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Série Colônia é um contundente choque de realidade

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Com Colônia, o Canal Brasil se vale de histórias que poderiam ser de época, mas expõem feridas da sociedade contemporânea

O Canal Brasil vem lançando, quietinho, séries que mereciam muito mais barulho. Foi assim com as boas Os últimos dias de Gilda (2020) e Hit parade (2021) e, mais recentemente, com a excelente Colônia. Arrisco a dizer que a série dirigida por André Ristum é uma das melhores do semestre, levando-se em conta produções em todas as emissoras e plataformas de streaming. Os seis episódios de Colônia estão no streaming do Canal Brasil e no pacote estendido do Globoplay.

Logo no início, a série faz questão de deixar claro que as histórias não são reais, embora pudessem ser. A série se passa no hospital psiquiátrico Colônia, no interior mineiro, na década de 1970. O local, na verdade, é um “depósito” de gente que a sociedade quer esconder.

Elisa (a excelente Fernanda Marques) foi levada para lá pelo pai por engravidar solteira, e logo encontra outros pacientes que, assim como ela, recebem diagnósticos falsos de doenças psiquiátricas. São os casos do alcoólatra Raimundo (Bukassa Kabengele), da prostituta Valeska (Andréia Horta), do homossexual Gilberto (Arlindo Lopes) e de dona Wanda (Rejane Faria).

A única coisa que eles têm é uns aos outros. Laços quase familiares são formados entre eles, que se ajudam como podem e contribuem para que a sanidade de cada um deles seja mantida. Além do preconceito que os levaram até o Colônia, os pacientes enfrentam a truculência de médicos inescrupulosos e a violência de “tratamentos” como choques elétricos e sessões de tortura. Elisa se assusta a cada amigo de quem escuta os gritos. Eles ecoam na cabeça dela e no nosso coração — são doídos porque sabemos que essas “casas de recuperação” não são obras de ficção, infelizmente. Assim como não está no passado o preconceito da sociedade.

Colônia segue a estética que permeia a obra de André Ristum, diretor, entre outras obras também muito boas, dos filmes Meu país (2011) e Nina (2004). A fotografia de Colônia, com as cenas em preto e branco, reforça a dramaticidade das cenas. André tira o melhor de cada ator. Além de Fernanda Marques, Rejane Faria e Bukassa Kabengele têm excelentes momentos. Aury Porto, como Dr. Carlos, também está muito bem. É dele, inclusive, uma das reflexões mais duras de Colônia: “Achei que tivesse me formado em medicina para salvar vidas”.