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Rafael Primot dirige série no Amazon Prime e se prepara para novela

Publicado em Entrevista

Rafael Primot assina a direção de um dos episódios de 5 x comédia, no Amazon Prime. Em entrevista, ele fala também sobre a novela Um lugar ao sol e sobre o livro Baby – Você precisa saber de mim. Confira!

Comédia, realidade, crítica, reflexão, educação. Tudo isso está presente em 5 x comédia, série bem-humorada com que o Amazon Prime discute a pandemia a partir de cinco episódios. Um deles, intitulado Colpaso, tem como diretor Rafael Primot.

“O papel da arte é também retratar o momento que vivemos e dar novas perspectivas, e há meios de fazer isso de forma delicada, e até educativa. Brincamos com situações do cotidiano, mas não com a seriedade do tema”, afirma Rafael, em entrevista ao Próximo Capítulo.

Rafael também é ator de séries como Hebe, em que viveu Manoel Carlos, e Tapas & beijos. Mas em 5 x comédia, vemos a faceta de diretor dele. “Optei por não atuar por ser um formato totalmente novo, em que os atores gravaram remotamente”, conta Rafael, acrescentando que teve que mandar câmeras para a casa dos atores, que também não se encontraram.

O cenário da pandemia no Brasil ainda não é de tranquilidade, mas Rafael acredita que uma hora vai melhorar e que o setor cultural voltará a crescer. “O momento agora é de tentar manter alguma tranquilidade e acreditar que depois de todos estarem vacinados, a gente terá um mercado super aquecido, com pessoas sedentas por trabalho e com o público também sedento para consumir arte e cultura”, afirma, otimista.

Entrevista // Rafael Primot

Foto: Caroline Lins/ Divulgação

Na série 5 x comédia, você “brinca” com um assunto sério como a pandemia. Não temeu críticas por isso? Até onde o humor pode ir sem desrespeitar as vítimas do coronavírus?
Fazer humor com temas delicados, como neste caso, requer alguns cuidados, claro. Mas o papel da arte é também retratar o momento que vivemos e dar novas perspectivas, e há meios de fazer isso de forma delicada, e até educativa. Brincamos com situações do cotidiano, mas não com a seriedade do tema. Além disso, eu acho que quando você divide situações com o telespectador que ele também está vivendo, e com humor, você traz uma certa leveza e também faz companhia para aquela pessoa que está passando por aquela situação. Ela se enxerga ali e sente que não está vivendo aquilo sozinha, que as neuroses das situações ali representadas também são vividas por outras pessoas. Também não podemos esquecer da crítica social, a função da arte também visa a reflexão e a educação, e dentro de um contexto geral todos os episódios da série levantam essas questões. Não é só o humor para entreter, é educação e reflexão também.

Você escreveu e dirigiu o episódio Colapso, mas não atuou nele. Qual dessas atividades mais te completa, te dá prazer? Tem como comparar?
Sim, como cada episódio teve direção e roteiro independentes, a gente teve liberdade de poder escolher e eu optei por não atuar por ser um formato totalmente novo, em que os atores gravaram remotamente, enviamos as câmeras pra eles. Achei que seria melhor me concentrar em dirigir, seria muita coisa ao mesmo tempo e num momento muito atípico. Mas atuar me dá muito prazer, minha carreira começou por meio da atuação, e eu não pretendo parar de atuar, mas dessa vez optei por não atuar e me concentrar inteiramente na direção e no roteiro, que já era bastante coisa. Quem sabe numa segunda temporada?

Como foram as filmagens de 5 x comédia com a pandemia? Os atores gravaram de forma isolada, não? Como foi escrever já sabendo dessa pré-condição?
Sim, já sabíamos que filmaríamos de maneira isolada, mas não imaginávamos como seria estruturado as filmagens. Então reescrevemos os roteiros algumas vezes para adaptar as gravações e não promover o contato/encontro entre os atores. Filmamos nas casas dos atores, que receberam as câmeras e foram instruídos a ensinar seus parceiros ou pessoas que estavam com eles na quarentena a usar o equipamento. Escrevi o roteiro pensando nisso, de que maneira as cenas poderiam ser feitas sem o contato e que passasse veracidade. Foi feito um trabalho de direção de arte em um ambiente escolhido pelos atores para preparar o espaço para as filmagens, enviamos alguns objetos, para dar mais veracidade às cenas, e fui dirigindo tudo remotamente.

