Samuel Melo: o ator mirim cresceu e tornou-se príncipe

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Revelado aos 9 anos vivendo um menino escravo traficado, o carioca de 34 anos, nascido e criado no Vidigal, vive um membro da realeza africana em Reis

Patrick Selvatti

Em 2024, Samuel Mello completa 25 anos na televisão. O ator, que começou aos 7, no grupo Nós do Morro, estreou na novela Força de um desejo, de Gilberto Braga, em 1999, e, agora, aos 34, celebra a data marcante em um momento especial: ele, que foi o primeiro ator mirim da comunidade do Vidigal — onde ainda vive — a aparecer em uma produção de tevê, agora dá vida ao príncipe de Sabá, Alari, em Reis, na Record. “Pela primeira vez nas novelas brasileiras, o povo preto pode se enxergar também na realeza”, afirmou, ao Próximo Capítulo.

Para Samuel, é muito importante mostrar essa realidade de que não só de escravidão viveram os antepassados negros, mas que houve também rainhas e reis africanos. “Não vejo problemas em atores como eu interpretarem empregados, escravos, vidas marginalizadas. O problema é ser só isso”, argumentou o ator, que também pode ser visto no sitcom Tem que suar, do Multishow, que ele define como uma experiência divertida e muito rica em termos de representatividade. “Foi a primeira vez que vivi um médico, um personagem que entra para completar um time diverso de uma academia composta por pessoas variadas, com corpos diversos, mostrando que um espaço desses não existe apenas para estética, mas também pela saúde, e muita gente tem vergonha de frequentar por não se considerar nos padrões exigidos”, acrescentou.

Após estrear em Força de um desejo como o Dário, um menino escravo que foi tirado da proteção da mãe e vendido, no ano seguinte, Samuel já estava em outra produção, como Tide, na novela Laços de família (2000), um grande sucesso de Manoel Carlos. O ator, hoje, destaca o fato de ter ido de um escravo traficado ao filho de um médico preto bem-sucedido residente no Leblon.

“Me sinto privilegiado de ter estado nesse lugar de pertencimento, mesmo que em uma novela ainda com poucos personagens pretos. Hoje é bem diferente, a realidade mudou, tem trabalho para todo mundo, e vejo semelhantes cada vez ocupando mais esses espaços de destaque nas produções audiovisuais. Fui médico e, agora, vivo um príncipe africano em Reis. Em Anderson Spider Silva, por exemplo, o elenco era todo negro”, comemorou ele, referindo-se à série sobre o lutador de MMA brasileiro, produzida pelo Paramount+, da qual fez parte, vivendo o irmão de Anderson.

Samuel Melo é o príncipe de Sabá em Reis

Referência

Na infância, ainda que desejasse ser da Aeronáutica ou arquiteto, Samuel descobriu o teatro e foi abraçado pelo Nós do Morro — reconhecido grupo de teatro que transforma vidas na comunidade do Vidigal e revelou talentos como Thiago Martins (de Família é tudo), Juan Paiva, Marcello Melo Jr e Renan Monteiro (de Renascer), por exemplo. “Na época da novela Chiquititas, eu assistia acreditando que aquilo era verdade. Comentei com minha mãe que eu queria estar ali, meu pai conhecia uma moça que poderia me ajudar, a Maria, irmã do Paulo Tatá, do Nós do Morro.

“Não sei o que eu seria se não fosse o projeto. O acesso dado pelo Nós do Morro é uma grande porta e um divisor de águas, um grupo magnífico e transformador. Tenho um primo que teve a minha referência e se tornou artista”, relembrou Samuel, ressaltando que se considera um vencedor por conseguir viver da arte, proporcionando uma vida melhor para os pais — é filho único de uma costureira e de um motorista —, mas também de crianças da própria comunidade atendidas pelos projetos sociais dos quais é colaborador.

Ainda criança, Samuel emendou cinco trabalhos na tevê. Além de Força de um desejo e Laços de família, ele esteve em A padroeira (2001), Agora é que são elas (2003) e Chocolate com pimenta (2004). Ainda em idade escolar, ele lembrou que era tranquilo conciliar o trabalho com os estudos, apesar de precisar trocar de escola por conta dos horários. “Eu encarava a atuação como trabalho e gostava de estudar, especialmente matemática e história. Dava para fazer as coisas de forma muito tranquila”, observou.

Aos 14 anos, porém, Samuel decidiu parar de fazer novelas. Vidrado em esportes, ele desejou jogar futebol, e passou os cinco anos seguintes jogando, em clubes cariocas como Sendas, Bangu, Juventus e Botafogo — do qual é torcedor. Perto de fazer 20, entretanto, percebeu que o lugar era na arte e foi costurando o seu retorno para as telinhas. Na Globo, participou da novela Liberdade, liberdade (2016), mas o retorno definitivo ocorreu na Record, com Topíssima (2019), um grande sucesso da emissora, que lhe rendeu até a indicação de um prêmio.

No ano seguinte, o ator esteve no projeto Falas negras, da Globo, dando vida ao ativista negro Malcolm X (1925-1965), escolhido por Lázaro Ramos e Tatiana Tibúrcio. “Foi um salto na minha carreira”, resumiu Samuel.

Streaming

Algum tempo depois, veio Maldivas (2022), série protagonizada por Bruna Marquezine e Manu Gavassi na Netflix. Samuel deu vida ao cantor de axé bissexual Cauã, casado com Raíssa, interpretada por Sheron Menezzes. “Foi um grande trabalho, um marco na minha carreira. Passei por testes, porque cantar e dançar eu sempre fiz, mas não no axé. Cauã foi um personagem muito divertido, e eu contei com a parceria amorosa da Sheron para essa construção”, reconheceu.

Após a série criada por Natália Klein, com uma estética colorida, meio Pedro Almodóvar, Samuel embarcou em uma jornada mais acinzentada, com Fim (2023), criada por Fernanda Torres, e Andrucha Waddington para o Globoplay. Nessa produção, que narra a vida e morte de cada integrante de um grupo de amigos da zona sul carioca, o ator deu vida a Murilo, filho de um dos casais protagonistas da trama.

Fim era genial, com um elenco de peso, porém mais cinza. E não teve como não deixar refletir em nós essa temática da finitude da vida. No caso do meu personagem, o quão doloroso é perder os pais. Fo um jeito bonito de se falar da vida, de falar do fim de uma forma poética”, resumiu o ator, que também pode ser visto como o pastor evangélico Robson na série Um dia qualquer, no Max, e, em breve, na série O jogo que mudou a História, do Globoplay, dando vida ao jogador de futebol Gegê.

“É como se eu retornasse às minhas raízes nesses trabalhos. O primeiro, porque eu nasci, fui criado e vivi, até os 26 anos, dentro de uma igreja evangélica e quase me tornei pastor. E o segundo, porque o Gegê compartilha esse sonho comigo de querer ser jogador de futebol”, finalizou Samuel.

Patrick Selvatti

Sabe noveleiro de carteirinha? A paixão começou ainda na infância, quando chorou na morte de Tancredo Neves porque a cobertura comeu um capítulo de A gata comeu. Fã de Gilberto Braga, ama Quatro por quatro e assiste até as que não gosta, só para comentar.

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