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Mãe: o melhor papel de Fernanda Machado

Publicado em Entrevista

Atriz Fernanda Machado dá um tempo na carreira para cuidar dos filhos Lucca e Leo. Casada com um americano, ela cria os meninos lá, mas gostaria que eles tivessem mais contato com o Brasil

Em 2005, a atriz Fernanda Machado estrelava a segunda novela dela na Globo: Alma gêmea, que está sendo reprisada agora no canal Viva. Na trama de Walcyr Carrasco, ela vivia Dalila, uma mulher que começa má, mas acaba sendo transformada pela maternidade.

Fernanda ainda não sabia, mas Dalila marcaria mais do que a carreira dela. A personagem acendeu na jovem atriz o desejo de ser mãe e marcou um tempo em que ela vivia para o trabalho. “Eu tive a chance de contracenar com uma bebezinha que foi minha filha durante muito tempo. Foram quase 7 meses e eu me apeguei muito a ela”, conta a atriz, em entrevista ao Correio.

A maternidade nunca saiu da cabeça de Fernanda e une as duas fases dela: aquela atriz que depois brilhou em novelas como Paraíso tropical (2007) e em séries como duas temporadas de Impuros (2018) e a mulher mais madura, dedicada a ela mesma e aos filhos.

Hoje, a mãe de Lucca e Leo mora com o marido nos EUA, numa cidade pequena da Califórnia. “Eu moro numa cidade pequena na Califórnia (Santa Barbara), onde é muito tranquilo. Então, os meninos vão a parque, fazemos trilha….tudo sem preocupação, e a gente mora numa casa sem portão, cercada de área verde”, conta Fernanda, dizendo que se preocuparia com a segurança das crianças caso precisasse voltar.

Na entrevista a seguir, Fernanda Machado relembra a carreira e fala, claro, sobre a maternidade. Confira!

Entrevista // Fernanda Machado

Você está na reprise de Alma gêmea e esteve há pouco tempo também na de Paraíso tropical. São duas de suas primeiras novelas. Como é rever esses trabalhos? Você fica se corrigindo, sofrendo ou vai mais pelo caminho da saudade?
Tudo que vi e estou vendo é pela internet, do que as pessoas postam, inclusive o próprio Canal Viva. E o pouco que revi, revi com saudade, com sensação de nostalgia. Não fiquei me corrigindo, não vi de maneira crítica. Ao contrário. Vi como um período bacana da minha vida onde meu trabalho era minha prioridade. Mas uma saudade que parece até vida passada porque hoje vivo uma vida bem diferente (risos).

O que a Dalila, de Alma gêmea, representa na sua carreira?
Acho que ela foi uma personagem muito importante na minha carreira! Ela foi minha segunda personagem na Globo, mas a primeira, a Sonya em Começar de novo, não tinha uma história dela. Já a Dalila foi a primeira que teve a própria história bem contadinha, com começo, meio e fim bem definidos. Ela teve uma transformação… Começa bem vilazinha e, com o tempo, vai aprendendo. Ela sofre uma transformação enorme na novela por conta da maternidade. E, no final, a gente vê que ela se tornou uma pessoa melhor, aprendeu com os erros, que superou, amadureceu e evoluiu. E aí eu tive mais chance de mostrar o potencial do meu trabalho. É uma personagem que me abriu portas para outros trabalhos, tenho certeza.

Há alguma coisa daquela Fernanda Machado na de hoje? O que essas duas Fernandas se falariam caso se encontrassem?
Acho que o que eu tinha naquela Fernanda e que se faz mais presente do que nunca é a questão da maternidade. Muito louco porque nessa novela eu tive a chance de contracenar com uma bebezinha que foi minha filha durante muito tempo. Foram quase 7 meses e eu me apeguei muito a ela. Eu sempre quis ser mãe. Eu amo bebê, criança….Essa Fernanda de Alma gêmea já queria ser mãe. Quem me viu naquela época vai lembrar.. (risos). O Walcyr (Carrasco, autor da novela) sempre que ia visitar o set me via agarrada cuidando da bebê. Ele e todo mundo já comentavam que eu teria filho logo (risos). Eu trocava fralda, botava pra dormir porque a mãe dela na época tinha só 15 anos. Então, eu ajudava muito. Acho que o papo que a gente bateria agora seria algo de maternidade, algo tipo: “Você imaginou que teria dois meninos hoje em dia?”. Na novela era menina. Rolou um amor muito grande mesmo por ela. Hoje ela já é uma moça.