5 x comédia vem de um grande sucesso teatral, que falava de outra temática. Além do formato das esquetes (aqui episódios), o que a série tem da peça?
A série veio a partir desse espetáculo teatral, que teve duas montagens, sendo a primeira com ideia da Sylvia Gardenberg e a segunda da Monique Gardenberg, irmã da Sylvia. Acho que o que liga os dois é a estética pop, todos têm uma linguagem divertida e leve, que se comunica direto com o público, que, aliás, foi um pedido da Monique, que mantivéssemos isso na hora de dirigir. Como a Monique foi a diretora geral, tivemos o cuidado de fazer as escolhas de direção de arte e de tudo mais juntos, para trazer um pouco do que o espetáculo teatral tinha pra dentro da série. Mesmo cada diretor sendo responsável por cada episódio, existiu essa preocupação de ter essa troca com a Monique para manter essa estética pop.

Durante a pandemia você escreveu o espetáculo e livro Baby, você precisa saber de mim. Como foi essa experiência? O quanto do isolamento está presente no texto?
Eu ensaiei o espetáculo e em seguida fiz a versão para publicação de um livro bilíngue. É um espetáculo que já existia, mas durante a pandemia adaptei para o formato monólogo. Mesmo que a peça não aborde a pandemia, em Baby, você precisa saber de mim você tem a volta ao lar do personagem principal, um escritor de rótulos de embalagens que é chamado pela irmã para retornar pra casa e visitar a mãe doente. Com isso, tem essa volta ao lar. Acho que nesse momento que estamos vivendo as pessoas estão nesse resgate do retorno às origens, das próprias memórias e das relações afetivas.

Você estará no elenco da primeira fase de Um lugar ao sol, próxima novela inédita das 21h na Globo. Como será seu personagem?
Eu estou na primeira fase da novela. Eu faço o personagem do Genésio de Barros que é o pai do personagem do Cauã Reymond e sou responsável pela adoção dos bebês. A trama gira em torno dessa adoção. É um grande prazer fazer esse trabalho, em que eu estou rodeado de pessoas incríveis com quem eu já tinha trabalhado em Tapas & beijos e Hebe, que é o Maurício Farias, é a mesma equipe, tem Andrea Beltrão no elenco. Acho que é uma novela muito bem escrita por uma autora que admiro demais. Estou ansioso para que entre no ar, acho que é uma trama que será um grande sucesso.

Um lugar ao sol já foi adiada algumas vezes pela pandemia, por não ter condições seguras de gravar. Como lidar com essa ansiedade do trabalho de vocês, artistas, está em suspenso, assim como de muitas outras profissões?
Lidar com a ansiedade nesses tempos pandêmicos é um desafio. Nós, artistas, estamos acostumados a lidar com a ansiedade porque o tempo todo a gente lida com as incertezas da profissão, mas em especial na pandemia estamos lidando com novos fatores, com instabilidade financeira e emocional, com produções parando e um mercado bem estacionado, então temos esse adendo aí a mais. Acho que o momento agora é tentar manter alguma tranquilidade e acreditar que depois de todos estarem vacinados, a gente terá um mercado super aquecido, com pessoas sedentas por trabalho e com o público também sedento para consumir arte e cultura.

Além de escrever o espetáculo Baby, o que mais você fez na pandemia? Foi um período mais ligado à produção ou à introspecção para você?
Eu sou um cara muito ativo, eu gosto de estar sempre produzindo coisas. Num primeiro momento eu consegui produzir, publiquei dois livros, montei o monólogo e dirigi e escrevi a série. Mas ao mesmo tempo é um período de introspecção, que chega numa hora que as coisas param naturalmente , que você não tem outra saída a não ser lidar com os fatores do dia a dia, estamos vivendo um momento muito sério e triste da nossa história , com muitas mortes no nosso país. Então é inevitável que a gente se torne mais reflexivo e volte a pensar na vida, nas nossas escolhas, no rumo que o país está tomando. Isso se reflete no nosso trabalho.