome da administração da Casa, concomitantemente em nome de categoria de servidores, fere a representatividade sindical garantida em lei e abre perigoso precedente para que outros sindicatos tenham de admitir ingerência de associações e membros da administração do órgão em suas negociações”. Dessa forma, o Sinditamaraty manifestou repúdio à participação de Adriano Pucci ou de qualquer representante da ADB.

Na versão da ADB, o Sinditamaraty cometeu uma série de irregularidades. Convocou a totalidade da categoria (diplomata, oficiais e auxiliares de chancelaria) à assembleia e permitiu acesso somente dos filiados. “Somos minoria porque, historicamente, as carreiras de estado nunca pensaram em se sindicalizar. Isso é novo para nós”, disse a presidente da ADB, Vitoria Alice Cleaver. Ela negou também que Adriano Pucci tenha sido indicado pelo MRE. “Foi uma carta minha. Eu pedi o assento”, revelou.

O que azedou a relação entre as duas entidades, acusou Vitória, foi o fato de que o Sinditamaraty aceitar o aumento de 21,3% e, em seguida, decidir por fazer uma correção desigual. Ou seja, do total do reajuste, 63,2% iriam para os oficiais, 56,8%, para os assistentes, e 5% os diplomatas. “Como foi impossível o entendimento, decidimos não participar das assembleias e buscar a nulidade na Justiça do Trabalho. Queremos um índice que possa cobrir a corrosão inflacionária e também a distribuição linear”, contabilizou Vitória.
Brasília, 16h14min