Você está fora das novelas desde Amor à vida (2013). Morando fora do país fica mais difícil se dedicar tanto tempo a uma obra, imagino. Mas você não sente saudades de fazer novela? Toparia passar uma temporada no Brasil para gravar um papel legal?
Sinto saudade de fazer novela e atuar. Atuar, aliás, sempre foi minha grande paixão. Nunca trabalhei com outra coisa na vida. Eu danço e faço teatro desde meus 8 anos. Essa é minha maior paixão, onde mais me encontro. Claro que fica a vontade de voltar e fazer mais trabalho como atriz. Desde que eu tive Lucca, meu filho mais velho, voltei duas vezes ao Brasil para fazer as duas temporadas de Impuros, da Fox. E voltei porque a personagem e o projeto eram muito legais. Só não fiz as outras temporadas porque eu estava grávida do meu segundo filho, Leo. Agora com eles crescendo e a pandemia se resolvendo, eu fico ligada. Se pintar alguma coisa muito legal, muito irresistível como Impuros… Novela que é um ano gravando fica um pouco mais difícil, mas parece que agora estão fazendo novelas menores, né?! Se pintar um personagem incrível com um tempo menor….um ano inteiro acho um pouco difícil pra mim, mas alguns meses sim. Fica aqui a vontade e o coração aberto para alguma possibilidade.

Você está nos EUA desde 2014 e tem filhos pequenos. As condições diferentes de acesso à educação e à cultura entre os dois países pesa na hora de pensar em voltar ao Brasil? Ou essa é uma ideia que nem passa pela sua cabeça?
Eu voltaria tranquilamente a morar no Brasil se a vida me levar para aí, assim como vim pra cá trazida pela vida basicamente. Não foi um plano. Acho que é mais do que a questão da educação e da cultura que tem aqui, porque o Brasil também tem muitas coisas legais, como a cultura, a diversidade, a alegria…e isso seria muito bacana para os meus filhos. Mas o que mais pesa, pensando racionalmente em relação a voltar a morar no Brasil, é a segurança. Eu moro numa cidade pequena na Califórnia (Santa Barbara), onde é muito tranquilo. Então, os meninos vão a parques, fazemos trilha… Tudo sem preocupação, e a gente mora numa casa sem portão, cercada de área verde… Sinceramente, tem muita coisa da cultura do Brasil que quero que meus filhos experimentem em algum momento. Quero que eles morem comigo no Brasil por um tempo. A gente só espera que a segurança melhore porque é difícil viver com medo, né? Mas a gente nunca sabe… Vim para cá porque a família do meu marido (que é americano) precisava da gente. Se algum dia minha família no Brasil precisar de mim, eu vou também. A vida leva a gente. A gente não decide muito, não.

Como é ver a situação atual do Brasil de longe? É uma visão mais amorosa ou é mais crítica?
Eu preciso confessar que, durante a pandemia, tive que parar de acompanhar as notícias do mundo, inclusive do Brasil e daqui dos EUA, porque estava me deprimindo muito. Na época, eu estava grávida do meu segundo filho e tive que parar de saber sobre política e saúde porque estava ficando triste… Acompanho o que meus amigos e familiares me contam ou postam em rede social, mas pouco. E com filho pequeno e amamentando a gente precisa cuidar da saúde mental. Mas fica mesmo a saudade de tudo: das pessoas, da comida, do calor humano…

Você atua nos palcos ou telas americanas? Como é a abertura deles para uma atriz brasileira? Tem como fugir do estereótipo da personagem latina?
Antes de o Lucca nascer fiz uma comédia de baixo orçamento aqui. Foi superdivertido. Tenho contato com parte da equipe até hoje. Mas agora, com Leo com 2 anos e morando a duas horas de LA, dificulta. Como sempre quis ser uma mãe presente ao máximo enquanto eles são pequenos, pelo menos, não dá pra ficar indo para Los Angeles tentar carreira do zero. Fiz algumas audições quando me mudei para cá, tinha uma agente em LA, mas as coisas que pintaram eu já estava grávida do Lucca ou ele já tinha nascido…e depois disso não tentei nada por aqui. Só fui fazer Impuros no Brasil mesmo. Até tenho convite para fazer um novo filme com o mesmo diretor do filme que fiz, num drama. O roteiro me interessou bastante. A gente ia fazer em dezembro, mas com Ômicron adiaram tudo. Gosto de trabalhar com gente que conheço e na hora que o projeto voltar vou estar à disposição.

O mercado tem espaço para uma brasileira?
Acho, sim, que o mercado está muito aberto à diversidade. As pessoas estão interessadas em outras culturas e nos atores latinos (e estrangeiros de forma geral). Acho que nunca teve uma abertura tão grande. É um momento ótimo pra quem tem 20 anos e não tem filhos. Tem que se atirar mesmo, o que não é meu caso (risos). E acho impossível tentar fugir do estereótipo da latina porque, na verdade, é isso que eles querem. Eles querem um mercado mais diversificado mesmo com todos os tipos. É o mercado da inclusão. Acho que tem que abraçar a latinidade e ir feliz da vida. Não é pra mim fazer uma personagem super americana porque não é meu biotipo, não é meu sotaque….Temos que assumir quem somos porque hoje tem espaço pra todos os tipos de atores e atrizes.