feito_casa Cena da antologia Feito em casa, da Netflix

Com 17 curtas, Feito em casa mostra várias visões da pandemia pelo mundo

Publicado em Séries

Feito em casa reúne cineastas de quatro continentes em antologia sobre a pandemia de covid-19. Curtas foram filmados com as câmeras que os cineastas tinham em casa

A antologia Feito em casa (Homemade, se seu catálogo estiver em inglês), da Netflix, reúne 17 curta-metragens que, em comum, têm a pandemia como tema central. Além disso, cineastas como Paolo Sorrentino (A grande beleza) e Paolo Larraín (Jackie) fizeram as produções em casa, durante o isolamento, às vezes filmando com os próprios celulares, às vezes tendo a família como elenco.

O resultado são 17 filmetes que duram entre 4 minutos e 11 minutos e trazem uma diversidade de linguagem e de visões sobre o tema central. Feito em casa traz filmes de países, como EUA, México, Chile, Japão, Namíbia, Itália e França. O Brasil ficou de fora. Mesmo que todos tragam uma pegada documental, eles seguem por caminhos diferentes e trazem o lírico de Sebastián Lelio (diretor de Uma mulher fantástica), o surrealismo de Naomi Kawase (diretora de Hikari) e de Maggie Gyllenhall (indicada ao Oscar de melhor atriz por Coração louco), o cômico de Rungano Nyoni (diretora de Eu não sou uma bruxa) e o introspectivo de Ana Lily Amirpour (diretora de Garota sombria caminha pela noite). Curioso ver como as crianças aparecem nos vídeos ー ora enfrentando tudo como num mundo de fantasia, ora já enfadadas de tanta monotonia.

Variedade de linguagens é destaque de Feito em casa

Cena da antologia Feito em casa, da Netflix
Comédia de Pablo Larraín mostra como é possível um curta-metragem ir do lírico ao cômico com competência

Entre os destaques estão os filmes assinados por Sorrentino, Ladj Ly (diretor de arte de Os miseráveis), Pablo Larraín e Sebastián Schipper (diretor de Victoria). Sorrentino esbanja bom humor e técnica ao criar um romance entre a rainha Elizabeth II e o papa Francisco, representados por dois bonecos que transitam num cenário doméstico que simula palácios e igrejas. Espirituoso, o texto faz referências à série The crown e ao filme Dois papas e traz reflexões, como a felicidade ser é um estado de espírito.

Ladj Ly abre a antologia com uma visão literalmente panorâmica sobre uma França que está há 55 dias no confinamento. Munido de um drone, um adolescente escancara as diferenças sociais entre os que podem realmente cumprir o isolamento social no conforto e os que precisam trabalhar ou enfrentar filas, como os imigrantes, sem o mínimo distanciamento.

O chileno Pablo Larraín, além de assinar um dos curtas é o organizador da antologia. No filme dele, um senhor está numa casa de repouso e resolve fazer uma chamada de vídeo para uma namorada da juventude pela qual ainda se diz apaixonado. A narrativa conduzida pelo personagem quando ele encontra a ex-namorada nos leva à compaixão e até a sorrisos emocionados. Mas um reviravolta (sim… há espaço para reviravoltas em 11 minutos), o sentimentalismo dá lugar à uma deliciosa comédia.

Cena da antologia Feito em casa, da Netflix
Sebastian Schipper se desdobra em muitos no curta para a antologia

Sozinho no apartamento em Berlim, Sebastian Schipper faz um ótimo jogo de edição para contracenar com ele mesmo. Ou com os vários “eus” dele que vão surgindo na pandemia. Ele se entedia ao jogar a enésima partida de videogame e até compõe uma música, em que canta “há algo errado” várias vezes.

A série ainda traz curtas de Rachel Morrinson (diretora de fotografia de Pantera negra), Natalia Beristáin (diretora de Não quero dormir sozinha), David Mackenzie (diretor de Olhar do desejo), Nadine Labaki (diretora de Cafarnaum), Antonio Campos (diretor da série The sinner) e Johny Ma (diretor de Viver para cantar).

Feito em casa é, como toda antologia corre o risco de ser, um pouco irregular ー nem todos os curtas estão no mesmo nível. Mas apresenta uma diversidade interessante de formatos e visões. Boa série para passar o tempo e também para refletir.