Muitas vezes os primeiros capítulos de uma novela são mais para apresentar os personagens ao público. Assinando um folhetim das 21h pela primeira vez, Lícia Manzo jogou essa regra fora em Um lugar ao sol. O resultado foram capítulos movimentados, com as tramas já caminhando. A autora demonstra não ter muito tempo a perder.
Marca registrada de Lícia, o texto de qualidade permeia Um lugar ao sol. Até diálogos banais são caprichados. Quem mais explicaria as diferenças de caráter entre dois irmãos citando Machado de Assis?
Além disso, os ganchos de um capítulo para outro também chamaram a atenção. No último deles, Christian (Cauã Reymond) põe seu segredo em risco em ligação para Ravi (Juan Paiva) atendida por Santiago (José de Abreu).
Havia um certo temor em como Lícia construiria a trama dos gêmeos que não se conhecem por terem sido criados em realidades diferentes. Quando Renato (Cauã Reymond) é assassinado e Christian toma o lugar dele, era tarde demais para não termos empatia por Christian. Mesmo quem não concorda com a atitude do rapaz, se afeiçoa por essa espécie de anti herói. Ter um protagonista sem maniqueísmos é muito saudável para Um lugar ao sol. Nos aproxima dele.
A diferença de classes sociais é tema recorrente em Um lugar ao sol ー mais até do que a troca de lugar dos gêmeos. Especialmente nos personagens Christian e Ravi isso fica mais evidente. Ravi é preso sem poder se explicar por ser negro e estar na favela. Alguns capítulos mais adiante, Christian dispara para o amigo: “Só um idiota romantiza a pobreza” e cita governantes ー “você acha que o governo está prestando atenção em você?”. O rapaz continua: “você lembra o que a polícia fez com a gente?” e questiona se ricos e brancos teriam tido o mesmo tratamento.
Com texto redondo e direção certeira de Maurício Farias, alguns atores já mostraram que não estão para brincadeira. Cauã Reymond interpreta realmente duas pessoas e se destaca ainda mais quando Christian toma o lugar de Renato e finge ser o irmão. Alinne Moraes, como Bárbara, também está muito bem. A personagem já mostrou que está desconfiada das mudanças repentinas de Renato. Ponto para Lícia Manzo. E para Lola, cachorrinha de Bárbara que também não engoliu essa história em cena hilária.
Ana Beatriz Nogueira (Elenice, mãe adotiva de Renato), Marieta Severo (Noca, avó de Lara) e Andréa Beltrão (a modelo Rebeca) tiveram pouco espaço, mas aproveitaram cada cena. Mas são grandes atrizes e isso é costumeiro.
A grande surpresa de Um lugar ao sol tem nome e sobrenome: Juan Paiva. O rapaz já havia chamado a atenção em As Five e Malhação: Viva a diferença. Mas essa é definitivamente a chance de ouro dele. Cenas em que Ravi se revolta contra o racismo da polícia se revezam com o sorriso largo de um menino grande e com o desespero de saber da “morte” de Christian. Não à toa, Juan colheu elogios de Cauã e vem sendo assunto nas redes sociais.
Algumas tramas paralelas de Um lugar ao sol começaram a ser apresentadas. A crise de meia idade de Rebeca parece que vai render. O mesmo não se pode dizer das primeiras impressões de Nicole (Ana Baird). Típica gordinha feliz mostrada na teledramaturgia, Nicole tem ouvido um desfilar de preconceitos, alguns proferidos por ela mesma. Sabe-se pela sinopse que ela vai dar a volta por cima e que isso vai mudar um pouco, mas não dá para negar se esse começo destoou um pouco da delicadeza de Lícia Manzo que já conhecemos tão bem. E que (ainda bem!) vem reinando em Um lugar ao sol.
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