Primeiro episódio de Aruanas será exibido nesta quarta-feira, na Globo. Saiba o que esperar da série, disponível no Globoplay!
O serviço de streaming da Globo, o Globoplay, vem recebendo críticas de que suas produções próprias têm mais a cara de novela do que de série. Foi assim com Se eu fechar os olhos agora e um pouco menos com Assédio. Pois Aruanas – cujo primeiro episódio será exibido nesta quarta-feira (3/7) na Globo, após A dona do pedaço – foge a essa regra.
Como um grito de independência, a série de 10 capítulos não tem cara de novelão (embora alguns elementos estejam ali, o que acontece com séries consagradas como This is us e Big little lies sem que isso seja apontado como um erro) e o caminho para a segunda temporada fica aberto. Mesmo que seja cedo para afirmar, a maturidade parece ter chegado ao Globoplay (saiba como assinar).
Aruanas tem texto afiado de Estela Renner e Marcos Nisti e direção certeira de Carlos Manga Jr.. No elenco, nomes conhecidos, como Leandra Leal, Camila Pitanga, Debora Falabella e Taís Araújo, além de promessas, como Thainá Duarte.
A série mostra o dia a dia da ONG Aruanas, destinada a causas ambientais e coordenada pelo trio poderoso e empoderado Luísa (Leandra Leal), Verônica (Taís Araújo) e Natalie (Debora Falabella). A ONG ainda tem no staff a estagiária Clara (Thainá Duarte) e o faz tudo André (Vitor Thiré), entre outros.
Em plena Amazônia, na cidade de Cari (AM), eles tentam conter a ganância do empresário Miguel (Luiz Carlos Vasnconcellos), que não mede esforços para ver a empresa KM prosperar. Por prosperar, entenda-se desmatar, lançar mercúrio na água e incentivar o garimpo ilegal desde que isso traga lucro para ele. O vilão conta com a ajuda do braço direito, Felipe (Gustavo Falcão), e da advogada Olga (Camila Pitanga), talvez a maior vilã de Aruanas.
Leia a crítica da temporada de Aruanas (Com alguns spoilers!)
O primeiro episódio de Aruanas, que será exibido na tevê aberta nesta quarta, serve para conhecermos os principais personagens — menos Olga, que só aparece a partir do segundo capítulo. De cara, Natalie dá o recado da série: como mediar o conflito entre grileiros, índios e fazendeiros, já que todos se dizem donos da mesma terra?
Aruanas poderia ser uma série de nicho, com ativistas desfilando números de desmatamento, índios assassinados e animais em extinção. Mas não. Essa parte está lá e bem representada por diálogos fortes e cenas tocantes. Mas a série vai além. O olhar de cada uma das protagonistas e de Clara sobre a ecologia e sobre ativismo social permeia a visão que elas têm da vida e isso aparece quando entramos no mundo particular de cada uma delas.
Luísa, Verônica e Natalie são heroínas, mas passam longe de serem perfeitas. É como se fosse Malu mulher da ecologia, pois toca em temas importantes e atuais sem perder a emoção de vista. Os autores de Aruanas acertam ao não endeusar o trio de protagonistas. Luísa falha com o filho e se culpa, o que a acaba levando a uma briga judicial pela guarda do menino com o ex-marido Gilberto (Samuel Assis). Também não hesita em roubar o prontuário de pacientes do hospital da cidade.
Verônica é apresentada a Clara por André como uma “lobista do bem”, o que não impede a advogada de passar por cima de alguns princípios éticos para conseguir o que quer, como participar do jogo do toma lá dá cá do Congresso Nacional. Isso sem falar que ela mantém um caso com o marido de Natalie, Amir (Rômulo Braga).
Natalie vive um casamento de fachada com Amir, em meio a dor de uma gravidez interrompida. Na verdade, ela coloca a vida pessoal em segundo plano, em benefício da profissional, seja como jornalista, seja como ativista. E Clara aparece na Aruanas fugindo de um relacionamento abusivo com Ramiro (Rafael Primot)
Por outro lado, os vilões também fogem da caricatura e são humanizados, o que é bem interessante. Miguel, por exemplo, tem uma neta, Gabi, com paralisia cerebral e gasta todo o carinho que tem cuidando da menina, já que a mãe dela morreu no parto. Rico, ele investe o que pode num tratamento novo que promete ser revolucionário. A sensível interpretação de Luiz Carlos Vasconcellos só colabora para que Miguel seja uma das figuras mais interessantes de Aruanas. Às vezes, temos vontade até de concordar com ele.
Felipe, o fiel escudeiro dele e padrinho de Gabi, vive um dilema ético com relação às ações da KM e guarda um segredo do passado que o tornará ainda mais crível. Só Olga parece um personagem mais caricato, é daquelas vilãs saídas de história em quadrinhos para as quais tudo vai dando certo. Pouco à vontade, Camila Pitanga não ajuda a frágil personagem.
Além do ativismo e do lado emocional dos personagens, Aruanas guarda um ar de mistério. Logo no primeiro capítulo, Luísa recebe uma denúncia contra a KM e Otávio (Sérgio Pardal) promete a ela um dossiê completo com falcatruas da empresa. Mas na hora marcada para o encontro, ela descobre Otávio morto no porta-malas do carro dela. Destemidas, as meninas da Aruanas vão tentar desvendar esse crime antes da corrompida polícia de Cari.
As atuações do elenco de Aruanas são, em geral, boas. Leandra Leal, Taís Araújo, Thainá Duarte, Luiz Carlos Vasconcellos e Gustavo Falcão se destacam. Camila Pitanga é que destoa um pouco.
A fotografia também encanta — não é muito difícil pelo cenário onde se passa Aruanas –, mas não surpreende. É bom ver Brasília na tela, mesmo que com os batidos pontos turísticos dos três poderes. É divertido tentar descobrir em que hotel Verônica está hospedada ou onde ela janta com um senador.
Aruanas vale os 10 capítulos que tem, pois mescla boas doses de drama, ativismo social e mistério. Tem cara de série (com cenas mais picantes, texto mais pesado e atuações menos marcadas) e pode despertar para a vontade de uma maratona. Eu apostaria numa segunda temporada.