Por Adriana Izel e Vinicius Nader
Durante muito tempo, o termo “showrunner”, que se refere aos profissionais responsáveis pela criação e liderança de uma série, foi usado apenas na televisão internacional. Não mais. Desde que a televisão brasileira passou a investir nas produções seriadas, a função começou a aparecer no Brasil, mesmo que o jargão ainda seja pouco usado.
Um dos showrunners mais populares hoje no país é o jovem Pedro Aguilera. Ele foi o primeiro brasileiro a assumir essa alcunha dentro do mundo de produções originais da Netflix. É dele a ideia e a concepção de 3%, ficção científica que se tornou na produção de língua não inglesa mais assistida nos EUA e surgiu de uma websérie postada na internet.
Após o primeiro projeto de sucesso, que já teve três temporadas, Aguilera, em breve, será o nome por trás de outra atração original do serviço de streaming: Onisciente, suspense com ambientação futurista com estreia prevista para 2020. “Acho que é muito bom que estejamos fazendo muitas séries. Como toda indústria que começou a se aquecer independente, estamos aprendendo bastante”, definiu Pedro Aguilera, em entrevista ao Correio.
A plataforma de streaming abriga outros nomes que podem ser encaixados no termo. É o caso de Felipe Braga, que, ao lado de Rita Moraes (produtora-executiva), esteve à frente da comédia Samantha!, atração com duas temporadas exibidas na plataforma sobre uma ex-estrela mirim dos anos 1980, e de Sintonia, trama sobre três personagens na periferia paulista. A parceria dos dois segue também para outro projeto seriado ainda a ser lançado: Lov3, aposta da Amazon Prime Vídeo no cenário brasileiro sobre relações contemporâneas.
Coisa mais linda, sucesso em 2019 na Netflix ao abordar a história de mulheres nos anos 1920, tem como showrunner Giuliano Cedroni. Produtor, roteirista e diretor, ele já havia trabalhado com séries em 2013, quando foi um dos criadores, ao lado de Tatiana Roza, de Copa Hotel, do GNT. No currículo ainda tem Até que a morte nos separe, seriado que retratou crimes passionais que aconteceram na década de 1990 no Brasil.
Mostrando que o streaming é o principal produtor de showrunners no Brasil, há dois outros nomes em destaque no cargo na Netflix: Raphael Draccon e Carolina Munhóz. O casal está junto em O escolhido, primeira produção brasileira sobrenatural da plataforma, e Cidade invisível (projeto em que acompanham Carlos Saldanha), onde atuam tanto como produtores, como roteiristas.
Não é só a Netflix que abre espaço para os profissionais, a Globo, com o Globoplay, o GNT e a HBO também, por serem emissoras que investem no formato seriado. Na Globo, dois nomes chamaram atenção em 2019: Carla Faour e Júlia Spadaccini, responsáveis por Segunda chamada, série que aborda a realidade da educação adulta. Carla havia trabalhadora como colaborada na primeira temporada de Vai que cola, do Multishow, enquanto Júlia tem no currículo Amorteamo, minissérie em cinco capítulos exibida em 2015 na Globo. Esse também foi o caso de Maria Camargo, a autora já havia trabalhado na minissérie Dois irmãos, e, recentemente, ficou à frente de Assédio, também do Globoplay.
José Junior foi outro nome que criou para a Globo, mais especificamente para o Globoplay. Ele é o showrunner de A divisão, thriller policial que conta a história da criação da Divisão Anti-Sequestros (DAS). Junior ainda tem outra série engatilhada: Veronika, atração criada por ele para o GNT que deve ser protagonizada por negros.
No ano passado, a HBO lançou Pico da neblina. Série que se passa em uma realidade paralela em que a maconha é legalizada no país, a produção tem entre os criadores Chico Mattoso. Escritor, tradutor e roteirista, ele também tem no currículo do mundo de produções seriadas Rio, eu te amo.
No Brasil o conceito de showrunner não é usado nas novelas, quem acaba assumindo esse papel são os autores dos folhetins. Mesmo que o formato esteja desgastado, há lampejos de renovação no ar.
A começar pela aposentadoria ou afastamento de autores clássicos, como Manoel Carlos, criador de sucessos como Por amor (1997) e Sol de verão (1982). Silvio de Abreu, atualmente, ocupa cargo burocrático na dramaturgia da Globo e está longe da criação propriamente dita. Mais recentemente, Aguinaldo Silva não teve o contrato renovado pela emissora. Vale lembrar que estamos falando de nomes por trás de sucessos como Rainha da sucata (1990) e Tieta (1989), respectivamente.
A saída — mesmo que temporária — de alguns desses nomes do mercado acaba abrindo espaço para outros chegarem, o que pode trazer frescor ao formato. Amor de mãe, elogiada novela das 21h da Globo, é exemplo disso. A trama é a primeira novela de Manuela Dias e traz para os folhetins uma linguagem que flerta com as séries e com o cinema, marca também vista nas minisséries escritas por ela, Ligações perigosas (2016) e Justiça (2016).
Os autores Rosane Svartman e Paulo Halm, de Bom Sucesso, estão na segunda novela — a outra foi Totalmente demais (2015) — e vêm se destacando pela agilidade dos acontecimentos. A famosa “barriga” em que a novela fica estacionada quase não existe. Vale frisar que essa nova geração — que ainda tem nomes como Daniel Ortiz, Thelma Guedes e Duca Rachid, entre outros — não deixa elementos do tradicional folhetim de fora. É mais uma modernização do que uma negação.
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