Márcio Elizzio aproveita o personagem Marquinhos, de Arcanjo renegado, para falar sobre preconceito racial e desigualdade social por meio da arte. Confira entrevista com o ator!
O caminho do ator Márcio Elizzio é de vitórias. Saído da favela do morro do Borel, no Rio de Janeiro, ele driblou preconceitos, se encontrou no Tablado e nos palcos do teatro e hoje é ator com passagem pela Record (a novela Amor sem igual terminou recentemente) e pela Globo, em que pode ser visto como o estudante de medicina Marquinhos da série Arcanjo renegado, produção do Globoplay que chega agora à televisão aberta.
Marquinhos também poderia ter a trajetória definida pelas conquistas. Negro, o rapaz realiza o sonho de estudar medicina e ainda atende o protagonista da série, Mikhael (Marcelo Mello Jr.) após ele ser espancado.
“Eu desconheço um amigo preto e da favela que faz medicina. É preciso desse espaço de igualdade onde todos possam estar”, afirma Márcio em entrevista ao Próximo Capítulo. Mas ele sabe que essa luta pela igualdade está longe de acabar: “Sempre será preciso progredir, ainda mais com assuntos tão importantes como o preconceito. Sempre será necessário o debate. Sabemos qual o caminho, e infelizmente não será da noite para o dia que isso irá acabar. Foram anos de exclusão. Porém, estamos no caminho, sim. E espero que um dia a gente viva num lugar de respeito e com mais amor.”
Com o olhar de quem viu de perto o que está interpretando na ficção, Márcio ressalta o diálogo entre a ficção e a triste realidade em Arcanjo renegado. “A gente vê todos os dias ‘Marquinhos’ morrerem nas favelas ー nas mãos do tráfico e da polícia ー e nada é feito, discutido. Pessoas estão morrendo por falta de governo dentro das comunidades. Não consigo entender como isso não tem um apelo, um movimento”, reflete.
Arcanjo renegado estreou em fevereiro do ano passado no Globoplay, com sucesso. Com produções inéditas paralisadas por causa da pandemia, a série dirigida por Heitor Dhalia migrou para a TV aberta, sendo exibida às quintas-feiras depois do Big brother Brasil.
“A TV alcança todos os públicos. No streaming, é um público limitado. Há muitas pessoas que não têm acesso a esses serviços ainda. E hoje, quando falo para alguém que fiz Arcanjo, a galera logo diz ‘ah, a série da Globo’”, compara Márcio.
Entrevista / Márcio Elizzio
Arcanjo renegado estreou no serviço de streaming Globoplay e agora está sendo exibida na Globo. Notou diferença na repercussão das duas oportunidades?
Sim. Tem uma diferença, já que a TV alcança todos os públicos. No streaming, é um público limitado. Há muitas pessoas que não têm acesso a esses serviços ainda. E hoje, quando falo para alguém que fiz Arcanjo, a galera logo diz “ah, a série da Globo”.
O que o Marquinhos tem a ensinar para o Brasil de hoje?
A gente vê todos os dias “Marquinhos” morrerem nas favelas ー nas mãos do tráfico e da polícia ー e nada é feito, discutido. Pessoas estão morrendo por falta de governo dentro das comunidades. Já deu. Não consigo entender como isso não tem um apelo, um movimento.
Arcanjo renegado foi seu primeiro trabalho na televisão. Como é se ver? Você é muito autocrítico?
É emocionante. Quando você consegue atingir seu objetivo, você fica realizado. Já fui mais crítico comigo em cena. Hoje tento ser menos e saber separar as coisas. Mas eu quero sempre dar o meu melhor.
Quais são seus planos para 2021? Você acaba de sair de Amor sem igual. Vem mais novela por aí?
Amor sem igual foi um projeto lindo. Um elenco bem focado e unido que fez essa história acontecer e dar certo. Fui muito feliz na Record. Agradeço ao Eduardo Pradella ( coordenador geral de elenco ) e ao Rudi Lagemann ( diretor da novela ) pela oportunidade. O Santiago foi um presente pra mim. Espero e desejo fazer outras novelas, ou até mesmo filmes nesse ano. Quero é trabalhar!
Você começou no teatro sendo aluno de Vilma Melo. Como era essa parceria entre vocês? A luta dela pelo reconhecimento do ator negro em papéis fora do estereótipo é uma inspiração?
Falar da Vilma é falar de amor, luta, talento e força. A Vilma foi importantíssima para meu crescimento dentro e fora da arte. Ela é de uma generosidade e lealdade tamanhas. Ela é uma referência para fugir desse lugar de que atores pretos só fazem os mesmos papéis! Ela é arte. Queremos e devemos ver atores pretos como protagonistas, lideranças e histórias contadas por pretos.
Termos um personagem como o Marquinhos, que é estudante de medicina, é uma vitória nesse sentido?
Claro! Eu, por exemplo, desconheço um amigo preto e da favela que faz medicina. É preciso desse espaço de igualdade onde todos possam estar.
É preciso avançar muito ainda. Mas estamos no caminho certo?
Sempre será preciso progredir, ainda mais com assuntos tão importantes como o preconceito. Sempre será necessário o debate. Sabemos qual o caminho, e infelizmente não será da noite para o dia que isso irá acabar. Foram anos de exclusão. Porém, estamos no caminho, sim. E espero que um dia a gente viva num lugar de respeito e com mais amor.