Definir uma geração em uma série ou filme é sempre tarefa das mais complicadas. São muitas as nuances e os grupos a serem observados e respeitados. O risco de se perder é grande. É mais fácil quando a proposta é mostrar um recorte dessa geração. É isso que, acertadamente, faz Genera+ion, série que estreou recentemente na HBO Max.
Em 16 episódios, o drama com deliciosas pitadas de comédia apresenta as questões de uma turma do ensino médio dos EUA. Mas o recorte não para por aí: a ideia é discutir a aceitação de questões ligadas à identidade, especialmente a sexual.
O olhar que temos em Genera+ion é próximo, o que se explica pelo fato de a série ter sido escrita por Zelda Barnz, de apenas 18 anos, e pelo pai dela, Daniel Barnz. A experiência deve ter sido uma catarse de autoconhecimento para a dupla. Para completar, uma das produtoras é Lena Dunham, atriz revelada em Girls que vem se especializando nesse tipo de produção à Malhação.
Como se estivéssemos dentro dos personagens, somos apresentados a questões permeadas, claro, pela exposição nas redes sociais. Chester (Justice Smith), um dos principais personagens, tem dificuldade em se apaixonar e acaba se envolvendo com o novo conselheiro da escola, Sam (Nathan Stewart-Jarrett), com o colega Nathan (Uly Schlesinger) e com Bo (Marwan Salama). A autoconfiança de Chester ao se afirmar gay e lutar para se expressar da maneira mais confortável para ele contagia. Por outro lado, Chester também traz uma discussão interessante sobre como os adultos tendem a subestimar os problemas dos jovens. São questões sérias que não merecem ser tratadas como uma gripezinha. Muitas vezes eles querem apenas sair da invisibilidade.
Além de Chester, os gêmeos Nathan e Naomi (Chloe East) têm bastante destaque na temporada. Inicialmente melhores amigos, a revelação de segredos acaba os tornando inimigos. A bissexualidade de Nathan é o maior deles. E o desafio do rapaz é ele mesmo aceitar essa bissexualidade. Depois, é que a mãe dele, Megan (Martha Plimpton, ótima em cena, especialmente no karaokê) o aceite, o que rende tanto cenas reflexivas como momentos hilários.
Aceitação também é o desejo de outros personagens de Genera+ion: Greta (Haley Sanchez), que está descobrindo ser lésbica e esconde isso da mãe, mas conta com o apoio da tia; Arianna (Nathanya Alexander), filha de dois pais gays que tenta esconder as inseguranças com piadas preconceituosas; e Riley (Chase Sui Wonders), fotógrafa que também está em dúvida quanto a liberdade de viver a própria sexualidade.
É curioso notar que a participação dos adultos é importante nessa discussão, seja na negação de Megan, seja no apoio dado a Greta pela tia, ou no incentivo que os pais dão a Arianna para que a menina assuma as lutas contra o racismo e contra o machismo que a permeiam.
Narrativa
Durante os primeiros 9 episódios de Genera+ion, começamos com uma narrativa em retrospectiva. A cada início de capítulo, acompanhamos uma cena do parto de Delilah (Lukita Maxwell) no banheiro para deficientes de um shopping até que o quebra-cabeças se complete. A menina nem sabia que estava grávida. A solução envolve os principais personagens jovens e tem um desfecho meio solto. Ali, temos uma primeira visão do que une esses meninos.
Isso também acontece no segundo episódio, quando a escola passa por um lockdown de três horas e muitos dos meninos têm que ficar presos em uma sala de aula sob o comando de Sam. Nesse momento temos a oportunidade de conhecer o que pensam vários personagens e o porquê eles pensam daquele modo. É como se fosse uma enorme terapia em grupo.
Essa sequência traz muito do que o texto de Genera+ion apresenta como um todo: humor irônico e ácido ao ponto de personagens cancelarem a escritora J. K. Rowling e o cantor Shaw Mendes por atitudes preconceituosas, polêmicas levadas às telas da vida real. Aliada às interpretações regulares, sem grandes destaques, essa é uma marca da série.
Genera+ion termina com um gancho para a segunda temporada, mostrando o quão fortes e sensíveis ao mesmo tempo podem ser os jovens de hoje em dia. Assim como essa geração, Genera+ion é múltipla. Você escolhe se divertir, cantarolar a deliciosa trilha sonora ou questionar o mundo a partir de reflexões.
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